O Cerrado, segundo maior bioma da América do Sul, é conhecido como a savana brasileira. Sua paisagem é repleta de árvores baixas com troncos grossos e tortuosos, além de muitas pedras e arbustos, e a vegetação é totalmente controversa à vinicultura. Fica até difícil imaginar parreirais dividindo espaço com cipós, seriemas e tucanos, mas acredite: é uma realidade possível.
De uns tempos para cá, o conceito de terroir, que é a combinação de clima e solo para o cultivo da uva vinífera, tem sido bastante repensado. Vale incluir aí o resultado da interação entre homem e natureza, como afirma a própria Organização Internacional do Vinho (OIV), com sede na França.
É através de pesquisas e do uso da tecnologia que torna-se provável o plantio de uvas viníferas em quase todo o Brasil, até mesmo em meio aos chapadões e no solo pantaneiro.
Já falei por aqui sobre os vinhos das regiões Nordeste e Sudeste, e agora seguimos desvendando a Centro-Oeste. A seguir, falo sobre três vinícolas da região que vale a pena conhecer.
LOCANDA DO VALE
Situada no município de Chapada dos Guimarães, a 62 quilômetros de Cuiabá, capital do Mato Grosso, o projeto Locanda do Vale teve início há três anos, sob o comando do casal Luiz Oliveira e Raquel Molina, que trabalham com consultoria ambiental.
Atualmente, vinícola possui quatro hectares de vinhedos com variedades americanas e viníferas, como Cabernet Sauvignon, Syrah, Pinot Noir, Marselan, Sauvignon Blanc e Viognier.
Locanda do Vale fica no município de Chapada dos Guimarães (MT). Crédito: Locanda do Vale/Divulgação
A que merece maior destaque é sem dúvida a Syrah, que repete no Cerrado o manejo da dupla poda muito conhecido no Sudeste. A primeira vinificação rendeu 120 garrafas de um Syrah sem madeira, com notas florais, especiarias e frutas vermelhas frescas. Na boca, esse vinho surpreende pelo frescor, com ótima acidez e taninos firmes. É, sem dúvida, muito elegante.
A Locanda produz outros dois rótulos: um Sauvignon Blanc co-fermentado com Viognier e um Syrah amadurecido por 12 meses em carvalho francês. Todos, por enquanto, só são comercializados no local, mas existe a promessa de uma expansão na produção com a colheita deste ano.
“Tudo é ainda um experimento. Estamos entendendo o que funciona melhor por aqui, mas já muito contentes com os resultados”, completa Luiz, que também é agrônomo.
A vinícola também oferece passeios turísticos que incluem visita guiada, degustação de vinhos com petiscos, piquenique e até um tour fotográfico. As informações estão todas no site (www.locandadovale.com.br), por onde também são realizadas as reservas. As atrações custam a partir de R$ 220 por pessoa.
TERROIR PANTANAL
A vinícola Terroir Pantanal fica no caminho para o Pantanal, próximo a Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. Quem estiver indo para a região pantaneira, agora já sabe que pode estender um pouquinho para conferir o plantio de uvas naquela área.
A paisagem dali é diferente e deslumbrante ao mesmo tempo. O Morro do Chapéu faz sombra para os parreirais e para todo o cenário pantaneiro em volta, com direito a trilhas e mirantes.
Paisagem da Terroir Pantanal inclui o imponente Morro do Chapéu . Crédito: Terroir Pantanal/Divulgação
A Terroir ainda não produz seus próprios vinhos, mas já tem a marca própria de espumantes, Florada dos Ipês, elaborada em parceria com a vinícola Don Guerino, no Rio Grande do Sul.
Os vinhedos da Terroir Pantanal já têm três anos desde o plantio. A intenção é que em 2024 as primeiras garrafas já estejam prontas, passada essa primeira fase experimental.
A estrutura da vinícola para a vinificação também não está finalizada, mas os parreirais podem ser vistos e visitados, tanto os com uvas de mesa como os de cepas internacionais - Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon, Syrah e Marselan.
Como a proposta é divulgar a região, a vinícola investiu bastante nas experiências de enoturismo. No total, são oferecidas oito atividades, que vão desde almoços harmonizados e wine bar até cavalgadas e sunset. As atrações custam a partir de R$ 150 por pessoa. Mais informações pelo site www.loja-terroirpantanal.paytour.com.br.
PIRENEUS VINHOS VINHEDOS
Em uma cidadezinha rodeada por cavernas e cachoeiras, na Cocalzinho de Goiás, fica a Pireneus Vinhos Vinhedos, a 104 quilômetros de Brasília. O lugar é conhecido como o terroir do Cerrado Brasileiro de Altitude.
As videiras da vinícola começaram a ser plantadas em 2005 pelo médico e sommelier Marcelo de Souza, com mudas provenientes da Itália. São quatro as variedades viníferas: Syrah, Tempranillo, Sangiovese e Barbera.
O sommelier Marcelo de Souza fundou a Pireneus Vinhos e Vinhedos. Crédito: Costa Scarel
Alguns rótulos da Pireneus já conquistaram prêmios importantes. Um deles, o Bandeiras, é elaborado com Barbera, e o Intrépido com Syrah, foi um dos grandes campeões do Wines of Brazil de 2023.
Para driblar o período das chuvas na região, a poda na Pireneus também é invertida, com a colheita realizada no inverno. A vinificação acontece na vinícola, que surpreendeu neste ano com o lançamento do primeiro espumante da região Centro-Oeste, o Pireneus Terroir Brut.
Ele é elaborado com duas castas tintas, a Barbera e a Syrah, pelo método tradicional, com um ano e oito meses do líquido em contato com as leveduras.
Os vinhos da Pireneus já estão disponíveis para todo o Brasil, e estão à venda inclusive aqui no Espírito Santo. Uma garrafa da linha Terroir, que engloba os varietais com Shiraz e Tempranillo, custa a partir de R$ 108 na Empório Vino do Sul ((27)99249-2351). O site da vinícola para mais informações é o www.pireneus-vinhos-vinhedos.business.site.
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