Feira de vinhos é considerada a maior das Américas. Crédito: ProWine/Divulgação
O mercado de vinhos está em constante mudança, e um importante radar para acompanhar suas novas tendências são as feiras que reúnem importadoras e produtores para apresentar novidades.
Realizada no início deste mês de outubro no ExpoCenter, em São Paulo, a ProWine é considerada a maior feira de vinhos das Américas, destinada exclusivamente a profissionais do setor.
Sua terceira edição reuniu mais de 900 expositores, entre vinhos e destilados, de cerca de 22 países. Estive lá para acompanhar e entender um pouco mais sobre as novas preferências dos consumidores.
Ressalto que muitas das tendências apresentadas na ProWine estão relacionadas aos setores político e econômico do país e refletem uma nova realidade de preços e produtos disponíveis no comércio. Além disso, nota-se sempre uma preocupação dos produtores de vinho em conquistar novos adeptos da bebida, democratizando seu consumo e facilitando seu acesso. São exemplos vinho em lata, vinho em taça e acessórios e máquinas que permitem a conservar a bebida na garrafa por mais tempo. Outro detalhe que observei na feira foi a disponibilidade de rótulos com proposta mais jovem e descontraída, ideais para atender bares e quiosques de praia e não somente restaurantes.
Franquia de vinho em taça esteve entre os expositores do evento. Crédito: ProWine/Divulgação
5 TENDÊNCIAS DE VINHO APRESENTADAS NA PROWINE 2023
Vinhos mais açucarados
Você já deve ter notado em algumas garrafas de vinho fino a descrição “meio seco”. Tal classificação considera a quantidade de açúcar da bebida, e, pela legislação brasileira, esse valor deve estar entre quatro e 25 gramas por litro de vinho. O açúcar pode ser tanto da própria uva como adicionado.
Isso não quer dizer que se trata de um vinho doce no paladar, pois seu açúcar pode aparecer de forma bem equilibrada com os outros componentes do vinho, ficando perceptível somente aos paladares mais apurados.
No entanto, há uma crescente demanda por rótulos meio secos, mais frutados, que lembram frutas bem maduras e sejam levemente doces. Podem ser brancos, rosés ou tintos, para serem bebidos gelados ou até mesmo com uma pedra de gelo para acompanhar.
Nos EUA, o imbatível White Zinfandel faz sucesso, e outras marcas também estão apostando nessa tendência - inclusive vinícolas francesas, que costumam ser avessas ao que não é tradicional no mundo do vinho.
A vinícola chilena Concha Y Toro vai lançar em novembro uma outra linha do Casillero del Diablo, o Devil’s Carnival, exatamente com essa proposta e com o intuito de ajudar na migração dos consumidores de vinho de mesa para vinho fino.
A Vidigal Wines, que produz vinhos na região do Alentejo, em Portugal, e a vinícola francesa Château de L’Orangerie também estão apostando nesse estilo com os rótulos Vidigal Vira Lata e Smiley Wines, respectivamente.
Blends de uvas brancas com uvas tintas
Um blend surge quando o enólogo mistura diferentes tipos de vinho para formar uma bebida final que reúna as características das uvas escolhidas. Essa técnica também pode ser chamada de corte ou de assemblagem.
O mais usual é que sejam escolhidas uvas do mesmo estilo, tintas com tintas e brancas com brancas. No entanto, alguns enólogos estão inovando ao unir uvas brancas e tintas em um único corte.
A ideia era apresentar mais frescor no resultado final: enquanto a tinta traz profundidade e intensidade, a branca complementa com aromas e mais acidez. A região do Rhône, na França, tem tradição nesse estilo de vinho ao misturar Viognier e Syrah, corte replicado por diversos produtores em outros países.
A vinícola brasileira Garbo Enologia Criativa apresentou na feira um Merlot com Sauvignon Blanc, sendo a Merlot amadurecida antes por três meses em carvalho francês. O resultado é um vinho bem diferente, gostoso e leve, mas com presença.
Outro rótulo interessante que conheci no evento é o da vinícola uruguaia Cerro Chapeu: corte de Tannat e Petit Manseng, em que a Petit Manseng suaviza os taninos da Tannat com um resultado bem bacana na taça.
Vinhos do Leste Europeu e do Oriente Médio
Até pouco tempo, uma quantidade bem pequena de importadoras se arriscava a trazer vinhos de países do Leste Europeu, também pelo fato de os rótulos serem de difícil leitura e os nomes das uvas não serem tão conhecidas aqui (são em maioria autóctones/nativas).
No entanto, esses vinhos estão ganhando um espaço cada vez maior e gerando um amplo interesse nos consumidores sobre essa região da Europa, que, ao contrário do que muitos pensam, tem enorme tradição vitivinícola.
Rótulos de Romênia, Bulgária, Grécia e até mesmo de países do Oriente Médio, como Israel e Irã, despertam curiosidade por sua qualidade e pelo fato de serem diferentes, quase exóticos.
A importadora Winelands foi pioneira em trabalhar com esses vinhos no Brasil. Exemplares da Bulgária elaborados com a uva Melnik, por exemplo, chamam atenção por sua estrutura e pelo bom preço.
Vinhos da Turquia também surpreendem, pois são frescos e fáceis de beber - a uva tradicional de lá é a Çalkarasi. Também vale destacar os gregos da importadora especializada Monte Dictis, cujo vasto portifólio contempla até Santorini, de solo vulcânico.
Edição 2023 reuniu mais de 900 expositores de cerca de 22 países. Crédito: ProWine/Divulgação
Vinhos Zero Álcool
Você sabia que, assim como existem cervejas sem álcool também há vinhos zero álcool ou com baixo teor alcoólico? Essas opções atendem à demanda por um consumo consciente para melhor qualidade de vida.
Mas como é possível obter um vinho com teor alcoólico 0% ou reduzir o percentual alcoólico da bebida? Por meio de uma combinação de técnicas, como filtração por membrana, evaporação a vácuo ou pelo processo de desalcoolização por osmose reversa. Complexo, né? O importante é que isso tudo acontece sem que o vinho perca seus sabores e aromas característicos.
A vinícola gaúcha Aurora acaba de lançar um espumante zero álcool rosé. O primeiro da vinícola com esse estilo foi lançado em 2019, e, de acordo com o gerente de marketing da cooperativa, Rodrigo Arpini Valério, o incremento nas comercializações da linha zero se deve a um crescimento médio anual de 20% nas vendas desse primeiro rótulo.
Também foram destaque na ProWine vinhos verdes da região do Minho, em Portugal, alguns Riesling da Alemanha e frisantes da Itália com índices de ABV entre 8% e 11,5%.
Vinhos brasileiros inovadores
Os vinhos produzidos no Brasil estão na moda, o que resulta de sua qualidade e de uma enologia bastante ousada. Vinícolas e projetos inovadores surgem a todo momento e em diversas regiões do país.
Os espumantes crescem em quantidade de exportações, agora com mais relevância após a criação da D.O. (Denominação de Origem) da região de Altos Pinto Bandeira, além de recentes premiações alcançadas - uma delas o excelente desempenho no concurso do Mondial des Vins Extrêmes 2023, na Itália.
Ao todo, foram 16 premiações recentes para vinhos dessa D.O., entre elas três Grande Medalha de Ouro e dez Medalha de Ouro. A vinícola catarinense Quinta da Neve alcançou a maior pontuação do concurso com seu Quinta da Neve Touriga Nacional 2022.
Outro lançamento nacional é a edição limitada de um Trebbiano de vinhedo com 45 anos de idade, o chamado “vinha velha”, produzido pela Miolo. Esse vinho foi elaborado a partir de fermentação espontânea com leveduras selvagens, sem adição de sulfitos e com o selo The Vegan Society, por ser 100% vegano. Se você imagina algo rústico no paladar, vai se surpreender.
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