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Publicado em 28 de junho de 2022 às 13:04
Com a obra-prima "Entre os Muros da Escola", Laurent Cantet retrata a rotina de uma instituição de ensino francesa explorando as relações interpessoais e profissionais que ocorrem dentro da sala de aula, tendo como contexto o núcleo social de cada aluno.
Tomando as devidas proporções e sob outra abordagem, "Adolescer", novo filme do cineasta capixaba Gustavo Moraes (premiado com "Baseado em Estórias Reais"), também avalia o processo educacional, tendo como base o tecido social de bairros periféricos, como Central Carapina, na Serra.
Em formato documental, Moraes faz um estudo de caso sobre a transformação vivida por jovens da periferia da Grande Vitória, que estudavam em uma escola desacreditada pela comunidade. Com o apoio da instituição, familiares e amigos, quatro estudantes encaram o desafio de entrar na vida adulta buscando um futuro melhor.
Ah sim: o centro educacional, no caso, é a Escola Estadual Jones José do Nascimento. A instituição é uma referência nacional de gestão, fruto de um processo transformador liderado pela então diretora Juliana Rohsner, atualmente no posto de secretária de Educação de Vitória. Um caso exemplar para um bairro com alto risco de vulnerabilidade social.
Produzido com apoio do Edital Conexão Juventudes, lançado pelo Instituto Unibanco, "Adolescer" tem como foco o olhar dos estudantes que vivenciaram essa transformação, debatendo os parâmetros atuais da educação pública e como a população pode se beneficiar dela.
De acordo com Gustavo Moraes, o documentário não apresenta soluções imediatas. "Ele ('Adolescer') identifica questões que devem ser refletidas pela sociedade como um todo", analisa.
"A ideia é que o filme possa servir de inspiração para outros tantos alunos que passam por experiência semelhante, e também para escolas de todo o país, que enfrentam os mesmíssimos desafios que a Jones José do Nascimento", pontua.
Sobre escolher uma instituição de ensino em Central Carapina, Moraes diz que o trabalho de Juliana Rohsner foi o ponto de partida. "Conhecemos a história da Jones através da Juliana Rohsner na produção de um outro projeto. Imediatamente ficamos interessados na história de uma escola que estava passando por maus bocados e seria fechada. Isso em um bairro onde a educação é ainda mais essencial para possibilitar novas perspectivas e futuros verdadeiramente transformadores", enfatiza.
"Em quatro anos de gestão, com a Juliana capitaneando esse processo, essa escola virou referência em educação. Conversamos com a educadora sobre a possibilidade de fazermos o documentário com o foco nos adolescentes e o quanto tudo isso representou para eles".
Perguntamos ao realizador se, como no filme, a abordagem social na educação é uma saída para um país com um alto índice de analfabetização e um número elevado de evasão escolar.
"Como falei anteriormente, o filme não dá soluções. Ele identifica questões que devem ser refletidas pela sociedade como um todo. A abordagem, que a diretora Juliana Rohsner e a equipe pedagógica tiveram, funcionou na Jones (escola Jones José do Nascimento). Mas somos 'muitos países' em um só Brasil. Discutimos pouco a 'etnoeducação'. Acredita-se que um modelo único possa servir para todos. Tenho dúvidas disso", questiona.
"Na Jones, entendo que o sucesso veio de uma colaboração entre as partes envolvidas: alunos, diretoria, professores, pais e comunidade. E chamo a atenção para a importância da comunidade nesta colaboração. Precisamos nos envolver mais. Se não trabalharmos juntos, não teremos uma educação de qualidade para todos", complementa.
Após a pré-estreia desta terça, em Vitória, "Adolescer" deve rodar o circuito de festivais. O primeiro deles já está confirmado: o tradicional Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, o Kinoforum, que acontece em agosto.
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