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  • Murilo Góes

    Gastrônomo e pesquisador das culinárias brasileiras que também cozinha umas palavras

O dia em que Fernanda Torres cozinhou pra mim

Publicado em 27/01/2025 às 14h51

Era um sábado e eu estava de folga no Rio. Fazia calor, óbvio. A gente se falou por telefone na hora do café, enquanto ela bebia chá e mastigava uma tapioca.

Como a intérprete de Vani e Fátima já tinha dito a Fernanda Young que não gostava de praia, sugeri um encontro de almoço tardio.

Perdi um mate gelado com limão à beira-mar, mas fui recebido com um churrasco de vegetais feito por Andrucha e que acompanhava molhos ótimos produzidos pela própria - exatamente como dissera à Ana Maria Braga.

Eu já sabia que ela não gostava muito de doces, por isso fiquei curioso com a sobremesa. Abacaxi, talvez?

Resolvi esperar o momento perguntando o que ela achava do suflê de queijo da Eunice Paiva e lembro que respondeu alguma coisa sobre Pokémon. A conversa seguia totalmente divertida. E antes que ela sugerisse recolher os pratos, meu maldito despertador tocou para interromper esse sonho delirante.

É claro que estou passando tempo demais assistindo tudo e qualquer coisa sobre Fernanda Torres - afinal, o nome dela não sai das minhas conversas à mesa porque até as comidas triviais ficaram mais prazerosas.

A atriz e escritora Fernanda Torres

Fernanda Torres. Crédito: Ronny Santos/Folhapress

A atriz fez do cinema nacional uma bandeira para pensar nossa identidade em muitos aspectos - dentro e fora de casa. Ao declarar em entrevista que o Brasil é uma ilha continental isolada pelo idioma, pensei como é complicado para um gringo pronunciar “brigadeiro” antes mesmo de ser convidado a arriscar um “mané-pelado”.

Sim, somos um país farofeiro que saúda a mandioca e consome a própria cultura, mas boa parte do mundo ainda nem chegou a nos degustar nos sabores mais próprios.

Quanta riqueza ainda está aqui, também escondida da própria população que flerta com a ditadura da padronização gastronômica e desconhece frutas nativas como grumixama, juá, sapoti, cambuci, pitangatuba, butiá, umbu, jenipapo - e outras tantas indicações pelas quais já somos premiados.

Quando alguma coisa fura essa bolha e chega nos outros países, a gente sente orgulho e precisa aproveitar. Diria o chef Max Jaques que para gostar de cozinha brasileira é preciso gostar de Brasil. Resumindo: é preciso dar um jeito, meu amigo.

Sigo sonhando com nossa antropofagia. E também com a Fernanda. Aliás, aproveito pra deixar um recado: voltando do Oscar, topo o churrasco de vegetais, ok?

“A vida (no Brasil) presta. Beijos.”

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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