Segunda temporada de "What If...?" está em cartaz na Disney +. Crédito: Divulgação/Disney +
Que o MCU (Universo Cinematográfico Marvel) tem acertado pouco nos últimos anos, o espectador casual (assim como os fãs chatos mais hardcore) estão cansados de saber. Mas em algumas produções ainda existe uma pequena fagulha de esperança. A série animada da Disney+ “What If…?” é uma delas.
Com a segunda temporada tendo estreado na plataforma digital na sexta (22), os episódios foram lançados um por dia. A estratégia foge do modelo convencional de lançar todos os episódios de uma única vez ou semanalmente.
Ao todo, foram lançados nove capítulos. O último chegou à plataforma neste sábado (30). A temporada possui alguns elementos diferenciados, que podem ensinar a Marvel (e a "Distinta Concorrência" - DC) o que fazer ou não quando pensamos em história de super-heróis. Abaixo, vou dar mais detalhes...
E SE...?
Vamos começar pelo que há de bom. Os episódios finais são de fato os melhores da animação. Com destaque para o sexto, que apresenta personagens novos, algo que não tinha sido feito ainda.
O capítulo é narrado pela perspectiva de uma nativa norte-americana da era pré-colombiana (algo bem específico). Onde uma das joias do infinito (a joia do espaço, o Tesserac, do primeiro filme dos Vingadores) assume a forma de um lago místico inserido na tradição do povo originário tratado na série, nesse caso os Moicanos.
Kahhori, personagem nativa norte-americana apresentada na segunda temporada de "What If...?". Crédito: Divulgação/Disney +
Esse episódio não brilha apenas pela ousadia de apresentar uma personagem indígena como protagonista. O desafio decolonial que o título propõe também é super sugestivo: "E Se… Kahhori reformulasse o mundo?”.
Kahhori é sua própria heroína, sem necessidade de um salvador branco para resolver tudo. Na verdade, quando o tal salvador aparece é só para causar confusão.
Esse episódio soa como um frescor nesse ambiente carregado que tem sido as histórias de heróis. A dublagem original é toda feita na língua nativa do povo Moicano (parabéns, Marvel, vocês acertaram aqui!). O final se conecta aos eventos que serão apresentados nos episódios seguintes.
Nessa temporada há o retorno da Capitã Carter. Sua primeira aparição é um misto de "Capitão América: Soldado Invernal" e filme solo da Viúva Negra. Esse é apenas o início do que será o melhor arco de toda a produção.
A jornada da Capitã Carter é o que mais representa o conceito de "What if…?". A heroína é levada a viver aventuras que vão desde o início da modernidade aos limites do universo.
Segunda temporada de "What If...?" está em cartaz na Disney +. Crédito: Divulgação/Disney +
Há uma clara referência à HQ "1602", em que Neil Gaiman imagina personagens da Marvel vivendo durante o início das grandes explorações marítimas e descobertas de novas terras.
Vemos Peggy Carter encontrar vários personagens da Marvel em papéis bem diferentes. Um Loki como um ator shakespeariano, um Thor sendo um rei amargurado e o saudoso Steve Rogers como uma espécie de Robin Hood. Para a criatividade o céu é o limite!
Steve Rogers com Robin Hood na segunda temporada de "What If...?". Crédito: Divulgação/Disney +
Mas o último episódio é a cereja do bolo, se assim podemos definir. Com o retorno do Doutor Estranho Sombrio apresentado na temporada anterior, temos um momento que leva a animação ao seu limite (no bom sentido, é claro!).
Protagonizado por Capitã Carter e Kahhori, o capítulo traz muitas versões de outros personagens, algo que lembra "Guerras Secretas" e que pode ser uma prévia de um possível plot do filme "Vingadores: Guerras Secretas". Esses episódios se conectam diretamente aos eventos que acontecem no fim da segunda temporada de "Loki".
Os quatro primeiros episódios e o episódio 7 são os mais convencionais, tipo o mais do mesmo. Eles dão aquela sensação amarga de "já vi isso em algum lugar" (amarga e chatinha mesmo). São os mesmos personagens vivendo situações e dramas conhecidos. O primeiro, que apresenta a Nebula como um membro da Tropa Nova, até se destaca um pouco dos demais, mas é arrastado, pois a personagem é basicamente a mesma de outras encarnações.
E segue a lista de clichês. Criança órfã e superpoderosa com pai ausente (segundo episódio)? Já foi visto. Historinha de ação que se passa no Natal fazendo homenagem (ao maior filme de Natal de todos os tempos) "Duro de Matar" (1988)? Sim, também foi feito. Super-herói perdido no espaço que chega acidentalmente a um planeta arena? Basicamente é o plot de "Thor Ragnarok".
O que aprendemos com a segunda temporada de “What if…?” é que o lugar-comum foi mais que explorado. Tão utilizado que não serve mais. É necessário ousar, colocar personagens em situações, contextos, e, quem sabe, culturas diferentes. Pode ser que nesse lugar estranho exista algo novo.
O que você de fato quer saber: "What if…?" vale a pena? Sim, pode assistir sem medo. O assunto consegue manter-se coerente à proposta da série e ao tema do Multiverso. Além disso, entrega um excelente arco da Capitã Carter. Mas tenha cautela com suas expectativas. Alguns episódios aparentam estar ali apenas para cumprir um cronograma. Outros têm coragem para abraçar (a loucura e) a proposta de repensar esses personagens que, ao longo dos anos, se tornaram parte do imaginário da cultura pop.
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