• Nádia Alcalde

    Apaixonada por vinhos, Nádia Alcalde é jornalista, sommelière e consultora. Escreve sobre o universo da bebida, antenada com lançamentos, tendências e notícias..

Barca-Velha e Pêra-Manca: conheça dois lendários vinhos de Portugal

Publicado em 25/06/2024 às 07h00
Degustação da safra 2015 do vinho português Barca-Velha

Safra 2015 do Barca-Velha foi degustada no evento Vinhos de Portugal, em São Paulo . Crédito: Nádia Alcalde

Se você se interessa minimamente por vinhos, já deve ter ouvido falar do emblemático Barca-Velha, que é sem dúvida um dos rótulos mais celebrados de Portugal. Há sempre uma expectativa em se deparar com um vinho desses, produzido apenas em anos excepcionais. 

Imagine que desde 1952 foram lançadas apenas 21 safras do Barca-Velha, produzido pela Casa Ferreirinha. A última, do ano de 2015, acaba de chegar ao mercado, e o preço sugerido da garrafa gira em torno de R$ 10 mil.

O processo de vinificação do Barca-Velha é bastante rigoroso. Quem cuida da enologia é Luis Sottomayor, que tive a oportunidade de conhecer no evento Vinhos de Portugal, realizado recentemente em São Paulo.

O enólogo veio ao Brasil especialmente para o lançamento do icônico rótulo, que traz desta vez em sua elaboração as castas Touriga Franca (43%,) Touriga Nacional (40%), Tinta Cão (5%), e pela primeira vez a Souzão, que completa o vinho com 10%.

Durante a degustação do Barca-Velha 2015, Luis descreveu a vindima daquele ano como desafiadora. “Foi uma vindima curta e atípica, mas muito próspera em qualidade, marcada por pouca chuva e por duas ondas de calor, em junho e em julho, que contribuíram para a produção de vinhos muito complexos, com boa estrutura e fruta bem presente”, explicou, complementando que sempre houve uma enorme convicção quanto ao destino dessa colheita.

O blend é composto por lotes de diferentes altitudes do Douro Superior, que contribuem para a complexidade do vinho. São leveduras indígenas, o que talvez justifique o quanto ele é robusto, puro e único. Confesso que nunca degustei nada igual, e de fato foi um marco para minha memória enquanto profissional do vinho.

O Barca-Velha é um vinho escuro, com algum resíduo que o deixa voluptuoso. Seu aroma é intenso e de muita complexidade, com especiarias, algo de balsâmico, cedro, tabaco e resina. É possível sentir frutas vermelhas mais frescas também, e depois vêm notas de aspargo e gengibre.

Tentei anotar todas as minhas percepções. O Barca-Velha é bem diferente no aroma, e se eu tivesse tempo, gostaria de seguir apreciando essa evolução em taça. No paladar, o vinho é quase mastigável, tem volume e uma acidez gostosa bem integrada com os taninos, que são bem intensos. O final é permanente, fica na boca por horas. Sem dúvida, um vinho exuberante, como um tilintar.

Da safra 2015, foram produzidas 16 mil garrafas, e algumas estarão à venda em breve aqui no Espírito Santo, na Outvino, em Vitória. O telefone da loja para mais informações é (27) 99999-8101.

PÊRA-MANCA

Quando se fala no Barca-Velha, é inevitável pensar em um outro vinho icônico de Portugal, o Pêra-Manca. Sua primeira safra é do ano de 1990, e desde então foram lançadas apenas mais quinze safras. 

Sonho de consumo de muitos enófilos brasileiros, esse vinho é produzido pela Fundação Eugênio de Almeida (conhecida como Adega Cartuxa), que é uma instituição filantrópica do Alentejo localizada em Évora.

Segundo a Cartuxa, o Brasil tornou-se o maior mercado para os vinhos da adega fora de Portugal. Cerca de 20% de toda a produção da vinícola são destinados aos consumidores brasileiros, embora só se possa vender uma unidade do Pêra-Manca por comprador.

Vinho tinto português Pêra-Manca

Vinho tinto Pêra-Manca teve apenas 15 safras lançadas. Crédito: Cartuxa/Divulgação

Assim como ocorreu com o Barca-Velha, a última safra lançada do Pêra-Manca também foi a de 2015, que chegou ao mercado em 2021. Agora, três anos depois, existe a expectativa de se lançar a safra 2018 do Pêra-Manca, no último trimestre deste ano. 

Uma curiosidade sobre esse ícone é que desde a primeira colheita o blend é sempre o mesmo, com a uva Trincadeira, que promete a acidez do vinho, e a Aragonez, que traz a estrutura. A porcentagem de cada cepa é que muda conforme as safras. Os vinhos são fermentados separadamente e apenas no momento do lote final é definido o blend.

As garrafas do Pêra-Manca também são limitadíssimas, mas no Brasil é relativamente fácil encontrá-lo. Há quem tenha o hábito de comprar no lançamento e guardar para uma venda posterior, com valor agregado de vinho de guarda. O Pêra-Manca branco, por sua vez, é bem mais acessível para compra. 

O tinto pode ser adquirido via e-commerce e, aqui no Estado, na rede de supermercados Carone. A safra disponível atualmente é a de 2013, e a garrafa custa cerca de R$ 5 mil. 

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