"Mamonas Assassinas - O Filme" estreia nesta quinta (28) nos cinemas do Estado. Crédito: Imagem Filmes
Você pode não curtir o som deles (algumas músicas eram de gosto duvidoso), mas o fenômeno Mamonas Assassinas foi um furacão sem precedentes na cultura pop nacional nos anos 1990. Com apenas oito meses de trajetória artística, os meninos anárquicos de Guarulhos/SP conquistaram o país com faixas como "Pelados em Santos" e "Robocop Gay", venderam cerca de 3 milhões de discos (números impensáveis em um curto período), e ditaram o comportamento de uma juventude carente de ídolos.
Na vibe de afagar fãs nostálgicos e, ao mesmo tempo, alimentar novos seguidores que conhecem o grupo apenas pelas faixas nas plataformas digitais, ou pelas histórias engraçadas que os pais contam, "Mamonas Assassinas - O Filme" estreia nesta quinta (28) em mais de 800 salas de cinema do Brasil, incluindo o Espírito Santo, com cheiro de sucesso de bilheteria.
Para ressaltar esse fenômeno midiático, um monitoramento feito no Spotify pela produção do filme apontou que a banda ainda é ouvida diariamente por milhões de pessoas e não apenas no Brasil, mas em 33 países. Para abastecer esse público faminto por novidades, "Mamonas Assassinas - O Filme" torna-se necessário.
Vamos à pergunta que você está querendo saber desde o início do texto: o filme, afinal, é bom? Digamos que fica em meio-termo. A produção de Edson Spinello conta com roteiro fragmentado, traz esquetes que remetem a uma série televisiva, e atuações caricatas, bem acima do tom ("Mamonas eram caricatos mesmo e de forma proposital, crítico chato!", alguém pode estar pensando ao ler essa colocação) e graves falhas na direção de atores.
Mas, sempre tem um mas, é um filme feito com afeto, escandalosamente (no bom sentido) emotivo e criado para agradar fãs do grupo. A produção conta com excelente reconstituição de época, fruto de um trabalho de pesquisa bem-feito, especialmente do figurinista Heitor Taddeo Ramaglio. Familiares dos artistas deram total apoio ao projeto repassando informações importantes, como cedendo figurinos usados nos shows.
A produção foi cuidadosa com a trilha sonora. Todos os fonogramas originais dos Mamonas Assassinas foram regravados para fazer uma mixagem. Não há utilização de playback ao longo de todo o filme, por exemplo. Mais um ponto que deve agradar aos fãs.
FENÔMENO MUSICAL QUE CONQUISTOU O BRASIL
O longa é bem fiel à história da banda. Embora os Mamonas tenham feito sucesso em 1995, quando assinaram contrato com a gravadora EMI, a trajetória é muito mais longeva, tendo início no final dos anos 1980 com a formação do Utopia, grupo de rock que tocava em pequenas festas de Guarulhos.
Quando Bento Hinoto (guitarrista), Sérgio Reoli (baterista), Júlio Rasec (tecladista) e Samuel Reoli (baixista) conheceram o bem-humorado Dinho, que, mais tarde, se tornaria o vocalista e criador de algumas das pérolas musicais do grupo, bastava apenas o apoio de pessoas fortes na indústria fonográfica, como Rick Bonadio e Rodrigo Castanho, para a magia acontecer. O projeto mostra todo esse caminho de forma didática, sem muitos rompantes narrativos.
A cinebiografia realça os percalços da banda durante cinco anos e os tais oito meses meteóricos de sucesso, interrompidos pelo acidente aéreo em São Paulo, em 2 de março de 1996 (acertadamente apenas citado no projeto). Uma curiosidade: mesmo com pouco tempo de trajetória, os paulistas chegaram a fazer um show em Vitória, no Ginásio do Álvares Cabral, em 1º de novembro de 1995. Abaixo, confira uma foto de Dinho recebendo o carinho dos fãs.
Dinho, vocalista do Mamonas Assassinas, recebendo os fãs antes do show no Álvares Cabral, em Vitória, em novembro de 1995. . Crédito: Helô Sant'Ana/Acervo A Gazeta
No longa, Dinho é interpretado por Ruy Brissac, que viveu o cantor em musical sobre a banda. O quinteto conta ainda com Beto Hinoto, interpretando seu tio Bento, guitarrista; Rhener Freitas interpreta o baterista Sérgio Reoli; Adriano Tunes, que também participou do musical sobre a banda, faz o baixista Samuel Reoli; e Robson Lima interpreta Júlio Rasec, responsável pelo teclado, percussão e vocais do grupo.
BATE-PAPO COM ROBSON LIMA
Por falar em Robson Lima, o ator, conhecido por ser um excelente cantor - tanto que brilhou em musicais como "Grease - Nos Tempos da Brilhantina" -, conversou com HZ para falar sobre a repercussão do projeto e a preparação para viver Samuel, figura chave do Mamonas e que apoiava Dinho nas composições.
"Samuel era tipo paizão da galera. Entrou na Utopia para ajudar Dinho no backing vocals. Era profissional multifacetado e de pluralidade", enfatiza Robson, dizendo que, para compor o papel, teve total acesso aos arquivos de entrevistas do cantor. "Contei com total apoio da família, especialmente da irmã, Paula Rasec. Ela me fez perceber o enorme coração que ele tinha", aponta.
Robson Lima vive Júlio Rasec, em Mamonas Assassinas - O Filme. Crédito: Reprodução
"Paula confessou que o humor do Mamonas ajudou Samuel a perder um pouco da sua timidez, um lado que muitos fãs não conhecia", afirmou o rapaz, que, aos 29 anos, relata ter conhecido o grupo paulista apenas pelas plataformas digitais.
"Meu conhecimento do Mamonas veio por osmose. Tenho um irmão mais velho que participava de praticamente todos os shows e ouvia as músicas o dia inteiro. Esse fascínio das pessoas explica o sucesso que eles fizeram e essa curiosidade que chega até hoje".
Questionado se o Mamonas faria sucesso atualmente, com músicas que hoje seriam consideradas politicamente incorretas por boa parte da sociedade, Robson Lima responde de forma diplomática.
"Eles eram extremamente sensíveis e versáteis, especialmente para explorar os problemas e as dores da sociedade. Com sua arte, reproduziam a vida dura do nordestino em São Paulo, por exemplo. Não creio que seriam cancelados atualmente. Eles saberiam fazer um humor crítico sem cair no lugar-comum ou no apelo do humor agressivo. Além disso, contariam com o apoio da internet. Dinho é um meme ambulante (risos)", enfatiza, terminando o bate-papo de maneira poética, se assim podemos definir.
"Vejo o fenômeno Mamonas Assassinas como uma herança, que passou e continua passando de pai para filho. É como um retrato dos anos 1990, uma espécie de libertação de uma década onde muitas pessoas eram sérias e sisudas demais. Essa irreverência chegou até os tempos atuais", complementa.
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