Repórter / aline.almeida@redegazeta.com.br
Publicado em 5 de março de 2025 às 17:37
A 97ª edição do Oscar foi marcada por uma das maiores surpresas dos últimos anos. 'Anora', dirigido por Sean Baker, levou a estatueta de Melhor Filme, desbancando favoritos da crítica. Além disso, a protagonista do longa, Mikey Madison, venceu Melhor Atriz, derrotando nomes consagrados como Demi Moore e Fernanda Torres.
A vitória de 'Anora' não foi apenas inesperada, mas também revela muito sobre os padrões da Academia. O filme conta a história de Ani, uma jovem stripper de Nova York que se casa inesperadamente com o filho de um oligarca russo, desencadeando um embate cultural e financeiro. A obra mistura realismo social e humor ácido para abordar temas como classe, gênero e identidade, trazendo um olhar contemporâneo sobre as relações humanas e o impacto do capitalismo.
A Academia, consciente ou não, escolheu premiar um conto de fadas perverso atravessado por questões políticas. 'Anora' funciona como uma crítica contundente ao sistema que explora o feminino e à luta de classes, mas, ao mesmo tempo, reforça certos padrões do próprio Oscar. O fato de uma jovem atriz em um papel fortemente sexualizado ter vencido nomes experientes como Demi Moore e Fernanda Torres levanta um questionamento: a Academia realmente está premiando a melhor atuação ou apenas reafirmando seu histórico de favorecimento a atrizes jovens em detrimento das veteranas?
A atuação de Mikey Madison, embora competente, não parecia ser a mais impactante entre as indicadas. Demi Moore, que recebeu aclamação da crítica por seu papel em 'A Substância', e Fernanda Torres, uma das grandes representantes do cinema internacional nesta edição, eram apostas mais consistentes para a estatueta. A vitória de Madison reforça uma tendência recorrente do Oscar de valorizar juventude e papéis que exploram a hipersexualização feminina, deixando de lado a experiência e o legado de atrizes mais experientes.
A escolha de 'Anora' como Melhor Filme também divide opiniões. O longa tem um roteiro interessante e bem estruturado, com cenas surpreendentes e um equilíbrio entre comédia, romance e drama. No entanto, algumas sequências são excessivamente longas e barulhentas, especialmente o momento em que os capangas prendem Ani e vão atrás de Ivan, o que poderia ter sido resolvido de forma mais objetiva. Embora seja um filme válido e com mensagens relevantes, sua vitória sobre concorrentes mais sólidos gera questionamentos sobre os critérios da Academia.
O Oscar 2025, assim como outras edições recentes, deixa claro que o prêmio ainda precisa avançar na valorização da diversidade. Enquanto isso não acontece, seguiremos vendo injustiças e padrões repetidos, ainda que sob novas roupagens. 'Anora' pode ter levado a estatueta, mas o debate sobre as escolhas da Academia está longe de terminar.
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