"CODA - No Ritmo do Coração" venceu o Oscar de Melhor Filme . Crédito: Diamond Filmes
"Pequeno", independente, terno, familiar, inclusivo, representativo e vencedor... São vários adjetivos que podem qualificar "CODA - No Ritmo do Coração", projeto indie e com poucas aspirações comerciais quando foi lançado nos Estados Unidos - em janeiro de 2021 -, mas que roubou a cena do Oscar 2022 na noite de domingo (27), levando as estatuetas de Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Troy Kotsur) e Roteiro Adaptado.
Seu lançamento nos cinemas brasileiros, em setembro do ano passado, também foi discreto, em poucas salas e sem muito alarde por parte da crítica e público. Mas, para alívio dos cinéfilos, o drama de Siân Heder já está disponível em streaming, via Amazon Prime Vídeo. Sua distribuidora no país, a Diamond Filmes, informou a "HZ" que vai relançá-lo nas salas de exibição nesta quinta (31), mas ainda não há previsão se a película retornará em cartaz no Espírito Santo.
Voltando a "CODA", o filme foi ganhando robustez após vencer o Festival de Sundance, mais importante mostra de cinema dos Estados Unidos e que revelou para o mundo obras como "Minari" (2020), "Whiplash" (2014) e "Preciosa" (2009), que também saíram do evento para vencer o Oscar em várias categorias.
"No Ritmo do Coração", ao contrário do que muitos pensam, não era a "zebra" da festa. Pelo contrário. O filme havia vencido os prêmios dos Sindicatos do Atores e Produtores, que presentam mais de 80% dos votantes da Academia de Hollywood e considerados os mais importantes termômetros do Oscar. Sua consagração, de certa forma, já era esperada. Um voto conservador de muitos membros, mas certeiro.
'No Ritmo do Coração' ganha o Oscar de melhor filme. Crédito: Reuters/Folhapress
Comprado pela Apple por U$ 25 milhões - a maior transação da história do festival - o filme chegou a Apple TV + nos Estados Unidos em agosto, passando, antes, por um pequeno circuito de salas de exibição (uma exigência da Academia de Hollywood).
Mesmo assim, nada tira outro feito de "CODA": tornou-se o primeiro filme de uma plataforma de streaming a vencer o Oscar, o que pode ditar normas para futuras edições da cerimônia, especialmente porque o Oscar nunca "esqueceu" que é uma festa da indústria do cinema norte-americano, o que inclui seu imenso complexo exibidor, que chega a render cerca de US$ 11 bilhões por ano. Seriam a chegada de novos ventos para a aceitação de outro formato de distribuição e de consumo do audiovisual, que não seja a sala escura?
SEGREDO DO SUCESSO
Mas, afinal, do que se trata o filme de Siân Heder, uma das responsáveis pelo sucesso de séries como "Glow" e "Orange Is the New Black", atuando como diretora e roteirista? Remake do francês "A Família Belier" (um filme superior, disponível na Globoplay e no Telecine), "CODA" é um drama agridoce, que conta os dilemas de uma família com deficiência auditiva que comanda um negócio de pesca.
Ruby (Emilia Jones), única pessoa do clã que escuta, ajuda os pais e o irmão com as atividades do dia a dia. Com o tempo, a garota percebe que tem grande paixão por cantar e seu professor (vivido pelo mexicano Eugenio Derbez) a encoraja a entrar em uma escola de música. Mas, pinta uma dúvida: seguir seu sonho ou continuar ajudando a família, sendo praticamente sua única voz perante um mundo que não se mostra capaz de compreendê-los e aceitá-los?
Nem é preciso dizer que inclusão e representatividade norteiam o drama vencedor do Oscar. Fora Emilia Jones, todo o elenco da família é composto por deficientes auditivos, o que torna a história mais crível.
Troy Kotsur (que vive o patriarca) foi o segundo ator surdo na história a ganhar uma estatueta. Curiosamente, a primeira, Marlee Matlin, também atua no filme. Ela vive com doçura uma mãe que encoraja Ruby a seguir seus sonhos. Matlin, para quem não lembra, levou o Oscar de Melhor Atriz em 1987, por sua performance em "Filhos do Silêncio", pequena obra-prima de Randa Haines disponível para aluguel na Apple TV +.
Doçura? Esse talvez seja um dos problemas de "CODA". Mesmo com toda a positividade do projeto (grande parte da equipe técnica também era composta por deficientes auditivos) e pela boa sacada em difundir a linguagem de Libras na sociedade americana, Sian Heder compôs um filme "inofensivo", um tanto superficial, que padece de densidade dramática, coisa que muitos de seus adversários no Oscar, como "Ataque dos Cães" - o grande derrotado da cerimônia - e "Belfast", tinham de sobra. Certamente, havia escolhas melhores para premiar.
"No Ritmo do Coração" pode lhe conquistar em um primeiro momento, mas tem grandes chances de se tornar esquecível, virando um clássico da "Sessão da Tarde", o tipo de produção que a Rede Globo costuma repetir várias vezes por ano em sua tradicional sessão vespertina. Se isso é bom ou ruim, só o tempo poderá responder.
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