Cena do trailer do filme ‘Boa Sorte, Leo Grande’. Crédito: Reprodução/Youtube/ParisFilmes
Em Boa Sorte, Leo Grande, que estreia nesta quinta-feira, 27, nos cinemas brasileiros, Nancy (Emma Thompson) é uma viúva de 55 anos que decide, uma vez na vida, ter a experiência do bom sexo. Para isso, ela contrata um profissional, Leo Grande (Daryl McCormack), com quem se encontra em um hotel de Londres.
O filme, dirigido por Sophie Hyde e escrito por Katy Brand, é uma raridade. Thompson acha mesmo que é revolucionário. "Vamos falar a verdade, o prazer feminino nunca esteve no topo da lista de afazeres nos sistemas presentes", contou a atriz em entrevista à Associated Press. "Nunca foi assim: ‘Ah, temos de cuidar disso’."
Para a diretora Sophie Hyde, que entrou no projeto quando Thompson já estava escalada para o papel principal, o longa era uma chance de explorar temas que lhe interessavam, como intimidade, poder, sexo e corpo.
"Carregamos muita vergonha nos nossos corpos. Fomos ensinados assim. Isso influencia nossas ideias de sexualidade e de sexo e limita nossa interação com outras pessoas", disse Hyde em entrevista ao Estadão.
Não à toa, o filme usa os espelhos para falar de Nancy e da sua relação com seu corpo, com sexo e com Leo. No começo, Nancy posa na frente do espelho e tenta ficar mais bonita, sabendo que Leo em breve vai bater à sua porta. No fim, sua relação com o espelho mudou completamente: agora, ela enxerga seu corpo pelo que ele é.
"Somos tão autoconscientes de nossa imagem, e tanto das nossas vidas é passado pensando no que os outros vão achar da nossa aparência", observou Hyde. "É importante que às vezes também reconheçamos que temos permissão de pensar na maneira como sentimos o que nossos corpos fazem. Parece óbvio, mas não é "
A interação entre pessoas e a construção da intimidade eram assuntos especialmente relevantes porque o convite chegou já com alguns meses de pandemia. "Estávamos separados uns dos outros, do mundo, por um bocado de tempo naquela altura, e a ideia de conexão e intimidade parecia muito poderosa para mim", lembrou a diretora.
Para falar de tudo isso, ela precisava de um ator que pudesse jogar de igual para igual com Emma Thompson, já que os dois personagens estão na tela 100% do tempo - o filme se passa exclusivamente durante seus encontros. McCormack, um irlandês de 29 anos mais conhecido por sua participação na série Peaky Blinders, reunia o talento como ator, o físico ideal, a generosidade de espírito com a pessoa a seu lado.
"Eu acho legal ele ser muito masculino e muito feminino ao mesmo tempo", avaliou Hyde. "Isso permitiu que trouxéssemos um tipo de homem para a tela que não vemos com muita frequência."
No caso de Emma Thompson, o que a cineasta mais admirou foi sua capacidade de virar a chave, indo do engraçado ao trágico em um instante. O humor era parte essencial da maneira como Hyde queria contar essa história. "Queria um ponto de entrada no filme que fosse bem-humorado", explicou. É uma maneira de falar de coisas sérias como sexo e corpo, que nos deixam desconfortáveis.
TABU
"Achamos muito difícil falar de sexo", afirmou Thompson à AP. "Sexo foi transformado em tabu e ao mesmo tempo foi industrializado e vendido para nós como lata de sardinha. O prazer é centrado no cérebro, no corpo e no coração. É importante porque não é apenas um centro. É muito raro que todos sejam estimulados da maneira certa ao mesmo tempo. Somos tão complicados, não é? E, no entanto, não estamos dispostos a reconhecer essa complicação porque ela torna tudo mais difícil. Mas na verdade, no fim, é ela que faz a vida ser mais interessante."
A atriz garantiu que nunca viu prazer como algo errado. "Dar-se prazer é fantástico", declarou à AP. "É extraordinário que alguém possa fazer isso. Se pensarmos na história da masturbação, é terrível o que foi feito pela fé cristã e outras. O fato de que o autoprazer, o prazer para o corpo, tenha se transformado em algo ilegítimo me parece problemático e um pecado, algo diabólico de fazer com os seres humanos. Porque nós fomos feitos para ter prazer, claramente."
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