Envelhecimento em madeira confere ao vinho complexidade de aromas e sabores. Crédito: Shutterstock
Ao comprar um vinho, é comum que a gente tente descobrir se determinado rótulo é ou não barricado, ou seja, se passa ou não pelo processo de envelhecimento em madeira - o que, de forma geral, confere ao vinho mais complexidade de aromas e sabores.
As nomenclaturas Reserva e Gran Reserva, que muitas vezes vêm indicadas na garrafa, podem sinalizar se a bebida envelheceu ou amadureceu em barris de carvalho.
Cada país produtor tem uma legislação específica quanto a isso, porém, há um aumento recente na busca por vinhos mais leves e frescos. Isso me faz pensar que vinhos com alto teor alcoólico e passagem por madeira estão mesmo fora de moda.
Listei abaixo cinco argumentos que comprovam essa nova tendência no mundo vinícola. Confira!
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NOMENCLATURA CHILENA
Algumas vinícolas chilenas estão retirando das garrafas, em novos rótulos, os termos Reserva e Reservado (termo específico do Chile). A ideia é que essas nomenclaturas deixem de ser “norteadores de qualidade" na hora da compra. Isso atende principalmente ao consumo dos jovens, que demonstram preocupação com outros pilares, como a sustentabilidade e a origem da produção, em vez de um possível potencial de guarda do vinho, que, em tese, seria garantido pela madeira.
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TANQUES DE CONCRETO
O Guia Descorchados de 2024, maior referência em vinhos da América do Sul, incluiu pela primeira vez dois rótulos com 100 pontos (a pontuação máxima), feito inédito em 26 anos de publicação. Claro que isso deu o que falar, principalmente pelas escolhas do crítico Patrício Tápia, autor do guia. Tratam-se de dois Malbecs, argentinos, de duas vinícolas bastante conhecidas, a Zuccardi e a Catena, com os respectivos Finca Piedra Infinita Supercal 2021 e Adrianna Vineyard Mundus Bacillus Terrae 2021. Chama a atenção nesses vinhos o fato de que nenhum deles foi envelhecido em barris de madeira, apenas em tanques de concreto. A decisão dos enólogos foi justamente explorar a casta e deixá-la da forma mais singular possível, trocando os aromas terciários da madeira por uma explosão de sabores minerais e salinos do terroir.
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BARRICAS EM BAIXA
Em 2023, a Federação Espanhola de Vinho declarou ter um excesso de vinhos tintos de Rioja em estoque nas vinícolas. A região de Rioja é uma das principais referências do vinho espanhol e a pioneira em obter classificação de Denominación de Origen Calificada (D.O.Ca.), com um controle altamente rigoroso. Tirando os vinhos jovens, todos os outros termos, como Crianza, Reserva ou Gran Reserva, estagiam em barris de carvalho. Um Gran Reserva de Rioja, por exemplo, tem que envelhecer por pelo menos 60 meses, dos quais 24 meses precisam ser em carvalho. Por conta desse sistema de amadurecimento, estima-se que Rioja detenha um dos maiores parques de barricas do mundo. Mas há um estudo da própria Federação de Vinhos da Espanha que pode mudar a legislação e determinar que tal envelhecimento aconteça em menos tempo do que o que está em vigor hoje. O alto estoque das vinícolas é uma provável resposta do mercado para esse tipo de vinho.
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BRANCOS EM ALTA
O vinho branco está em destaque, e a produção desse tipo de vinho cresce mundialmente, chegando a 49% nos últimos anos. Segundo a Nielsen, empresa especializada em dados do mercado, os brancos têm segurado a onda do setor, mais do que os tintos, e, para muitos, o clima mais quente faz com que a procura por bebidas mais frescas seja também natural. Nesse embalo, o Vinho Verde, de Portugal, vem entregando ainda mais opções leves e ligeiramente frisantes. Não que não haja vinho verde de guarda, mais elegante ou envelhecido em madeira. A questão é: a CRVV, Comissão Regional de Vinho Verde, entende que a procura é por um vinho pronto para consumo, refrescante, o famoso “fácil de beber”.
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MADEIRAS ALTERNATIVAS
Uma alternativa dos enólogos para suavizar taninos e outras características que alguns vinhos e uvas entregam mais do que outras é apostar em madeiras alternativas, substituindo o tradicional carvalho francês ou americano, que confere aromas e sabores muito típicos, por outras madeiras, como acácia, jequitibá-rosa e ipê. A ideia é trazer complexidade, mas com suavidade. A micro-oxigenação que acontece quando o vinho amadurece em madeira também é muito benéfica para a bebida, trazendo a ela mais equilíbrio. Para o enólogo Giovanni Ferrari, que tem feito essa aposta na vinícola Arte Viva, a madeira aumenta a paleta aromática. “Em boca, ganha-se volume e estrutura, e as madeiras alternativas ou de segundo uso nos entregam isso sem maquiar o vinho. E ainda conseguimos respeitar toda a tipicidade da uva”, diz.
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