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Publicado em 17 de março de 2022 às 15:56
Única sala de exibição em atividade no Centro de Vitória - região que, dos anos 1960 a 1970, viveu seu ápice, com quase dez espaços do gênero -, o Centro Cultural Sesc Glória continua investindo em uma programação de fomento e formação de público, apostando em títulos fora do circuito comercial, que dificilmente têm espaço nos grandes complexos exibidores.
Com ingressos a preços populares - entre R$ 5 a R$ 10 - ou mesmo com sessões gratuitas, a sala traz uma programação especial nos meses de março e abril, dentro do projeto "CineSesc Glória", em duas vertentes: o cinema brasileiro independente e o audiovisual francês, em uma parceria com a Cinemateca da Embaixada da França no Brasil e Institut Français.
Em comum, as mostras contemplam a diversidade da produção contemporânea dos dois países. A seleção é focada em longas-metragens com temas como diversidade, dança, (des)igualdade, identidade cultural, juventude, música clássica, racismo e religião, transitando entre ficção, drama, comédia e documentário. Os horários e dias de exibições estão no serviço abaixo.
Do lado francês, serão exibidos os documentários "Les Indes Galantes/As Índias Galantes" (2019), de Philippe Beziat, e "La Cravate/ A Gravata" (2020), de Etienne Chaillou e Mathias Thery.
"As Índias Galantes" mostra a potência da diversidade ética, cultural e social da França contemporânea. Em foco, uma espécie de reinvenção da obra barroca clássica de Jean-Philippe Rameau, "Les Indes Galantes", desta vez interpretada por 30 dançarinos de hip-hop, krump, break e voguing, todos jovens e vindos de regiões periféricas, sendo muitos imigrantes africanos.
"A Gravata", por sua vez, costuma promover debates acalorados por onde passa. O documentário mostra o cotidiano de Bastien, um rapaz de 20 anos e ativista do principal partido de extrema-direita da França, o Reagrupamento Nacional.
Entre imagens de manifestações, o filme mostra o envolvimento do militante nas últimas eleições presidenciais do país, que tiveram Marine Le Pen como a candidata representante da direita conservadora radical. Indicado ao Cèsar (o Oscar francês) de Melhor Documentário, "A Gravata" mostra o preocupante avanço de movimentos políticos e sociais de extrema-direita na Europa e ao redor do mundo.
Os títulos nacionais do projeto "CineSesc Glória" fizeram parte da 4º Mostra Sesc de Cinema, exibida em 2021. "Memórias Afro-Atlânticas", do baiano Cassio Leonardo Nobre de Souza Lima, é um retrato do trabalho do linguista afro-americano Lorenzo Turner (1890-1972) em suas pesquisas conduzidas na Bahia no início da década de 1940.
Ao longo de meses de atuação em terreiros de candomblé de Salvador e do Recôncavo Baiano, ele registrou a cultura e a religião de um povo por meio de áudios e fotografias.
De Brasília/DF, vem "No Rastro das Cargueiras", de Ana Carolina Matias. Em debate, a realidade e a situação precária dos trabalhadores que se sustentam com os recursos conseguidos como catadores de objetos reciclados. Seu único meio de transporte é a bicicleta.
Thiago Arruda, Assistente de Artes Visuais do Centro Cultural Sesc Glória, defende o caráter social do cinema, tanto como espaço de fomento como um local aberto ao diálogo de produções fora do eixo de Hollywood.
"Nossa aposta é ser um centro de formação de público, especialmente porque parte da programação é gratuita ou são cobrados ingressos populares. Reabrimos o cinema em fevereiro e, em 2021, as sessões foram muito afetadas pela pandemia da Covid-19. Agora é o momento de reconexão com o nosso público e fazer com que eles consigam enxergar as produções por seus vieses artísticos", aponta, dando "spoilers" sobre programações futuras.
"Estamos fechando uma parceria com a produtora mineira Embaúba Filmes, para trazer projetos especialmente de animação, voltados para o público infanto-juvenil. Também em abril, devemos exibir pela primeira vez no Estado o documentário 'Sementes: Mulheres Pretas no Poder', que revelam algumas das mulheres pretas na política do Brasil que emergiram após o assassinato de Marielle Franco", adianta.
Arruda também aponta para o primeiro semestre outras mostras voltadas para o circuito alternativo. "Estamos programando eventos que resgatem obras clássicas da Embrafilme, como também encontros temáticos, com exibições do Cinema Novo, especialmente produções de Gláuber Rocha, e trabalhos de Stanley Kubrick, do grupo inglês Monty Python e do movimento dinamarquês Dogma, que revolucionou a forma de fazer cinema nos anos 1990", complementa.
Dentro dessa "orgia cinematográfica", não poderia faltar o cinema capixaba. Em 31 de março, a partir das 19h, haverá no Centro Cultural Sesc Glória a abertura da "Mostra Ramon Alvarado", que, após sessão inaugural, continuará em formato virtual.
A coletânea destaca o trabalho de um dos precursores do cinema produzido no Espírito Santo, Ramon Alvarado, que nasceu em Recife (PE), em 1946, e se mudou com a família para Vitória (ES) no início da década de 1950. Ele participou ativamente do primeiro ciclo de curtas-metragens do Estado, atuando como diretor e diretor de fotografia.
Neste período, realizou "Indecisão" (1966), considerado o primeiro filme de ficção produzido em Vitória, a ficção "O Pêndulo" (1967), e o filme científico "Cirurgia do Coração no Espírito Santo" (1967). Em 1968, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde construiu a maior parte de sua trajetória profissional de mais de cinco décadas no cinema.
Após a sessão do Sesc Glória, haverá um bate papo sobre a obra do cineasta. Os filmes ficarão disponíveis por 30 dias no website do projeto Acervo Capixaba, idealizado pela produtora Pique-Bandeira Filmes. No endereço online, estão reunidos filmes, ensaios, a filmografia completa e um arquivo de fotografias, textos, correspondências, certificados e outros itens do acervo documental de Alvarado.
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