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Publicado em 16 de novembro de 2022 às 18:11
O restaurante Sâo Pedro foi inaugurado na época em que a moqueca capixaba não era popular como hoje, e ficava praticamente restrita às residências de famílias tradicionais de Vitória.
Em 1952, ano em que o São Pedro foi inaugurado, o prato ícone do Espírito Santo foi à mesa de um restaurante pela primeira vez em panelas de barro e com seus acompanhamentos clássicos (pirão e arroz), como conta a jornalista Andréia Curry no livro "Restaurante São Pedro - 60 anos de Tradição em Moqueca".
Mas esse não é o único fato que liga a história da moqueca capixaba à do Sâo Pedro, que completa 70 anos no próximo dia 22 de novembro, funcionando no endereço original, o número 98 da rua Desembargador Ferreira Coelho.
Os tripés de ferro que vemos sustentar as panelas sobre a mesa foram inventados lá, e os fundadores da casa, Hercílio Alves da Silva e Almerinda Corina da Silva, são pais de Hercílio Alves da Silva Filho, o Pirão, um dos moquequeiros mais famosos do Estado.
Filha mais velha do Sr. Hercílio, Ruth Alves da Silva assumiu a direção da casa após o falecimento do pai, em 1995. Em 2010, seu sobrinho Victor José Curry Carneiro passou a ajudá-la na administração. Em 2020, após Ruth sofrer um acidente doméstico e afastar-se das funções no São Pedro, Victor assumiu o comando.
O restaurante familiar preserva não somente sua história, contada em parte pelo mobiliário antigo e pelas paredes decoradas com fotos de celebridades que passaram por suas mesas, mas conserva também o estilo único de sua moqueca.
Nela, o peixe cozido à perfeição vai coberto pelas folhas de coentro, colocadas com seus respectivos talos, de forma que quem não aprecia o tempero possa removê-lo com facilidade.
O caldo, encorpado e extremamente saboroso, envolve generosos tomate em cubos e cebola em rodelas. De acompanhamento, o arroz ganha a tonalidade do urucum, corante natural da moqueca, além da companhia do pirão, cuja receita é segredo de família.
Para a chegada dos seus 70 anos, o São Pedro não terá uma programação específica. O aniversário foi comemorado em um almoço antecipado, para convidados especiais e jornalistas, no último dia 11, com direito a bolo e parabéns.
A seguir, reunimos outras cinco curiosidades na trajetória desse setentão que segue em ótima forma, para alegria dos fãs de carteirinha da nossa moqueca. As informações são do arquivo de A Gazeta e da jornalista Andréia Curry, neta dos fundadores do São Pedro.
O INÍCIO
Na década de 1940, antes de virar restaurante, o Sâo Pedro era um armazém de secos e molhados, que vendia de utensílios a alimentos. No início dos anos 1950, foi criada nele uma sala de almoços para atender trabalhadores da Companhia Porto de Vitória, que construía na época o aterro de Bento Ferreira.
MOQUECA DE SUCESSO
Dos pratos servidos na sala de almoços, a moqueca capixaba foi o que mais se destacou. Os frequentadores logo começaram a pedir que o prato se repetisse em outros dias. Com o aumento da demanda, Hercílio fundou o restaurante São Pedro, especializado em moqueca, e o sucesso da comida de sua esposa, dona Almerinda, foi imediato. Em poucos meses, filas se formavam em frente ao restaurante.
A AMPLIAÇÃO
Em julho de 1962, o São Pedro passou por uma grande reforma e adquiriu sua configuração atual, ocupando os 700 metros quadrados do terreno em que foi construído. O restaurante ganhou um salão de 70 metros quadrados, ladeado por um jardim de igual tamanho, e um quintal arborizado. FOTO: Afonso Martins
PROGRESSO NO BAIRRO
Com a inauguração do restaurante, a Praia do Suá acabou progredindo. O governador do Estado na época, Francisco Aguiar, era frequentador habitual do São Pedro e mandou pavimentar as ruas principais do bairro.
CELEBRIDADES À MESA
A lista de personalidades que provaram da comida do São Pedro inclui nomes da Dramaturgia (Procópio Ferreira, Fernanda Montenegro e família), do Humor (Chico Anysio, Ziraldo, Moacir Franco), da Música (Clara Nunes, Nara Leão, Luiz Gonzaga, Lulu Santos, Titãs) e da Política (Carlos Lacerda, Ulysses Guimarães, Juscelino Kubistchek). Celebridades internacionais, como a cantora de jazz norte-americana Sarah Vaughan (1924-1990), também estiveram lá. Muitos deles tiveram sua visita registrada em fotos e também em depoimentos nos livros guardados por dona Ruth. FOTO: Bernardo Coutinho/Arquivo A Gazeta
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