'Botox pirata': dermatologistas alertam para os perigos do Israderm

Produto proibido no Brasil foi descoberto pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Segundo as informações, o produto não tem  registro na Anvisa e pode causar necrose

Aplicação de botox

Aplicação de botox. Crédito: Shutterstock

O botox, o queridinho nos consultórios dermatológicos, faz a alegria de mulheres e homens preocupados com a vaidade. Cada dia é maior o número de pessoas que se rendem a toxina botulínica, substância que revolucionou o mundo da beleza. Ela é indicada para diversos problemas e foi usada, pela primeira vez, por oftalmologistas para tratar estrabismo. Mas com tantas ofertas, é preciso cuidado.

Na última semana, foi divulgado que a polícia e a Vigilância Sanitária do Rio Grande do Sul descobriram o uso de um 'botox pirata' numa clínica de procedimentos estéticos em Porto Alegre. A cirurgiã-dentista Sandrelle Arcipretti estaria aplicando em clientes o produto Israderm, uma suposta toxina botulínica e, como o produto é proibido no Brasil, ela foi presa em flagrante.

A Anvisa proibiu, em junho do ano passado, a comercialização, distribuição, fabricação, propaganda e uso do produto no Brasil. Segundo o Fantástico, um cirurgião plástico de Foz do Iguaçu (PR) afirma que tratou de pacientes que disseram ter usado o produto e tiveram infecções. "A gente já viu necroses de perdas do nariz e outras áreas da face devido esse tipo de complicação", disse ao programa dominical.

De acordo com o Fantástico, o frasco de Israderm tem sido comercializado por até R$ 350, enquanto o botox original é vendido por R$ 900. Apesar da venda proibida no país, o produto é liberado no Paraguai e seria vendido para brasileiros com envio pelo correio.

"Israderm é um produto que vem sendo aplicado em clínicas de estética no Brasil e em outros países, que não tem origem de fabricação ou conhecimento de fórmula conhecidos. Quem usa esse material não sabe ao certo o que está injetando nos seus pacientes, e há diversas complicações como infecções e alergias descritos no país após a aplicação do material", explica a dermatologista Renata Bortolini.

Mas  é possível o paciente saber se o produto é pirata? A dermatologista conta que cada frasco da toxina botulínica vem com o número do lote registrado e o acesso a esta informação é direito do paciente, entretanto, dependendo do nível da falsificação, o produto pode ter frasco e rótulo similares ao original. E para descobrir se esse número é verdadeiro haveria a necessidade de contato com a fabricante do produto para averiguação.

"Na prática, esse controle pelo paciente é trabalhoso, então escolher um profissional capacitado e que você confie tecnicamente e eticamente ainda parece ser o melhor caminho para cuidar da beleza sem arriscar a saúde"

"Na prática, esse controle pelo paciente é trabalhoso, então escolher um profissional capacitado e que você confie tecnicamente e eticamente ainda parece ser o melhor caminho para cuidar da beleza sem arriscar a saúde"

Renata Bortolini

A médica explica que, como todo procedimento, a aplicação de toxina botulínica pode ter complicações. "Existem os riscos relacionados a qualidade do material, a técnica de aplicação e ao organismo do paciente. Vimos nesse caso do Rio Grande do Sul complicações pelo uso do produto de origem desconhecida que também podem acontecer com os outros materiais usados na aplicação como as seringas, as agulhas e o soro fisiológico, usado para a diluição do produto. As complicações mais envolvidas nessa etapa são as infecções que podem ser de curso e tratamento simples ou até mesmo graves e deixar cicatrizes deformantes", diz Renata Bortolini.

CUIDADOS

A toxina botulínica bloqueia o estímulo para a contração do músculo, por isso ele trata as rugas dinâmicas, aquelas que aparecem quando fazemos mímicas. A dermatologista Sandra Federici explica que é, por volta dos 25 anos, quando o movimento muscular começa a formar as rugas, o momento para iniciar o uso do produto. Ela ressalta que não conhecia a marca Israderm. "Com certeza, é um produto falsificado. Existem marcas conhecidas no mercado com registro na Anvisa, somos proibidos de usar qualquer produto sem este registro", ressalta.

A médica conta que a aplicação da toxina botulínica requer conhecimento de anatomia e da mecânica dos músculos da face, e não é uma aplicação pura e simples de qualquer produto. Por isso, é importante a escolha do profissional. "Os dermatologistas se atualizam em cursos e estudam muito para aplicar. Infelizmente, a técnica se vulgarizou em clínicas estéticas clandestinas, que praticam preços mais baratos incompatíveis com os melhores produtos do mercado, e muitas vezes são produtos piratas", alerta. 

"Se não aplicada com cautela e conhecimento, a toxina botulínica pode gerar problemas, pois a mímica facial é complexa. Trabalhamos com músculos que têm efeitos antagônicos e outros sinérgicos"

"Se não aplicada com cautela e conhecimento, a toxina botulínica pode gerar problemas, pois a mímica facial é complexa. Trabalhamos com músculos que têm efeitos antagônicos e outros sinérgicos"

Sandra Federici

A médica Renata Bortolini explica para qual tipo de ruga ou linha de expressão o botox funciona melhor. "A toxina relaxa a musculatura, então ela é especialmente importante para as rugas que surgem durante a mímica facial, quanto menos movimentamos aquela região menor a chance de rugas se formarem na pele". 

Elas reforça os cuidados na hora de fazer o tratamento estético. "Na hora de escolher o profissional, a formação acadêmica é um ótimo filtro, para fazer parte das sociedades de especialistas como a de dermatologia no Brasil todos tiveram que comprovar tempo de estudo ou de atuação na área. Já na consulta, observe as práticas de higiene, se o material é preparado na sua frente e peça o lote do produto usado em você", diz a dermatologista Renata Bortolini.

Este vídeo pode te interessar

A Gazeta integra o

Saiba mais
Beleza Fique bem
Viu algum erro?

Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido o possível