Entre 2023 e 2024, algumas vinícolas brasileiras completarão 50 anos desde o início do plantio de uvas viníferas no país. E para quem ainda duvida se o Brasil faz vinho bom, vale a pena rever conceitos.
Blends com uvas de diferentes regiões, resgate do plantio de castas italianas, pouca ou nenhuma passagem por madeira e vinificações com menos extração estão entre os pilares do trabalho de uma nova geração de enólogos no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul.
Pude conferir de perto essa nova identidade e a qualidade desses vinhos durante uma viagem recente que fiz à Serra Gaúcha.
Até pouco tempo, produtores e enólogos da região eram criticados por não imprimir personalidade ao criar seus rótulos, com muitos tentando copiar vinhos do Chile e da Argentina.
No momento atual, grande parte das cantinas gaúchas mostra-se ousada e muito segura dos resultados que pretende alcançar na taça.
As famílias tradicionais italianas que iniciaram o plantio de uvas de mesa ao chegar à região hoje dão lugar a uma geração arrojada e sedenta por novidades.
MACERAÇÃO CARBÔNICA
A vinícola Cristrófoli é comandada por Bruna, Letícia e Lorenzo Cristófoli, que formam a quarta geração da família e cuidam hoje do negócio como um todo, desde a vinificação até a comercialização e o atendimento aos visitantes do local.
Bruna conta que o simples fato de uma uva nunca ter sido vinificada de um determinado jeito não impede que se crie algo novo com ela. “Com o nosso Tannat, elaborado por maceração carbônica, queríamos um vinho mais delicado, mas que também fosse presente em boca ”, explica.
O rótulo citado por ela faz parte da linha Coleções, que traz justamente o conceito de inquietude. “A ideia é dar vida a vinhos de estilos distintos com variedades emblemáticas”, completa a enóloga.
A enóloga Bruna Cristófoli pertence à quarta geração da família. Crédito: Emerson Ribeiro
O Coleções Tannat da Cristófoli é bem curioso. Não pense que você vai encontrar nele taninos poderosos e aquela acidez marcante característica da uva. Aqui ela se mostra com toques lácteos, que lembram aromas de balinha de framboesa e até mesmo banana. É um vinho intenso no aroma, com frutas negras e especiarias aparecendo após uma girada na taça.
O resultado se dá pela maceração carbônica na hora da vinificação. Esse método faz uma extração mais suave e o vinho fica mais delicado, preservando os aromas mais frescos. É um Tannat que vem se destacando em concursos e já coleciona prêmios, como a medalha Gran Gold no Wines Of Brazil Awards. A garrafa custa R$ 158,90 no e-commerce da Cristófoli.
MINERALIDADE RARA
Outro vinho que me chamou a atenção foi o Trebbiano da vinícola Monte Chiaro, com amadurecimento de três meses em barricas francesas.
A uva é conhecida por não ter tanta estrutura para suportar madeira e originar vinhos com tanto frescor, mas nesse vinho ela entrega uma mineralidade difícil de encontrar nos vinhos brancos nacionais.
As uvas cultivadas em Monte Belo, região de solo pedregoso, evidenciaram essa característica. A madeira é muito sutil e aparece mais no paladar do que no olfato.
A ideia do casal de enólogos Bruna Dachery e Lucas Dal Magro foi produzir algo que equilibrasse os dois mundos do vinho branco: um superfresco, leve e aromático e outro mais estruturado, com passagem por barrica.
“De modo geral, não é nosso estilo marcar muito o vinho com carvalho, e sim respeitar o seu uso, de modo que a madeira seja um coadjuvante e ajude a potencializá-lo”, explica Bruna Dachery, também proprietária da vinícola.
Todos os rótulos da Monte Chiaro trazem estampadas nas garrafas aquarelas pintadas com vinho. O valor do Trebbiano é R$ 84 e as garrafas são vendidas pelo Whatsapp da vinícola, (54) 9117-1441.
Trebbiano da Monte Chiaro equilibra dois perfis distintos de vinho branco. Crédito: Monte Chiaro/Divulgação
ESPUMANTE FORA DA CURVA
Enquanto enólogos mais tradicionais optam por fazer espumantes com Chardonnay e Pinot Noir, outros procuram inovar. Então, não se assuste ao encontrar um rosé elaborado com Sangiovese, casta tipicamente italiana e muito usada em tintos.
É assim o espumante Irradia, da vinícola Audace, que tem ainda 50% de Pinot Noir. Rosé Brut de método tradicional e safrado, ele já foi eleito o melhor espumante rosé do país pela Grande Prova de Vinhos do Brasil em 2020.
Com boa cremosidade em boca, o Irradia é elegante e untuoso, e seus aromas são um pouco diferentes, com frutas misturadas a doce cristalizado e castanhas.
O nome da vinícola, Audace, diz muito sobre sua proposta, que é justamente ousar e trazer inovação ao vinho. Quanto: R$ 93 a garrafa na curadoria de vinhos brasileiros Seleção Terroir, que entrega na Grande Vitória. (27) 98162-9011.
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