Mamonas Assassinas - O Filme é biografia afetiva feita para agradar fãs

Longa-metragem estreia hoje no Espírito Santo contando a trajetória da banda que durou apenas oito meses e virou fenômeno, chegando a vender mais de 3 milhões de discos na década de 1990

Publicado em 28/12/2023 às 14h34
"Mamonas Assassinas - O Filme" estreia nesta quinta (28) nos cinemas do Estado. Crédito: Imagem Filmes

"Mamonas Assassinas - O Filme" estreia nesta quinta (28) nos cinemas do Estado. Crédito: Imagem Filmes

Você pode não curtir o som deles (algumas músicas eram de gosto duvidoso), mas o fenômeno Mamonas Assassinas foi um furacão sem precedentes na cultura pop nacional nos anos 1990. Com apenas oito meses de trajetória artística, os meninos anárquicos de Guarulhos/SP conquistaram o país com faixas como "Pelados em Santos" e "Robocop Gay", venderam cerca de 3 milhões de discos (números impensáveis em um curto período), e ditaram o comportamento de uma juventude carente de ídolos.

Na vibe de afagar fãs nostálgicos e, ao mesmo tempo, alimentar novos seguidores que conhecem o grupo apenas pelas faixas nas plataformas digitais, ou pelas histórias engraçadas que os pais contam, "Mamonas Assassinas - O Filme" estreia nesta quinta (28) em mais de 800 salas de cinema do Brasil, incluindo o Espírito Santo, com cheiro de sucesso de bilheteria.

Para ressaltar esse fenômeno midiático, um monitoramento feito no Spotify pela produção do filme apontou que a banda ainda é ouvida diariamente por milhões de pessoas e não apenas no Brasil, mas em 33 países. Para abastecer esse público faminto por novidades, "Mamonas Assassinas - O Filme" torna-se necessário. 

Vamos à pergunta que você está querendo saber desde o início do texto: o filme, afinal, é bom? Digamos que fica em meio-termo. A produção de Edson Spinello conta com roteiro fragmentado, traz esquetes que remetem a uma série televisiva, e atuações caricatas, bem acima do tom ("Mamonas eram caricatos mesmo e de forma proposital, crítico chato!", alguém pode estar pensando ao ler essa colocação) e graves falhas na direção de atores.

Mas, sempre tem um mas, é um filme feito com afeto, escandalosamente (no bom sentido) emotivo e criado para agradar fãs do grupo. A produção conta com excelente reconstituição de época, fruto de um trabalho de pesquisa bem-feito, especialmente do figurinista Heitor Taddeo Ramaglio. Familiares dos artistas deram total apoio ao projeto repassando informações importantes, como cedendo figurinos usados nos shows. 

A produção foi cuidadosa com a trilha sonora. Todos os fonogramas originais dos Mamonas Assassinas foram regravados para fazer uma mixagem. Não há utilização de playback ao longo de todo o filme, por exemplo.  Mais um ponto que deve agradar aos fãs.

FENÔMENO MUSICAL QUE CONQUISTOU O BRASIL

O longa é bem fiel à história da banda. Embora os Mamonas tenham feito sucesso em 1995, quando assinaram contrato com a gravadora EMI, a trajetória é muito mais longeva, tendo início no final dos anos 1980 com a formação do Utopia, grupo de rock que tocava em pequenas festas de Guarulhos.

Quando Bento Hinoto (guitarrista), Sérgio Reoli (baterista), Júlio Rasec (tecladista) e Samuel Reoli (baixista) conheceram o bem-humorado Dinho, que, mais tarde, se tornaria o vocalista e criador de algumas das pérolas musicais do grupo, bastava apenas o apoio de pessoas fortes na indústria fonográfica, como Rick Bonadio e Rodrigo Castanho, para a magia acontecer. O projeto mostra todo esse caminho de forma didática, sem muitos rompantes narrativos.

A cinebiografia realça os percalços da banda durante cinco anos e os tais oito meses meteóricos de sucesso, interrompidos pelo acidente aéreo em São Paulo, em 2 de março de 1996 (acertadamente apenas citado no projeto). Uma curiosidade: mesmo com pouco tempo de trajetória, os paulistas chegaram a fazer um show em Vitória, no Ginásio do Álvares Cabral, em 1º de novembro de 1995. Abaixo, confira uma foto de Dinho recebendo o carinho dos fãs.

Dinho, vocalista do Mamonas Assassinas, recebendo os fãs antes do show no Álvares Cabral, em Vitória, em novembro de 1995.

Dinho, vocalista do Mamonas Assassinas, recebendo os fãs antes do show no Álvares Cabral, em Vitória, em novembro de 1995. . Crédito: Helô Sant'Ana/Acervo A Gazeta

No longa, Dinho é interpretado por Ruy Brissac, que viveu o cantor em musical sobre a banda. O quinteto conta ainda com Beto Hinoto, interpretando seu tio Bento, guitarrista; Rhener Freitas interpreta o baterista Sérgio Reoli; Adriano Tunes, que também participou do musical sobre a banda, faz o baixista Samuel Reoli; e Robson Lima interpreta Júlio Rasec, responsável pelo teclado, percussão e vocais do grupo.

BATE-PAPO COM ROBSON LIMA

Por falar em Robson Lima, o ator, conhecido por ser um excelente cantor - tanto que brilhou em musicais como "Grease - Nos Tempos da Brilhantina" -, conversou com HZ para falar sobre a repercussão do projeto e a preparação para viver Samuel, figura chave do Mamonas e que apoiava Dinho nas composições.

"Samuel era tipo paizão da galera. Entrou na Utopia para ajudar Dinho no backing vocals. Era profissional multifacetado e de pluralidade", enfatiza Robson, dizendo que, para compor o papel, teve total acesso aos arquivos de entrevistas do cantor. "Contei com total apoio da família, especialmente da irmã, Paula Rasec. Ela me fez perceber o enorme coração que ele tinha", aponta.

Robson Lima vive Júlio Rasec, em Mamonas Assassinas - O Filme

Robson Lima vive Júlio Rasec, em Mamonas Assassinas - O Filme. Crédito: Reprodução

"Paula confessou que o humor do Mamonas ajudou Samuel a perder um pouco da sua timidez, um lado que muitos fãs não conhecia", afirmou o rapaz, que, aos 29 anos, relata ter conhecido o grupo paulista apenas pelas plataformas digitais.

"Meu conhecimento do Mamonas veio por osmose. Tenho um irmão mais velho que participava de praticamente todos os shows e ouvia as músicas o dia inteiro. Esse fascínio das pessoas explica o sucesso que eles fizeram e essa curiosidade que chega até hoje".

Questionado se o Mamonas faria sucesso atualmente, com músicas que hoje seriam consideradas politicamente incorretas por boa parte da sociedade, Robson Lima responde de forma diplomática.

"Eles eram extremamente sensíveis e versáteis, especialmente para explorar os problemas e as dores da sociedade. Com sua arte, reproduziam a vida dura do nordestino em São Paulo, por exemplo. Não creio que seriam cancelados atualmente. Eles saberiam fazer um humor crítico sem cair no lugar-comum ou no apelo do humor agressivo. Além disso, contariam com o apoio da internet. Dinho é um meme ambulante (risos)", enfatiza, terminando o bate-papo de maneira poética, se assim podemos definir.

"Vejo o fenômeno Mamonas Assassinas como uma herança, que passou e continua passando de pai para filho. É como um retrato dos anos 1990, uma espécie de libertação de uma década onde muitas pessoas eram sérias e sisudas demais. Essa irreverência chegou até os tempos atuais", complementa.

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