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Publicado em 24 de julho de 2024 às 09:58
"Deadpool & Wolverine" está mais para um enterro de uma Marvel do passado do que a celebração da chegada dos mutantes X-Men --o que é surpreendente, mesmo o filme tendo se vendido desde o início como o reencontro dos personagens vividos por Ryan Reynolds e Hugh Jackman.
O tom de sátira aos super-heróis domina a sequência, que tem por alvo a venda dos estúdios da 21st Century Fox à Disney --um tema recente e caro aos fãs pela aquisição dos mutantes. Mas o longa também atende a um saudosismo por um capítulo encerrado pela compra, indo além da piada e abraçando o passado.
O alarde da vez é a chegada de Deadpool ao universo dos Vingadores. O protagonista fantasia sobre o Thor a todo momento e, no começo, exuma o cadáver do Wolverine de "Logan", de 2017, para o usar como arma de combate.
Apesar dessas brincadeiras, "Deadpool & Wolverine" tem muito respeito pelo que veio antes. O filme de Shawn Levy segue o caminho de "Vingadores: Ultimato", recriando a máquina de nostalgia e de entrega de cenas esperadas. Mas o saudosismo da vez envolve as adaptações fracassadas dos personagens da editora feitas no passado pela Fox.
A comédia debochada dos dois "Deadpool" ganha contornos anabolizados aqui, enquanto a metalinguagem abusa do literal --boa parte da trama acontece em um lixão, para ficar no exemplo. Ele é quase uma página da Wikipedia sobre o noticiário das produções da Fox nos anos 2000, ridicularizando os projetos que nunca aconteceram.
Nesse ponto, a continuação evita o caminho de "Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa", que fazia algo parecido com o passado do aracnídeo nas telonas. O longa prefere o riso à passagem de bastão, de olho nas expectativas que formou e que pode atender.
Ao mesmo tempo, o longa tem carinho pelos seus alvos. Na história, Deadpool e Wolverine buscam uma forma de salvar as suas famílias.
O momento ajuda a explicar o porquê desse tom emocional. Terceiro filme da série, "Deadpool & Wolverine" é a quarta incursão de Reynolds e a décima de Jackman como os personagens do título. Os dois atores não se despedem como em "Logan", mas são o centro de uma celebração que diz respeito aos seus legados.
Por isso, a aventura aos poucos se transforma em uma maçaroca. Enquanto Deadpool metralha piadas e faz da quarta parede uma porta giratória, Levy aos poucos instaura um clima de ternura. O paradoxo é óbvio e até irônico, considerando que um dos vilões se chama Paradoxo --o que pode ser uma piada involuntária da história.
O limite entre a comemoração e a ridicularização fica para trás, tratado como um enigma inútil, e o ritmo doido exaure a comédia e o drama --a ação ainda deixa a desejar.
Para os estúdios Marvel, é ótimo, porque o processo vira uma forma de se livrar das comparações com as outras adaptações. O fã, também, deve se deliciar com cada velharia arremessada na tela.
O restante do público, enquanto isso, termina refém das comemorações alheias, que fazem tributo direto ao passado, incluindo as suas porcarias. Eis aí um problema da nostalgia --ela só faz sentido quando é boa.
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