
Vinícola Tabocas, localizada em Santa Teresa. Crédito: Tabocas/Instagram
Já tem um tempo que o Espírito Santo está no mapa dos vinhos finos brasileiros. Além das tradicionais uvas de mesa cultivadas em abundância no estado desde o início dos anos 2000, planta-se aqui a Vitis vinifera, uva ideal para vinificação. E a evolução de produtividade e qualidade com a adaptação das videiras ao terroir capixaba tem sido notável.
Já temos plantio de diversas cepas, como a Cabernet Sauvignon, pioneira, e também de variedades como Syrah, Malbec e Merlot, além das brancas Sauvignon Blanc, Glera e Alvarinho. Alguns cultivos encontram-se em fase experimental, como os de Touriga Nacional e Pinot Noir.
Assim como em outros estados do Sudeste, o plantio dessas variedades só é possível devido ao sistema de dupla poda, que inverte o período da colheita das uvas para o inverno.
Indicação Geográfica
Um exemplo bem-sucedido é Minas Gerais, que acaba de conquistar a Indicação Geográfica de vinhos de inverno, reconhecimento acerca da qualidade do que estão produzindo por lá. Tal conquista requer um longo caminho a ser percorrido, e a gente espera que o Espírito Santo também seja contemplado em algum momento.
Para Vinícius Corbelini, enólogo da vinícola Tabocas, em Santa Teresa, o principal desafio hoje é mostrar o vinho capixaba para o mundo. “Já temos vinhos de alta qualidade, acessíveis ao mercado, mas precisamos encantar o público. Poucos conhecem o potencial que temos para o vinho branco. Vejo como um crescimento que acontece aos poucos mesmo”, declara.
Na Tabocas, foram feitas várias mudanças e adaptações, tanto no manejo do vinhedo como no uso de tecnologia e biotecnologia. A produção ainda é bem limitada, com edições de rótulos de 1.400 garrafas apenas - e que são comercializados pelo Brasil todo.
Neste ano, a vínicola teresense anunciou a nova safra da Alvarinho, o 2024, que em breve deve ficar disponível para venda. É um vinho com bastante intensidade e estrutura, chegando aos 14,7% de álcool, com acidez vibrante e frescor mineral. No nariz e no paladar, ele apresenta notas cítricas e florais.
Para o enólogo, o rótulo faz uma combinação perfeita com pratos da gastronomia regional, como a moqueca capixaba. “Sua acidez e frescor fazem dele a escolha ideal para moqueca, mariscos, peixes e frutos do mar”, complementa.
Destaque em meio aos cafezais
Em Pedra Azul, no distrito de Aracê, tem vinhedo roubando a cena em meio aos cafezais, na Carrereth. Localizada a mil metros de altitude e distante 80 quilômetros do litoral, a vinícola tem dado o que falar entre os profissionais do vinho.
Seu último lançamento é o Catarina, de Sauvignon Blanc, safra 2024, feito com uvas de colheita manual e com estágio de cinco meses sobre as borras finas, o que sem dúvida lhe trouxe mais complexidade.
Segundo as notas sensoriais avaliadas pelo sommelier capixaba Pedro Pereira, que atua em São Paulo, os aromas dele são os clássicos da Sauvignon Blanc: maracujá e abacaxi, com um toque herbáceo que lembra aspargos, rúcula e arruda.
Em boca, é um vinho vibrante, com ótima acidez e frescor. “Tenho a impressão de que ainda vai melhorar muito em garrafa. Ao tentar adivinhar de onde seria esse Sauvignon Blanc, meus colegas pensaram em alguma região chilena, e se fosse brasileiro, disseram que talvez seria de São Paulo. E veio a surpresa para todos, pois o vinho é capixaba. Um motivo de grande orgulho”, declara.
O Catarina já está disponível para venda e a garrafa pode ser adquirida por R$ 120 diretamente com o proprietário da vinícola, Rodolpho Carrereth (veja o contato no final desta coluna).
Para fãs de tintos
Para os fãs de tintos, uma dica que vale a pena conferir é o Terre Gialle, blend com 50% de Cabernet Sauvignon e 50% de Syrah produzido na Cantina Grotteschi, em Santa Teresa. O produtor Levi Loretti engarrafou o último rótulo em 2022 e optou por deixar o vinho descansando por mais dois anos em cave, para amaciar os taninos.
Com mínima intervenção, vinificado com leveduras selvagens e sem filtro, o resultado é potente e apresenta um toque sutil herbáceo, com notas de pimenta preta, tomilho, menta, pimentão verde e frutas secas, como ameixa e uva passa, evoluindo para caramelo e café.
Sua acidez é média, seus taninos marcantes, tem boa permanência em boca e o álcool é equilibrado. Pede harmonização com um risoto com carne. O Terre Gialle também pode ser adquirido diretamente com os produtores, a R$ 140 por garrafa.
Vinícolas citadas:
- Tabocas - Vale do Tabocas, Santa Teresa. Mais informações: @vinicolatabocas_es e (27) 99840-7860.
- Carrereth - Aracê (Pedra Azul), Domingos Martins. Mais informações: @vinicolacarrereth e (27) 99239-2750.
- Cantina Grotteschi - Santa Teresa. Mais informações: @terre_gialle e (27) 99644-1934.
Este vídeo pode te interessar
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.
Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível