Francisco é o cara dos vinhos. Crédito: Shutterstock
Francisco é popularmente conhecido como O Degustador. Entre a família, os amigos, os colegas de trabalho e até o pessoal do futebol. Você, se conhecesse o Francisco, também ia chamá-lo de O Degustador.
O motivo, você já adivinhou, é que Francisco só fala de vinhos. Só bebe vinhos. Gasta o que sobra do salário em garrafas e mais garrafas. Assina um serviço que lhe manda vinhos mensalmente. Faz parte de um clube secreto online onde pode comprar safras mais baratas. Francisco é o cara dos vinhos.
As coisas fizeram a curva nessa direção quando Francisco ainda era o Chicão. Um dia, depois da pelada, ele recusou a gelada e apareceu com uma taça de Cabernet Sauvignon. Você sabe como são essas coisas. Daí em diante, a taça virou uma extensão de Francisco.
Aliás, todo o seu corpo parecia, dia após dia, adaptar-se a novas tarefas que o vinho propunha. Os olhos pareciam saltar na observação das lágrimas que a bebida deixava na taça. O nariz esticava para captar os aromas. A língua dava saltos para registrar os taninos.
Francisco mudou a postura, agora ereta e atenta. A voz, sempre rápida, arrastou-se para explicar melhor as notas olfativas. O Chicão, que gostava de bermuda e camiseta, virou uma combinação de calças vincadas e camisas de botão, as preferidas d'O Degustador.
A fama logo se espalhou e Francisco virou o guru do vinho da vizinhança. Recomendava harmonizações, presentes de aniversário, escolhas para festas de casamento. Acertava sempre.
Fazia sucesso nos jantares quando aparecia com a garrafa perfeita para acompanhar o cardápio, que descobria de antemão em persuasivos telefonemas aos donos da casa.
Quando por fim voltava pra casa dos muitos compromissos sociais que requeriam a presença d'O Degustador, Francisco ganhava um beijo na testa da esposa, um agradecimento carinhoso pela alegria trazida pela agenda animada.
Sorria largo enquanto ela subia as escadas, ecoando que ele não demorasse para segui-la, e segurava o sorriso uns cinco segundos após ouvir a porta do quarto fechar.
Aí Francisco corria para o armário em cima da geladeira. De trás das caixas do cereal integral rejeitado por todo tipo de ser com bom senso, tirava uma garrafa e tomava uma golada generosa.
Em seguida, lavava a boca com o enxaguante bucal que fazia par com o recipiente escondido na prateleira mais alta da casa. Francisco ia dormir, então, satisfeito com mais um dia em que seu título permaneceria intacto.
O Degustador segue firme há três anos, oito meses e quatro dias. E aposto que você também não desconfiou que sua bebida preferida é licor de jenipapo.
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