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Stan Lee, criador da Marvel, ganha três biografias; saiba qual ler

De sua cabeça, nasceram personagens que captaram como nenhum outro a contracultura que explodiu na década de 1960

Publicado em 1 de março de 2022 às 12:58

Stan Lee, criador da Marvel, ganha três biografias
Stan Lee, criador da Marvel, ganha três biografias Crédito: FramePhoto/Folhapress

Em menos de um ano, as livrarias brasileiras receberam três biografias diferentes de Stan Lee. Mesmo sendo um gênio criativo, o ex-chefão da Marvel Comics não exige três leituras para que se possa compreender como ele revolucionou gibis de super-heróis a partir do início dos anos 1960.

Nenhum dos três volumes falha na tarefa de oferecer um bom perfil do pai do Homem-Aranha, do Quarteto Fantástico, do poderoso Thor e do incrível Hulk, para pinçar apenas alguns personagens entre dezenas e dezenas. São livros distintos em suas propostas de como relatar uma vida tão intensa.

A trajetória de Lee, morto em 2018, aos 95 anos, pode ser dividida em alguns capítulos básicos.

Primeiro, temos a infância pobre de um garoto nova-iorquino nascido há um século, filho de judeus imigrantes da Romênia. Depois, o início precoce como editor-assistente da Timely Comics, quando tinha só 17 anos, e a publicação de sua primeira história, dois anos depois, uma aventura do Capitão América.

Temos ainda uma década de erros e acertos na indústria de HQ durante os anos 1950 e, nos anos 1960, a criação de uma enorme leva de novos super-heróis de sucesso absoluto, além da reformatação de personagens dos gibis da década de 1940, como Capitão América, Tocha Humana e Namor, o Príncipe Submarino.

Em seguida, acompanhamos suas três décadas no comando da Marvel, onde estabilizou a editora como a maior produtora de HQ nos Estados Unidos, mas também colecionou alguns fracassos, principalmente tentando trabalhar seus heróis em outras mídias.

Por fim, há sua saída da presidência da Marvel, passando a ocupar o comando de um conselho editorial na casa, com muitas tentativas frustradas de alguns projetos por conta própria. Enquanto isso, seus filhos nas HQs se tornavam protagonistas dos filmes mais rentáveis de Hollywood nos últimos 20 anos.

"Invencível: A Ascensão e a Queda Stan Lee", de Abraham Riesman, surge como sua mais completa biografia publicada até hoje. Não deixa de ser curioso que seu grande diferencial em relação a outros relatos é justamente quando não fala de Stan Lee.

O autor pega carona na vida do biografado para inserir nas páginas muitos detalhes sobre a indústria de HQ nos Estados Unidos durante o século 20. Quando fala de Stan Lee, adota um tom sóbrio. Não ocupa as páginas com uma louvação de fã ao trabalho do mestre, deixa que sua obra defenda sozinha sua importância na cultura pop.

Já "Sr. Maravilha: A Biografia de Stan Lee", do brasileiro Roberto Guedes, assume sem medo o tom de livro escrito por um fã. As informações são fartas a respeito da vida pessoal e do trabalho dele, mas falta um pouco mais de contextualização para quem não é tão próximo do universo dos quadrinhos.

Riesman consegue fazer isso e ainda adiciona, como já lembrado, um grande raio-x da indústria de gibis nos Estados Unidos. Mas Guedes tem o mérito de ter escrito um livro agradável, simpático, que vai satisfazer aqueles que querem só saber mais detalhes da criação dos super-heróis que veneram.

Sobra pouco o que falar de "A Espetacular Vida de Stan Lee", de Danny Fingeroth. É uma biografia correta, mas com uma narrativa algumas vezes enfadonha. Os episódios mais importantes da vida de Stan Lee estão lá, mas é um texto um tanto burocrático, sem grandes sacadas que possam conquistar a atenção de quem se dispuser a ler o volume. Uma decepção, já que Fingeroth é roteirista de quadrinhos e trabalhou muitos anos com Lee, mas a convivência não acrescentou muito à narrativa.

Vale a pena ler sobre Stan Lee, não há dúvida. Além de histórias curiosas sobre a origem de alguns dos super-heróis mais conhecidos em todo o mundo, as biografias revelam como ele foi um artista singular, com momentos muito importantes dentro da cultura pop.

Foi o primeiro a mostrar um super-herói que enfrentava vilões mortíferos enquanto tinha de lidar com uma forte gripe ou com dificuldades financeiras, situação vivida por Peter Parker, o Homem-Aranha. Um gibi do mesmo personagem trouxe uma história em que o melhor amigo de Parker fica viciado em drogas pesadas, outro tabu derrubado.

Stan Lee também foi o primeiro criador de HQ a lançar um super-herói negro, o Falcão, parceiro do Capitão América. Vale lembrar também que da cabeça dele nasceram três personagens que conseguiram captar como nenhum outro a contracultura que explodiu na década de 1960 -o lisérgico Doutor Estranho, o ativista Pantera Negra e o filósofo humanista Surfista Prateado.

Nenhuma biografia de um artista tão importante deixa de valer a pena.

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