A pipoca nos abraça quando estamos na pindaíba ou mesmo quando ficamos jururus . Crédito: Paulo Vilela/Shutterstock
Se ela já surge estourada, nem precisaríamos discutir a questão. Mas vejo que há uma ala conversadora que vive por marginalizar a legalidade prazerosa em classificar milhos “rebentados” pelo fogo como a oitava maravilha da gastronomia.
E se o futuro ainda for ancestral, chegou a hora de blogueiras comercializarem seus reels em franquias indígenas de pipoca sabor urucum no lugar de temperar a espiga do Sr. Visconde com leite em pó e creme de avelã.
Muitos falam da internacionalização da pizza, mas pouco ouço sobre a despretensiosa popularização da pipoca. Outra que carrega diversos carimbos no passaporte, viaja da primeira à última classe para frequentar cinemas de todo o mundo, igrejas de todos os credos, circos dos mais variados tipos, além de portões de escolas, pontos de ônibus, cantigas infantis, corridas de rua e até blocos carnavalescos nas ruas de Salvador.
A pipoca não rivaliza com o camarote - afinal, sabe que ela é quem verdadeiramente diverte qualquer festa.
A pipoca nos abraça quando estamos na pindaíba ou mesmo quando ficamos jururus e se conecta a um conjunto grande de palavras com origem tupi - talvez por isso harmonize com guaraná.
Parceira controversa do teatro, é comida boa para compartilhar (egoístas discordarão) e um fast food por excelência. Requer pouco esforço de preparo e, geralmente despretensiosa, aceita coreografias sociais discretas para um consumo minimamente prazeroso. Quando barulhenta e perfumada, chama atenção e convoca filas - mas dificilmente promove confusões.
Sou a favor do uso medicinal, recreativo e religioso da pipoca. É ótimo ansiolítico que ajuda a posicionar mãos em socializações temperadas por um nervosismo gradualmente substituído pelos ruídos crocantes de uma dança entre os dentes.
Às vezes, requer uma etiqueta mastigativa porque os misófonos não passarão e isso pode ser um enorme saco, convenhamos. Mas pode ser um balde, uma bacia ou uma panela inteira também.
Agrada a gregos e a veganos, em versões de todas as cores e misturas – até quando se tornam questionavelmente meladas. Sua performance explosiva é acolhida e respeitada na diversidade de milhos - dos trans aos crioulos. O milho que virou pipoca: são múltiplas as camadas para essa mudança de identidade.
Se acabar o milho, é claro, acaba a pipoca também. Mas quando manifestos culinários são capazes de tornar mais legais novos ditados em seus dizeres, o segredo é aplaudir a pipoca e, com o perdão da sinceridade, desejar que o piruá calorosamente se exploda!
Este vídeo pode te interessar
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.
Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível