• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Carrapato-estrela em cães: mitos e verdades sobre a transmissão da febre maculosa

Publicado em 20/06/2023 às 21h05
cão com carrapato

Outros mamíferos, incluindo os cachorros, podem ser infestados por carrapatos-estrela. Crédito: Shutterstock

A febre maculosa sempre existiu, mas ultimamente vem sendo mais divulgada por conta de pessoas que se infectaram e foram a óbito. Após receber questionamentos de leitores querendo saber sobre a possibilidade de animais domésticos, principalmente cães, serem infectados pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), o hospedeiro definitivo da bactéria, a coluna É o bicho entrevistou o médico-veterinário e professor associado do Departamento de Medicina Veterinária de Ciências Agrárias e Engenharia da Ufes, Dirlei Molinari Donatele, e o Subsecretário de Vigilância em Saúde (Sesa), Orlei Cardoso, para saber o que é verdade ou mito em relação à doença.

Dirlei Donatele explica que assim como as capivaras, outros mamíferos, incluindo os cachorros, podem ser infestados por carrapatos-estrela e, consequentemente, a bactéria que causa a febre maculosa, principalmente quando em contato com áreas rurais, matas e parques.

“Vários animais podem atuar como hospedeiros do carrapato-estrela infectado pela bactéria que causa a febre maculosa. A bactéria já foi encontrada em gambás, coelhos, equinos e até cachorros, embora no Brasil pesquisas epidemiológicas demonstrem que a capivara é o principal animal na cadeia de transmissão da doença, pois participa da manutenção na natureza dos carrapatos-estrela, no transporte dos mesmos potencialmente infectados, e como amplificadora da bactéria”.

"Mas é importante salientar, também, que os principais vilões são os carrapatos-estrela, são eles que transmitem a bactéria para o ser humano e os animais. Mas, potencialmente, qualquer espécie de carrapato pode ser reservatório da bactéria, como, por exemplo, aquele comum do cachorro, o Rhipicephalus sanguineus"

"Mas é importante salientar, também, que os principais vilões são os carrapatos-estrela, são eles que transmitem a bactéria para o ser humano e os animais. Mas, potencialmente, qualquer espécie de carrapato pode ser reservatório da bactéria, como, por exemplo, aquele comum do cachorro, o Rhipicephalus sanguineus"

Dirlei Donatele

O médico-veterinário explica, e isso é muito importante, que a capivara, assim como os outros animais, não transmitem a doença para o homem. “A transmissão ocorre pela picada no ser humano do carrapato-estrela infectado”, alerta.

Capivaras, hospedeiros secundários

Orlei Cardoso corrobora com o médico-veterinário, reafirmando que a transmissão da febre maculosa ocorre principalmente através das capivaras (que são hospedeiros secundários) infestadas por carrapatos-estrela infectados pela bactéria. Este ano foram confirmados no Estado 10 casos de febre maculosa em seres humanos, com um óbito registrado em Barra de São Francisco.

"O carrapato-estrela, considerado o reservatório da bactéria, pica uma capivara suscetível, ou seja, que não havia sido contaminada anteriormente, e a partir desse momento se contamina. Essa, por sua vez, passa a contaminar os outros carrapatos-estrela que estiverem aderidos à sua pele, que são trioxenos e utilizam três hospedeiros para completar seu ciclo de vida: descem da capivara, fazem uma troca de pele para crescer, e sobem em outro hospedeiro para um novo repasto sanguíneo, que pode ser um humano"

"O carrapato-estrela, considerado o reservatório da bactéria, pica uma capivara suscetível, ou seja, que não havia sido contaminada anteriormente, e a partir desse momento se contamina. Essa, por sua vez, passa a contaminar os outros carrapatos-estrela que estiverem aderidos à sua pele, que são trioxenos e utilizam três hospedeiros para completar seu ciclo de vida: descem da capivara, fazem uma troca de pele para crescer, e sobem em outro hospedeiro para um novo repasto sanguíneo, que pode ser um humano"

Orlei Cardoso

Segundo o subsecretário, a partir do momento que esse carrapato parasitado infecta o ser humano, esse passa a apresentar sintomas entre o segundo até o 14º dia após a exposição ao vetor. “Lembrando que a capivara, após a primeira infecção, torna-se imune, ou seja, não adquire e tampouco transmite a febre maculosa novamente. Por isso, é muito importante realizar o controle populacional desses animais”.

Ele explica que por isso a observação de filhotes de capivaras é uma informação importante e um alerta para evitar um risco maior na transmissão da doença. Outra questão que deve ser ressaltada é que as capivaras, além de se tornarem reservatórios por um curto período, também são amplificadores da bactéria causadora da doença. Isso significa que nesse curto período (cerca de 15 dias) ocorre um aumento na quantidade do agente infeccioso no sangue do animal, o que faz com que ela contamine mais carrapatos-estrela.

Capivaras aumentam nas áreas urbanas

Orlei Cardoso ressalta que o acesso das capivaras às áreas urbanas não é de hoje. “No caso do interior, especificamente, muitas cidades foram construídas às margens dos rios e esses ambientes são os habitats preferidos das capivaras, já que elas são herbívoras, se alimentam de capim, plantas aquáticas e de plantações que encontram em seu trajeto. E por serem semiaquáticas obviamente circulam em todas as áreas urbanas com essas características, aumentando o risco de transmissão da doença para o ser humano”.

Além disso, explica, vem ocorrendo um grande desequilíbrio populacional das capivaras, com um aumento exponencial. “Só para ter uma ideia, a fêmea tem, em média, cinco filhotes num período gestacional de cinco meses. E ainda há o problema da ausência de predadores, como onças, jaguatiricas, cachorro-do-mato e jacarés. Quanto mais as cidades se aproximam desses habitats mais complicado vai ficando”.

Por isso, nesses casos, o subsecretário faz um alerta aos profissionais de saúde para que fiquem atentos às suas regiões de atuação identificando se existe a possibilidade da ocorrência da doença.

“Os municípios com tais características devem fazer a vigilância acarológica desses ambientes e instalar avisos nos locais com circulação de capivaras e provável presença do carrapato-estrela para que a população fique ciente do risco. E onde houver a possibilidade, construir cercas ao longo dos cursos d’água a fim de evitar que esses animais dispersem os carrapatos-estrela”.

O caminho, segundo o subsecretário, é, sem dúvida, a educação em saúde como principal medida para a prevenção da doença. Ele ressalta que não existe nenhuma comprovação científica a respeito dos benefícios do banho de fumo, muito comum no interior para matar carrapatos. Outra cultura local, é o uso do tição em brasa, que nesse caso pode ser um problema maior, uma vez que no caso do carrapato-estrela ao se defender expõe o conteúdo contaminado, e da pinça, a mais utilizada, onde o animal deve ser torcido levemente e puxado. “Mas nenhuma dessas técnicas evita a infecção. O que a evita é retirá-lo o quanto antes da pele, já que são necessárias pelo menos quatro horas de contato para que a infecção aconteça”, alerta.

Orlei Cardoso garante que a letalidade da febre maculosa é alta, principalmente pela falta da informação ou da percepção de que houve contato com o carrapato-estrela, do local de circulação de capivaras ou até da caça desse animal por medo de punição pelo fato de ser um crime ambiental.

“Embora a gente realize capacitações junto aos profissionais da saúde em todos os municípios, a falta do relato da pessoa impede o diagnóstico mais preciso identificando a febre maculosa como causa possível dos sintomas e isso pode retardar o início do tratamento e, portanto, da medicação. A febre maculosa deve ser tratada com sua suspeição o quanto antes, evitando o agravamento da doença e até um possível óbito devido a sua alta letalidade”, garante.

Confira as principais medidas que devem ser tomadas com os animais domésticos 

  1. Evite levar seu cachorro para passear em locais com a presença de carrapatos.

  2. Cuidado com pet shop, hotel e veículos de transporte para seu animal. Escolha empresas que possuem programas de controle e prevenção de infestação por carrapatos.

  3. Após o passeio com seu animal, não deixe de realizar um exame cuidadoso para visualização de carrapatos.

  4. Utilize produtos para controle e prevenção do carrapato no seu animal recomendado por um médico-veterinário.

  5. Mantenha sempre limpo o ambiente e os objetos utilizados pelo seu animal.

  6. Caso encontre a presença de carrapatos no ambiente, utilize produtos recomendados por um médico-veterinário ou contrate uma empresa especializada, pois vários produtos são tóxicos para os animais.

Confira as principais medidas para evitar a doença em seres humanos

  1. Utilize roupas adequadas quando for necessário visitar locais onde as capivaras circulam: calça (preferencialmente de cor clara para que os carrapatos possam ser vistos); meias longas passadas por cima da calça; bota; camisa de manga comprida; evitar colocar seus pertences no chão e vistoriar o corpo, roupas (inclusive bolsos) e demais objetos à procura de carrapatos, além dos animais de estimação.

  2. Caso encontre carrapato aderido ao corpo, retirá-lo com auxílio de pinça ou luva, evitando o contato direto, pois caso esteja ingurgitado (cheio de sangue), pode acontecer a contaminação se o conteúdo do interior do vetor for exposto e a pessoa tiver cortes na pele ou através da mucosa dos olhos e boca.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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