A comédia "Modo Avião", com Larissa Manoela. Crédito: Netflix
Dois personagens se conhecem de forma aleatória, se apaixonam, mas não podem ficar juntos. Um deles já é comprometido ou, talvez, more em outra cidade. Pode ser até que eles se odeiem antes de perceberem que se amam. Mas não importa o conflito: o final é sempre feliz.
Essa é a fórmula de uma comédia romântica. Ou, como explica a pesquisadora e mestre em cinema Ana Camila Esteves, são as convenções do gênero: "Há uma série de elementos na narrativa que criam essa tensão para que esse casal não possa ficar junto e que fazem com que a gente torça por eles".
Para um bom fã, não faltam exemplos clássicos: "Uma Linda Mulher", "Um Lugar Chamado Notting Hill", "O Casamento do Meu Melhor Amigo" - todos protagonizados por Julia Roberts, que foi considerada a musa das comédias românticas dos anos 1990.
Mesmo assim, o gênero chegou a ser considerado "morto" por veículos internacionais como The Washington Post, The Hollywood Reporter e NPR entre 2013 e 2016.
Os motivos incluíam a queda nas bilheterias, a baixa qualidade dos longas e o questionamento de problemáticas carregadas pelo gênero.
Alguns anos depois, no entanto, o cenário é outro: ficou fácil entrar no streaming e encontrar dezenas de comédias românticas novas e originais à disposição. Os jornais exageraram, como alguns chegaram a admitir? O gênero se reinventou? Ou será que ele nunca deixou de ser popular?
TRANSFORMAÇÕES
A comédia romântica passou por algumas mudanças ao longo do tempo. Se fôssemos investigar como elas surgiram, teríamos de voltar a filmes como "Luzes da Cidade", de 1931, ou até longas icônicos de Audrey Hepburn, como "Sabrina" (1954) e "Bonequinha de Luxo" (1961). "Harry e Sally - Feitos Um para o Outro", de 1989, pode ser considerado um dos precursores do gênero como o conhecemos hoje. Os filmes de Julia Roberts vieram depois.
Para Ana Camila, o gênero costuma seguir as mesmas convenções, mas pode ser mais maleável do que pensamos. Entre 2000 e 2010, já há comédias românticas começando a pender para o drama.
"Como se as pessoas quisessem levar a comédia romântica a um lugar mais 'sério', com histórias mais profundas, mais robustas", diz Ana. É o caso de "Separados pelo Casamento" (2006), com Jennifer Aniston.
Até então, o gênero seguia em alta. Um levantamento da agência Reuters mostrou que, entre 1990 e 2000, as comédias românticas só ficaram de fora da lista das 20 maiores bilheterias dos Estados Unidos em três anos (1994, 1996 e 2001).
Foi aí que a "queda" começou. De 2010 a 2022, apenas uma comédia romântica ficou entre os filmes mais lucrativos do ano: "Asiáticos Podres de Ricos", em 2018. Os cinemas foram tomados por franquias, de Marvel e DC a Star Wars e Velozes e Furiosos.
Ainda segundo a pesquisa da Reuters, 2015 foi o ano com o menor número de comédias produzidas desde 1980 - com exceção de 2020 (por causa da pandemia).
RENASCIMENTO
A resposta para o renascimento das comédias românticas nos anos recentes pode ser encontrada no crescimento das empresas de streaming e, principalmente, na quantidade de produções originais sendo realizadas por elas.
"Por conta da forma como os streamings trabalham, eles precisam produzir conteúdos massivos", explica Ana Camila.
Para ela, as comédias românticas fazem parte de uma gama de gêneros que são pensados para um grande público.
Com a força do streaming, elas têm um papel importante na construção do algoritmo que vai orientar o consumo das pessoas que assinam essas plataformas. São filmes leves, gostosos. "A leveza do gênero é uma aposta que os streamings fazem para conseguir atrair mais assinantes", afirma.
A roteirista e diretora Alice Name-Bontempo, um dos nomes por trás de "Modo Avião", comédia romântica nacional estrelada por Larissa Manoela e disponível na Netflix, cita o filme "Para Todos os Garotos Que Já Amei" (2018) como um dos responsáveis por essa nova onda no streaming.
Alice argumenta que nesse gênero a experiência não é diminuída quando o espectador está em casa. Ela lembra que as comédias românticas são filmes que podemos assistir "com um grupo de amigas, comendo brigadeiro ou sozinha em casa depois de um dia ruim".
Isso se reflete na indústria nacional, segundo Alice. "Quando a gente pensa nas grandes ou médias bilheterias brasileiras, é a comédia que domina de longe." No streaming, no entanto, existe uma produção crescente de comédias românticas.
Além de "Modo Avião", ela cita "Esposa de Aluguel" (2022), que ficou entre os filmes de língua não inglesa mais vistos da Netflix.
Em junho, o Prime Video lançou a franquia "Um Ano Inesquecível", com quatro comédias românticas nacionais. E, em 2022, a HBO Max divulgou "Procura-se", estrelado pelo casal Camila Queiroz e Klebber Toledo.
*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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