Eu não vou falar de Barbie, prometo. Mas vou falar da inundação de comidas cor-de-rosa nas redes sociais e de fast-food. Não dá pra evitar, né?
Influenciadores que produzem receitas tacaram corante até no arroz à essa altura, e não tem um hambúrguer à venda sem molho com aparência de chiclete.
Essa sazonalidade facultativa é curiosa. No geral, não gostamos muito da sazonalidade obrigatória, aquela da natureza, que nos oferece cardápios diferentes ao longo do ano.
Hambúrguer com molho cor-de-rosa lançado pelo Burger King no Brasil. Crédito: Reprodução/Instagram @chefjulianoalbano
Estamos mal-acostumados com tomates e morangos em todas as estações, e parecemos não nos importar quando eles não têm gosto de nada. Mas a empolgação é perceptível quando começam a chegar torta capixaba, canjica, até mesmo aquele bolinho de chuva nas tardes molhadas.
As comidas cuja sazonalidade são herança da cultura trazem um quê de imprevisibilidade que colore a rotina, nos alegra, faz com que apreciemos mais aquele prato que gostamos, já que ele só estará disponível por tempo limitado.
Já a sazonalidade compulsória da natureza é quase castigo, revela nossa skin mais reclamona, que se irrita na aliteração da água de coco aguada do outono.
Não somos tão racionais quanto gostamos de pensar, e carregamos lá no fundinho uma lembrança sofrida de quando o ecossistema podia decidir se íamos comer ou não.
Mas talvez seja hora de abraçar as sazonalidades todas com cabeças e estômagos abertos. Eu sei a felicidade que me traz o primeiro gole do suco que tangerina que minha padaria preferida serve só uns dois meses no ano. É tão gostosa quanto a primeira dentada de rabanada. E aposto que é melhor que os petiscos cor-de-rosa do momento.
Viu como não falei de Barbie?
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