Cena do trailer do filme "Ataque dos Cães". Crédito: Reprodução/Youtube/Netflix Brasil
Aos poucos, o cinema parece que vai voltando ao normal. Um novo normal, entendamos, com muita Netflix dando as cartas e competindo com os produtores tradicionais. Mas Hollywood não corre o risco, este ano, de premiar como melhor filme uma produção modesta como "Nomadland" no ano passado.
As 12 indicações de "Ataque dos Cães" são um sinal claro da importância que a produção para streaming já adquiriu. Só não entrou em melhor animação ou documentário porque não era mesmo viável. No mais, usou e abusou, se dando ao luxo até mesmo de ver indicados dois atores para melhor coadjuvante.
Não quer dizer que ganhará, mas já demonstrou ter estima muito maior na Academia do que "Não Olhe para Cima", também apresentado ao mundo pela Netflix e que concorre a quatro prêmios. Uma vantagem óbvia de "Ataque" é ter direção de Jane Campion, uma mulher. Mas pode até isso pesar contra, mesmo com o prestígio da diretora --no ano passado Chloé Zhao levou a estatueta de melhor direção.
Como de hábito, os negros seguem sub-representados. Denzel Washington concorre como melhor ator, mas é pouco. Não houve filmes de diretores negros e sobre negros que se sobressaíssem demais no ano passado. O faroeste "Vingança & Castigo", de Jeymes Samuel, é bem original, mas não comoveu a Academia.
Outra tendência que parece se consolidar é a de inserir filmes "internacionais" --isto é, falados em outra língua que não o inglês-- na categoria de melhor filme. O mesmo aconteceu na edição de 2020, quando o sul-coreano "Parasita" ganhou como melhor filme e Bong Joon-ho como melhor diretor.
Este ano, o japonês "Drive My Car" entrou na lista, assim como seu diretor, Ryusuke Hamaguchi. "Drive My Car" foi severamente injustiçado em Cannes no ano passado, quando ficou apenas com o prêmio de melhor roteiro --a que concorre no Oscar também, diga-se de passagem. Seria uma bela ocasião para o Oscar passar uma rasteira no festival francês, que elegeu "Titane" para a Palma de Ouro.
Nesse caso, Cannes ficaria com um filme de gênero --terror, no caso--, enquanto o Oscar daria um prêmio maior para uma produção dramática --e não do gênero "filme para o Oscar". De todo modo, não se pode esquecer que o setor "filme espetáculo" --de ficção científica aqui-- está fortemente representado por "Duna".
Já a internacionalização, a se confirmar, seria uma real novidade no Oscar, a mostrar que Hollywood deixa de priorizar os produtos locais --em língua inglesa-- e se abre ao mundo. A contrapartida seria a repetição do que se deu em 2020, quando "Parasita" acumulou os prêmios de melhor filme e melhor filme internacional.
A categoria está interessante, trazendo, entre outros, "A Felicidade das Pequenas Coisas", um filme do Butão (que é grudado na China, mas ainda não tem tradição cinematográfica internacional), mas a Europa tem melhores chances, caso "Drive My Car" não vença na categoria. Três chances --com o dinamarquês "Flee", o norueguês "A Pior Pessoa do Mundo" e o italiano "A Mão de Deus". Este último, dirigido por Paolo Sorrentino, também é, por sinal, distribuído pela Netflix.
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