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Publicado em 11 de outubro de 2024 às 14:11
A estreia de "O Poço 2" na Netflix trouxe uma nova perspectiva ao aclamado suspense distópico que conquistou o público durante a pandemia em 2020. Dirigido novamente por Galder Gaztelu-Urrutia, o filme retoma a narrativa da prisão vertical, desta vez explorando um pouco mais a origem do sistema que regula a vida dos prisioneiros. Se no primeiro filme o foco estava na crítica ao capitalismo e na desigualdade social, a sequência mergulha em temas de solidariedade, autoritarismo e religião.
A narrativa segue Perempuán (Milena Smit) e Zamiatin (Hovik Keuchkerian), que enfrentam regras impostas por um novo grupo que surge na trama, onde cada prisioneiro deve comer apenas o que foi pré-estabelecido para ele, caso contrário sofrerá graves consequências. "O Poço 2" introduz a Revolução Solidária, um sistema que aparentemente busca impor justiça. Os Leais, um grupo que segue as regras da revolução, e os Ungidos, seus líderes autoritários, estabelecem uma nova ordem dentro da prisão.
A figura do Maestro, líder messiânico que criou o sistema de distribuição justa, aparece como um personagem que traz um discurso de equidade e solidariedade, mas que também justifica a violência como um meio de manter a ordem. Sua mensagem é desvirtuada pelos Ungidos, que utilizam métodos bastante comuns em teocracias para punir quem não segue as leis.
Assim como seu antecessor, "O Poço 2" impressiona pela fotografia e pela construção de um ambiente claustrofóbico e opressor. A direção de Gaztelu-Urrutia continua eficaz em criar tensão e desconforto, forçando o espectador a refletir sobre as condições extremas enfrentadas pelos personagens. As interpretações dos atores também são pontos fortes no filme.
A história, cheia de reviravoltas e cenas impactantes, mantém a audiência cativa, oferecendo um final surpreendente. Alerta spoiler: na segunda parte do filme a gente percebe que, na verdade, o "Poço 2" não é uma continuação do primeiro, mas sim um prelúdio, pois trás de volta personagens que morreram no primeiro filme, como Goreng (Iván Massagué) e Imoguiri (Antonia San Juan).
A presença desses personagens indica que estamos testemunhando os eventos que levaram à criação do sistema do poço como visto no primeiro filme. Este prelúdio oferece uma nova compreensão sobre a evolução das regras dentro da prisão e a luta contínua entre opressão e resistência.
A tensão entre a sobrevivência individual e a responsabilidade coletiva é um tema central, refletido nas ações de Perempuán e Zamiatin, que tentam navegar pelas novas regras enquanto enfrentam dilemas morais e éticos. O filme deixa muitas perguntas sem resposta, como qual a origem e o propósito da prisão, permitindo que o público preencha essas lacunas com suas próprias interpretações e mantendo o interesse na franquia. A narrativa não é óbvia e isso é um ponto muito positivo.
As cenas pós-créditos de "O Poço 2" desempenham um papel crucial na ligação entre os dois filmes, além de deixarem o público com mais perguntas e expectativas para futuras explorações do universo da franquia. ALERTA SPOILER: nas últimas cenas vemos vários habitantes do poço descendo com crianças, simbolizando uma tentativa de manter uma nova geração dentro desse sistema opressivo. Em um momento particularmente perturbador, uma das crianças desce acompanhada apenas por uma pessoa morta.
A conexão direta com o primeiro filme é estabelecida quando vemos Goreng (Iván Massagué) permitindo que a filha de Miharu suba de volta pelo poço. Esta cena liga diretamente ao final do primeiro filme, onde Goreng acredita que a criança pode ser a mensagem para aqueles que estão fora da prisão.
Logo após essa cena, vemos Goreng olhando para trás e avistando Perempuán (Milena Smit) se aproximando. Esse encontro revela uma conexão anterior entre os dois personagens, sugerindo que eles já se conheciam antes de entrarem no poço. A revelação de que Perempuán é uma artista plástica e que Goreng escolheu entrar no poço com o livro "Dom Quixote" adiciona uma camada de profundidade aos seus personagens, indicando que ambos poderiam ser namorados e que foram motivados a entrar no poço devido a mesma perda.
A escolha de deixar questões em aberto é inteligente, pois permite que a franquia continue a explorar novos temas e narrativas em filmes futuros. Esta estratégia narrativa garante que os espectadores permaneçam engajados e curiosos sobre o futuro do universo de "O Poço", ansiosos para descobrir mais sobre os segredos sombrios desta prisão vertical. Em uma escala de 5 estrelas, “O Poço 2” merece 4.
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