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Séries asiáticas, como 'Uma Advogada Extraordinária', cativam público brasileiro

Conhecidas como doramas, produções reúnem cada vez mais fãs nas plataformas de streaming do País

Publicado em 22 de outubro de 2022 às 10:06

K-drama
K-drama "Uma Advogada Extraordinária" Crédito: Instagram/ @eunbining0904

Quem ainda não assistiu a uma série asiática vai, cedo ou tarde, topar com uma delas. Sobretudo quem costuma navegar pelas plataformas de streaming naquele famoso "o que eu posso ver hoje?".

Conhecidas de maneira geral como doramas, as séries contemplam conteúdos produzidos no Japão, Coreia do Sul e China. É preciso pontuar: dorama se refere ao conteúdo japonês. O termo remete à pronúncia dos japoneses para a palavra drama. As séries japonesas também podem ser nominadas por J-drama.

O conteúdo coreano, o mais visto atualmente, é chamado de K-drama - o termo já ganhou registro no dicionário Oxford. Os chineses são os C-dramas. E os T-dramas são tailandeses. Os temas são diversos: comédia, ação, romance, suspense, fantasia, terror e história.

No top 10 das séries mais vistas da Netflix no Brasil na última semana, estavam duas produções coreanas: Uma Advogada Extraordinária, que conta a saga de Woo, portadora de autismo que se destaca no meio jurídico, e As Três Irmãs, inspirada no livro Little Women, da americana Louisa May Alcott (1832-1888).

Juliana Pessoa, 22 anos, em maio de 2020, no auge da pandemia, estava em busca do que assistir nas plataformas de streaming. Por indicação da mãe, começou assistir a séries asiáticas. De lá para cá, já viu 63 produções. Virou dorameira clássica. Os K-dramas são seus preferidos.

"Juro que trabalho também", brinca ela, que não pensou duas vezes em trocar uma empresa nacional por um vaga no marketing de uma multinacional coreana da área de tecnologia. O motivo, além do profissional, é o amor pelas séries. "O que mais me chama atenção é o formato. Os finais são sempre surpreendentes. Há sempre uma fofura nos relacionamentos. O máximo que você vai ver é um ‘mini beijinho’ entre os casais. É bem diferente das séries americanas", diz Juliana.

Ela começou a estudar coreano para não depender das legendas - às vezes, as produções custam a receber a versão em português ou inglês. E fã não quer esperar.

A professora de inglês Ally Stopa, 26 anos, também estuda coreano, com um professor nativo. E está de malas prontas para um intercâmbio na Coreia. Ela se interessou por doramas no final de 2019. "Estava cansada das séries ocidentais", diz ela, que aumentou o consumo de macarrão tipo lamen por conta dos K-dramas

O primeiro que Ally acompanhou foi Uma Noite de Primavera, drama romântico ainda disponível no catálogo da Netflix. Logo em seguida, criou um perfil no Instagram, o @zoandodorama, que atualmente conta com 134 mil seguidores.

Ally destaca a variedade e o lado "família" dos roteiros como um ponto positivo das produções. "Você consegue assistir em um domingo, com todos na sala. Não há susto com cenas de sexos. É tudo mais leve", diz.

ORIGEM

Os doramas, ou seja, as séries japonesas, estão presentes na televisão japonesa desde os anos 1950. Antes, já faziam sucesso no rádio. Eles são originários dos mangás, as histórias em quadrinhos típicas do Japão.

Os doramas ganharam força no Japão entre os anos 1970 e 1980, segundo explica Larissa de França, pesquisadora do Nejap (Núcleo de Estudos Japoneses) da Universidade Federal de Santa Catarina. O grande boom veio nos anos 1990, quando começou a ser exportado

"Os Cavaleiros do Zodíacos (série baseada em mangás e anime) ajudaram a puxar o interesse pela cultura japonesa. Os dramas coreanos ganharam projeção nos anos 2000 e colaboram ainda mais com a divulgação do gênero", explica Larissa. Com o surgimento e fortalecimento das plataformas de streaming, tudo ficou ainda mais acessível.

Cena do dorama japonês 'Sobre Amar e Saborear'
Cena do dorama japonês 'Sobre Amar e Saborear' Crédito: Prime Box Brazil

A pesquisadora explica que, no Japão, a preferência é por enredos que retratam o cotidiano. As produções de lá seguem datas de lançamentos rígidos, baseadas nas estações do ano. Os exibidos na primavera e no verão são os mais populares. Cada emissora tem preferência por um gênero.

"A NHK, por exemplo, produz doramas matinais, para serem assistido enquanto se toma café com 15 minutos de duração, algo que não tem na Coreia. Os episódios mais clássicos, de romance, duram 45 minutos e são exibidos uma vez por semana no horário nobre", diz.

Larissa afirma que, em geral, o telespectador chega às séries asiáticas quando estão em busca de um romance para assistir. Para ela, a possibilidade da interação com uma nova cultura - a culinária e os meios de transportes estão sempre em cena, por exemplo - também contribuem para prender a atenção do público.

PARA MARATONAR

Os doramas são fáceis de maratonar. Em geral, as histórias se resolvem em uma temporada, em 12 ou 24 episódios com duração de cerca de 50 minutos cada um - e os japoneses são bem rígidos em relação a isso. Não há variação de tempo em diferentes episódios como ocorre, por exemplo, nas novelas brasileiras.

Os k-dramas são um pouco mais longos. Young Lady and Gentleman, por exemplo, de 2021, tem 52 episódios. A produção causou polêmica no país originário por tratar do amor entre um homem mais velho e uma mulher mais jovem.

Além da Netflix, outras plataformas disponibilizam doramas e k-dramas. Uma delas é a Rakuten Viki que conta com 1.500 títulos, traduzidos em até 150 idiomas. Entre seus destaques, estão séries como O Que Houve com a Secretária Kim?, Amor entre Fada e Demônio, Amor em Contrato, Bom Trabalho e If You Wish Upon Me.

A Viki tem mais de 63 milhões de usuários registrados em 250 países. O Brasil, segundo a assessoria de imprensa da plataforma, é um dos seus principais mercados. A audiência é composta principalmente por mulheres entre 18 e 34 anos.

"Acreditamos que os brasileiros estão descobrindo e consumindo mais dramas asiáticos porque as séries são criativas, originais e extremamente relevantes para o público jovem", diz Sarah Kim, diretora de conteúdo da Viki.

A plataforma Kocowa é dedicada exclusivamente a produções sul-coreanas - além de séries, disponibiliza reality shows e programas musicais, com legendas em português.

O Star+, da Disney, disponibilizou em setembro duas novas séries: Com a Permissão do Tribunal e Mulheres de Taiwan. Elas se juntaram a Snowdrop e Grid, dois K-dramas, que já estavam em catálogo.

Na TV por assinatura, a novidade é a comédia romântica Sobre Amar e Saborear, produzida pela rede MBS do Japão, que estreou em 3 de outubro na faixa noturna no canal Prime Box Brasil.

A série conta a história de Megumi, uma escritora solteira que é convidada a escrever uma coluna sobre os encontros que tem às cegas com possíveis pretendentes. Ela é uma foodie (viciada em comida gourmet) e os encontra em restaurantes de Tóquio. Sobre Amar e Saborear é exibido três vezes por semana. A segunda temporada estreia em novembro.

Para Yoshimitsu Naohara, gerente de negócios internacionais da MBS, a série tem aspectos únicos que vão pegar o brasileiro pela boca e pelo coração. "Cada episódio é uma história independente, com um homem (namorado) diferente. Além disso, jantar e cortejar são uma parte universal da vida para todos os seres humanos, mas são ainda mais atraentes para os brasileiros, que são muito apaixonados", diz.

Anteriormente, o Prime Box Brasil havia exibido conteúdos chineses. A audiência, de acordo com o canal, aumentou 2.000 mil por cento. Para 2023. o canal diz que pretende continuar a investir em séries asiáticas.

Os números de audiência dos streamings não costumam ser abertos pelas plataformas. Entretanto, de acordo com Claudia Dreyer, Head de Aquisições e Parcerias Internacionais do Box Brazil Media Group, dados do governo da Coréia do Sul apontam que o Brasil é o quinto no consumo mundial de K-dramas.

Entre os atores mais conhecidos das séries asiáticas, estão o sul coreano Choi Woo-shik, que está no elenco de Nosso Eterno Verão. O ator participou do filme Parasita, de Bong Joon-ho, vencedor do Oscar em 2020.

Uma das estrelas é Park Min-young, de Amor em Contrato, que também pode ser vista em Que Houve com a Secretária Kim? e Clima do Amor. Park Eun-bin, que protagoniza Uma Advogada Extraordinária, é um dos destaques do momento.

Resta saber quando as emissoras brasileiras da televisão aberta vão se render às séries asiáticas. O canal Loading, que se dedicava ao mundo pop e geek exibindo animes, encerrou as atividades em novembro de 2021. O canal foi assumido pela Igreja Mundial do Poder de Deus.

AS MAIS VISTAS

  • Um Advogada Extraordinária (Netflix)
  • A história da advogada portadora do transtorno do espectro autista, está há dez semanas no Top 10 Brasil de conteúdos mais vistos.

  • As Três Irmãs (Netflix)
  • Traição em família e o envolvimento das três irmãs em uma cruzada contra uma das famílias mais poderosas do país.

  • Pretendente Surpresa (Netflix)
  • Comédia romântica, que conta a história da garota que vai a um encontro surpresa no lugar da amiga, já esteve entre o Top 10 global de conteúdo mais assistido.

  • Amor em Contrato (Rakuten Viki)
  • Aborda um tema que gera curiosidade entre o público brasileiro: casamento por contrato. A mocinha facilitadora dos enlaces não escapa de uma armadilha do destino.

  • O Que Houve com a Secretária Kim? (Rakuten Viki)
  • Empresário narcisista não percebe as qualidades de sua secretária. Ao deixar o trabalho, ela sai em busca de sua verdadeira identidade.

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