Publicado em 13 de março de 2022 às 08:00
Indicado a 7 Oscar, sendo uma das produções favoritas a levar a estatueta de Melhor Filme - em uma cerimônia que promete ser das mais disputadas e indefinidas dos últimos anos -, "Belfast" chega aos cinemas do Estado cercado de elogios e prêmios da crítica. Ao todo, a produção irlandesa já levou 40 prêmios internacionais e conseguiu mais de 230 indicações.
"Belfast é a minha história pessoal", conta o cineasta Kenneth Brannagh, em coletiva de lançamento do filme em Los Angeles, que contou com participação de "HZ". Além de dirigir, o realizador - ainda em cartaz no Brasil com "Morte no Nilo" - também escreveu o roteiro e atuou como um dos produtores.
"Belfast - a cidade, capital da Irlanda no Norte - é uma cidade de histórias, especialmente no final dos anos 1960, quando passou por um período político bastante tumultuado, às vezes violento", explica, detalhando suas experiências pessoais com o lugar.
“Eu e minha família fizemos parte daquela época. Par mim, (o filme) sempre foi a história da nossa época naquela cidade. Isto sempre vinha à tona quando pensava em escrever algo sobre a Irlanda”, revela o diretor.
O período tumultuado e violento a que se refere o diretor, marcou a história recente da Irlanda do Norte, mergulhada em um conflito político, social e religioso na busca por sua independência do Reino Unido (que até hoje não aconteceu).
"HZ", esperto, separou uns pontos para você entender as origens dos distúrbios políticos e sociais que são explanados no filme. Embarque nesse resgate histórico!
De um lado, estavam os protestantes. Eles controlavam o governo. Do outro lado, estava a minoria católica. Tudo começou durante uma campanha organizada pela Associação dos Direitos Humanos da Irlanda do Norte para pôr fim à discriminação contra a minoria católica.
Aconteceram vários confrontos violentos pelo país, especialmente na década de 1960. Um deles, no entanto, é apontado como o principal. Trata-se de uma marcha que aconteceu em 5 de outubro de 1968, na cidade de Derby.
13 pessoas foram mortas a tiros pelo exército britânico e outras 15 ficaram feridas. Cerca de 15 mil pessoas haviam se reunido para marchar contra a discriminação, em um bairro católico na cidade de Londonderry. O massacre no dia 30 de janeiro de 1972 ficou conhecido como "Domingo Sangrento", que chegou a ser mencionado na música "Sunday Bloody Sunday", do U2. O conflito (entre católicos e protestantes da Inglaterra e Irlanda do Norte) durou cerca de 30 anos, do final dos anos 1960 até 1998.
Os distúrbios chegaram ao fim com um acordo que determinou um cessar-fogo, a entrega das armas do Exército Republicano Irlandês (IRA), reformas na polícia e a retirada do Exército Britânico. Nas três décadas de violência, que ganhou contornos de guerra civil, cerca de 3,6 mil pessoas morreram, sendo 52% civis.
Você deve saber, mas não custa ressaltar. A Irlanda do Norte está localizada em uma ilha, próximo da Grã Bretanha, fazendo divisa com a República da Irlanda, que é independente e ocupa cerca de 75% do arquipélago. A outra parte, onde fica a Irlanda do Norte, está integrada ao Reino Unido, em que também estão presentes a Escócia, Inglaterra e País de Gales.
"Sempre foi uma história sobre um ponto na vida de todos, homem ou mulher, em que acontece a passagem para a vida adulta. Quando se perde a inocência e surgem novas responsabilidades, às vezes novas preocupações são descobertas. Procuramos - no filme - capturar o momento desta passagem. Neste caso, na Belfast de 1969, tudo foi acelerado por causa dos eventos à nossa volta", observa Kenneth Brannagh.
"O filme mostra um pequeno grupo familiar, bem definido e reconhecido, numa situação ameaçadora e estressante", continua o cineasta. "Eles estão às voltas com grandes decisões na vida. Não é um filme épico, no sentido de uma produção histórica, ou mesmo biográfico, mas falamos da vida das pessoas envolvidas. São decisões enormes, titânicas", afirma ele.
O cineasta revela que teve inspiração nos filmes de faroeste para escrever o roteiro. "A estória é contada através dos olhos de um menino de 9, 10 anos. É um garoto que já estava assistindo televisão, muitos filmes. E ele já começava a filtrar experiências com outros encontros e histórias imaginárias. Uma das coisas que nós exploramos foram quantos faroestes eram exibidos na TV na época e como Belfast poderia parecer uma cidade inserida no universo do western. Quando escrevi o roteiro, realmente, imaginei que estava escrevendo um faroeste. Um que foi construído na memória do Buddy, um garoto de 10 anos", complementa Kenneth Brannagh.
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