Johnny Massaro é um dos protagonistas de "Os Primeiros Soldados". Crédito: Felipe Amarelo
Johnny Massaro é, inegavelmente, um dos atores mais talentosos de sua geração. Conquistando o país com o bad boy Nelsinho, que entrou em "Além da Ilusão" para balançar a vida de Isadora (Larissa Manoela), o artista - e sua grande atuação - é um dos motivos para assistir ao longa-metragem capixaba "Os Primeiros Soldados".
Novo e premiado trabalho de Rodrigo de Oliveira ("As Horas Vulgares"), o projeto será exibido pela primeira vez no Estado nesta terça-feira (21), a partir das 19h30, no Centro Cultural Sesc Glória (Centro de Vitória), na abertura do "28º Festival de Cinema de Vitória: Reencontro", com entrada franca.
Em um trabalho de caracterização minimalista, e total entrega física, Johnny Massaro emociona como o biólogo Suzano, um rapaz que retorna à Vitória após passar uma temporada em Paris.
O ano era 1983, com a capital capixaba se preparando para o réveillon. Em meio ao agito da cena LGBTQIAP+, Suzano começa a sentir mudanças em seu corpo, uma fragilidade física e emocional praticamente desconhecida, que minava sua esperança de viver.
Mesclando cenas de forte teor dramático a imagens semidocumentais, Oliveira imprime a seu filme um olhar sensível e atento ao início da pandemia do HIV no Brasil, e, consequentemente, no Espírito Santo. Um longa-metragem de passagens oníricas - como a metáfora de Massaro vestido de soldado prestes a perder a batalha - e vigorosa direção de atores, que comprova o amadurecimento de Rodrigo como realizador.
Voltando a Massaro, e sua irretocável atuação, em conversa com "HZ", o ator falou de sua preparação para encarnar um personagem que precisa aceitar a brevidade da vida e conviver com uma doença até então desconhecida.
"Sinto que a preparação começou em meu primeiro contato com o Rodrigo (de Oliveira, o diretor do filme), em 2016, no Rio, quando nos encontramos em minha casa e ele me presenteou com o livro 'Para o Amigo que não me Salvou a Vida', de Hervé Guibert. Anos depois, o contato se intensificou quando tivemos um mês de preparação em Vitória. Durante essas semanas, fizemos muitas leituras, ensaios, conversas e experimentos", explica.
"Também recorri a muitos registros sobre o começo da Aids e a alguns filmes, como 'Cazuza – O Tempo não para', 'Meu querido Companheiro' e 'Clube de Compras Dallas'. Conciliei esse processo com uma dieta de emagrecimento acompanhado pela nutricionista Larissa Almeida. Não tínhamos nenhum número específico como objetivo, apenas emagrecer o máximo e o mais rápido possível, mas com saúde. Apesar da aparência frágil, eu precisava estar disposto ao trabalho", enfatiza.
JORNADA
Em "Os Primeiros Soldados", Suzano encontra apoio em uma espécie de "pacto na luta pela vida" (ou seria à espera da morte?), com da artista transexual Rose (Renata Carvalho, também em grande atuação) e do videomaker Humberto (Vitor Camilo), igualmente doentes. Ainda no elenco, nomes de peso, como Clara Choveaux (que brilhou no francês "Tirésia", de Bertrand Bonello) e Higor Campagnaro, capixaba premiado em Gramado por sua atuação em "Um Animal Amarelo", de Felipe Bragança.
"É um filme de muita representatividade. Como Renata Carvalho pontou em um debate no Festival do Rio, essa representatividade salva vidas", explana, elogiando a capacidade de o realizador em manter o elenco unido, em uma mesma vibe criativa.
"Sinto que Rodrigo propôs um pacto. E teve calma, sensibilidade e técnica de fazer com que nós confiássemos. Ao mesmo tempo, ele também confiava na gente. Tudo isso pode parecer simples, mas, na verdade, é raro. Nisso, Renata e a Clara ensinam muito, porque tem a coragem de olhar olho no olho", declara, também ressaltando a presença de Renata Carvalho e Clara Choveaux.
LÁUREAS
"Os Primeiros Soldados" vem colecionando prêmios e elogios por onde passa. Foi premiado em várias mostras, como o Festival do Rio e a Mostra de Tiradentes, além de ter feito sua estreia internacional no tradicional Mannheim-Heidelberg International Film Festival, na Alemanha.
"Gosto muito de um termo alemão, 'zeitgeist', que significa 'espírito do tempo'. Além disso, acredito que as pessoas entendem quando algo é sincero. Talvez a recepção positiva (do longa-metragem) surja porque o filme é sincero, com o espírito do nosso tempo", profetiza, dizendo que amou a experiência de rodar no Espírito Santo.
"Era a paisagem do filme, a paisagem do Suzano e dos seus amores, então acabei desenvolvendo um interesse profundo pelas pessoas e por Vitória. Quero voltar, mas agora para assistir e celebrar o filme!", por falar em retorno, Johnny Massaro estará presente na sessão desta terça (21), ao lado de Clara Choveaux e Higor Campagnaro. O filme, por sua vez, já tem lançamento comercial confirmado para o Estado, em 7 de julho.
"Os Primeiros Soldados" relata uma época em que a Aids ainda estava em seus primeiros casos no país (e no mundo), no início dos anos 1980. Era um momento de preconceitos e estigmas. Hoje, quarenta anos depois, perguntamos a Massaro se ele acredita que a discriminação em relação aos soropositivos ainda se mantêm no mesmo patamar.
Johnny, em sua resposta, foi direto, sem receio de causar polêmica ou mesmo tomar partido, especialmente porque vivemos em um país polarizado politicamente. "Sim, inclusive na boca do atual presidente. Mas 2022 (com as eleições presidenciais) está aí e teremos a oportunidade de elevar o debate", conclui.
SERVIÇO
- “OS PRIMEIROS SOLDADOS” NO 28º FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA: REENCONTRO
- QUANDO: Terça-feira (21), a partir das 19h30
- ONDE: no Centro Cultural Sesc Glória. Av. Jerônimo Monteiro, 428 - Centro, Vitória
- INGRESSOS: Entrada franca, com os bilhetes podendo ser retirados uma hora antes da sessão
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