• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Como agir em caso de exposição à raiva em humanos e animais

Publicado em 01/05/2023 às 08h50
Gado sendo vacinado

Animais que vivem em propriedades rurais como bovinos, equinos, caprinos e ovinos também precisam ser vacinados anualmente. Crédito: Shutterstock

Um caso de raiva humana em um homem de 60 anos, morador de Mantena (MG), que acabou falecendo neste domingo (30), deixou em alerta a população do Espírito Santo, principalmente a cidade de Barra de São Francisco, já que a circulação de cães e gatos entre os municípios capixaba e mineiro é frequente.

A médica-veterinária, mestre em doenças infecciosas e professora na Universidade Vila Velha (UVV), Priscila Camargo Granadeiro Farias, explica que a raiva é uma doença viral que causa um processo inflamatório grave, levando a uma disfunção no Sistema Nervoso Central (SNC). Os sinais neurológicos mais marcantes são: confusão mental, alterações comportamentais, visão turva e até cegueira, tontura, convulsões e perda de movimentos. Em quase todos os casos também há febre.

Ela explica que a transmissão se dá pela saliva do animal infectado, rica em vírus, sendo inoculada em tecidos ou, de forma menos eficiente, em contato com as mucosas como a conjuntiva ocular.

“A raiva pode acometer qualquer mamífero, incluindo o homem, como ocorreu no paciente de Mantena, em Minas Gerais. Cães são considerados os transmissores mais frequentes da raiva urbana no mundo e os morcegos os principais na zona rural. Mas isso não é uma regra. Nos últimos anos, vários morcegos positivos para raiva foram capturados nas áreas urbanas”, ressalta.

A médica-veterinária reforça, então, a importância de manter a vigilância e os investimentos do Estado nos programas voltados à raiva, mas também a necessidade urgente de educar a população em relação a não tocar em morcegos caídos no chão e procurar rapidamente uma unidade de saúde em caso de ser mordido ou arranhado por cães e gatos, para receber orientações e profilaxia adequada após a exposição, a depender do caso.

Para os felinos são realizadas campanhas de vacinação anuais gratuitas contra a raiva, através das prefeituras municipais

Para os felinos são realizadas campanhas de vacinação anuais gratuitas contra a raiva, através das prefeituras municipais. Crédito: Pexels

O mesmo vale para quem se expor à saliva de animais suspeitos na zona rural, pois dificilmente a pele das mãos e braços estará totalmente íntegra, sem nenhuma lesão que possa servir de porta de entrada para o vírus.

“A principal maneira de evitar a raiva é a prevenção. Cães e gatos vacinados ficam protegidos e, consequentemente, nós também. Infelizmente, ainda temos muitos animais abandonados, errantes, sem histórico de vacinação. Isso, além de refletir a falta de educação da população a respeito da posse responsável de animais, acaba sendo um fator de risco para a ocorrência da raiva. Mas, por outro lado, como a vacinação em massa reduz a circulação do vírus na população canina e felina, os não vacinados têm menos chances de se infectar. Menos chance, mas ela existe”, alerta.

"A meta é sempre vacinar o maior número possível de animais e seguir com as demais medidas profiláticas. No caso de bovinos e equinos, por exemplo, também existe vacina para uso anual, mas como nem sempre os proprietários a utilizam, o risco de infecção acaba se tornando maior nas áreas rurais"

"A meta é sempre vacinar o maior número possível de animais e seguir com as demais medidas profiláticas. No caso de bovinos e equinos, por exemplo, também existe vacina para uso anual, mas como nem sempre os proprietários a utilizam, o risco de infecção acaba se tornando maior nas áreas rurais"

Priscila Camargo Granadeiro Farias, médica-veterinária

SAIBA MAIS SOBRE A RAIVA

  1. Medidas simples como evitar tocar em morcegos caídos no chão, não tentar capturar cães e gatos bravos, sob risco de mordidas e arranhões, e não tentar desengasgar bovinos e equinos, são básicas;

  2. Caso haja exposição acidental, lavar o ferimento com água e sabão é fundamental, pois reduz a carga viral local. Na sequência, procure o serviço de saúde. Nada de matar animais agressores ou doentes, porque a observação de cães e gatos é uma das medidas necessárias e executadas pelo poder público. Também não se pode matar morcegos, pois são animais silvestres e protegidos por lei. Além disso, matar animais é crime;

  3. Os animais com raiva desenvolvem sinais neurológicos. Podem ter alterações comportamentais ou físicas, como paralisias. Uma das mais comuns é a dos músculos da deglutição. Por isso, o animal saliva muito e não consegue beber água e comer.

  4. Cães e gatos frequentemente apresentam convulsões e desenvolvem andar compulsivo, além da agressividade.

  5. Bovinos e equinos podem ter paralisia, ingerirem coisas estranhas, parecerem engasgados ou constipados, mas quase nunca ficam agressivos.

  6. Morcegos acometidos da doença podem voar de dia, perdem a capacidade de orientação e batem em objetos, o que não é comum.

  7. Vale lembrar que a transmissão da doença começa antes de o animal apresentar sinais clínicos, o que chamamos de período pré-patente. Na dúvida, em caso de exposição, as orientações também são lavar a ferida com água e sabão e procurar a unidade de saúde mais próxima. Se a dúvida é em relação aos sinais clínicos nos animais, o médico- veterinário é o profissional capacitado para orientar e tomar as medidas cabíveis.

    FONTE: Priscila Camargo Granadeiro Farias, médica-veterinária, mestre em doenças infecciosas e professora na Universidade de Vila Velha (UVV)

LETALIDADE DA DOENÇA É DE 99,9%

Segundo Orlei Cardoso, gerente de vigilância em saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o paciente infectado com raiva humana em Mantena, Minas Gerais, transferido para o Espírito Santo, recebeu o tratamento no hospital, de acordo com o protocolo pré-estabelecido pelo Ministério da Saúde.

O gerente da vigilância em saúde também ressalta que, no Brasil, até hoje foram apenas dois casos de pessoas que conseguiram se curar da raiva. No mundo, existem apenas cinco registros de cura da doença. “Então, falamos que a letalidade da doença é de 99,9%”, afirma.

"Já no Espírito Santo, tivemos em 2001 um caso de raiva humana em Viana, com óbito, causado por cão, sendo variante 2, e outro em 2003, em Laranja da Terra, com óbito, causado por morcego (Desmodus rotundus), de variante 3, ambos tipificados pelo Instituto Pasteur, em São Paulo"

"Já no Espírito Santo, tivemos em 2001 um caso de raiva humana em Viana, com óbito, causado por cão, sendo variante 2, e outro em 2003, em Laranja da Terra, com óbito, causado por morcego (Desmodus rotundus), de variante 3, ambos tipificados pelo Instituto Pasteur, em São Paulo"

Orlei Cardoso, gerente de vigilância em saúde da Sesa

Orlei Cardoso alerta para o fato de que em Mantena, provavelmente, a infecção do bovino tenha sido através de uma espécie de morcego hematófago, devido a sua necessidade de se alimentar de sangue. Após infectar o gado, o vírus teria sido transmitido ao proprietário rural devido ao contato do mesmo com a saliva do animal infectado pelo morcego.

No Brasil, de forma geral, todos os morcegos representam risco de transmissão da raiva. Porém, morcegos hematófagos possuem maior risco devido à necessidade de se alimentarem de sangue.

De acordo com ele, devido ao caso, a Sesa já está fazendo a cobertura de vacinação contra a raiva preventivamente nos animais em Barra de São Francisco, antes mesmo da campanha que é realizada todos os anos em setembro. “Começamos com a área rural, em 24/04, indo em cada propriedade. E em 06/05 faremos um Dia D de vacinação de cães e gatos na área urbana”.

Para ele, a conscientização da população é o melhor caminho para a prevenção da doença. “Neste ano, a vacinação contra a raiva em cães e gatos será realizada em 30 de setembro em todo o Espírito Santo. É muito importante que os tutores levem seus animais para vacinar”, alerta.

A Sesa faz a estimativa da quantidade de vacinas contra a raiva que serão necessárias a partir do ano anterior. “Em 2022, vacinamos cerca de 564 mil cães e gatos no Estado. Fora do período de campanha de vacinação, o Estado também disponibiliza vacinas para cães e gatos, e em caso de notificação nos animais de produtores rurais”, explica Orlei Cardoso.

Os cães também precisam ser vacinados todos os anos contra a raiva

Os cães também precisam ser vacinados todos os anos contra a raiva. Crédito: Pexels

Ele ressalta também a importância da vacinação anual em animais de produção e que esta ação é de responsabilidade de cada proprietário, principalmente bovino, equino, caprino e ovino. Esses devem ser vacinados, assim como os cães e gatos das áreas rurais, por isso o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) faz o trabalho de conscientização e orientação junto a essa população. A orientação é que os animais de produção sejam vacinados a partir de três meses de idade e 30 dias após a primeira dose, seja aplicada uma dose de reforço.

CONTROLE DE MORCEGOS HEMATÓFAGOS

Segundo informações do Idaf, o instituto realiza o controle de morcegos hematófagos em cavernas e propriedades rurais. Sempre que um animal desse é encontrado doente ou morto, é encaminhado para o laboratório de diagnóstico de raiva. No caso de Mantena, tanto o morcego quanto o paciente foram diagnosticados através de coletas realizadas pelo instituto.

São analisadas gratuitamente, de acordo com o instituto, em torno de 600 amostras por ano de animais de produção, por meio de notificações de produtores rurais, e também de animais de companhia, como cães e gatos, além de animais silvestres, principalmente morcegos. Positivados, são em média 60 animais anualmente.

O Idaf possui o único Laboratório de Diagnóstico da Raiva do Espírito Santo. O local atende toda demanda diagnóstica do Estado, inclusive proveniente das secretarias municipais de saúde, instituições de ensino e clínicas veterinárias particulares.

O QUE DIZEM AS PREFEITURAS DA GRANDE VITÓRIA

  • PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA
  • Em 2023, o município registrou três morcegos positivos. As campanhas de vacinação de cães e gatos ocorrem uma vez por ano. A data, assim como a meta de animais a serem vacinados, é pactuada pelo Estado. A última campanha ocorreu em setembro de 2022 onde a meta era vacinar 20.672 animais, mas 23.238 animais receberam a dose antirrábica. Neste ano, a campanha será realizada em setembro, porém as pessoas que não vacinaram seus animais ainda podem vaciná-los no posto fixo situado no CVSA, em Resistência, de terça a quinta-feira, das 8h às 16h. Campanhas educativas são realizadas nas escolas e em espaços públicos para conscientizar a população sobre a importância da vacinação de seus animais. Vale ressaltar que qualquer morcego encontrado morto no quintal ou em via pública não deve ser descartado, uma solicitação de recolhimento deve ser realizada através do 156, a equipe vai até o local e realiza o recolhimento e encaminha o animal para análise em laboratório.

  • PREFEITURA MUNICIPAL DE VILA VELHA
  • Em 2022, foram dois registros de morcegos positivos para a raiva. Em 2023, até a presente data, não há registros de animais positivos. As campanhas de vacinação de cães e gatos ocorrem uma vez por ano e a data, assim como a meta de animais a serem vacinados, é pactuada pelo Estado. Ainda assim, a Unidade de Vigilância em Zoonoses de Vila Velha realiza a vacina de rotina, diariamente. Em 2022, a campanha aconteceu em setembro e a meta pactuada era vacinar 32.505 animais, mas foi ultrapassada chegando a 41.708 animais. As campanhas educativas são realizadas, constantemente, pela equipe de educação e saúde, nas escolas e em espaços públicos. O assunto é abordado para lembrar e incentivar a população sobre a importância da vacinação do animal de estimação.

  • PREFEITURA MUNICIPAL DE CARIACICA
  • A Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ) da Secretaria de Saúde de Cariacica (Semus) informa que em 2022 foi detectado um caso de raiva em um morcego. É realizada campanha de vacinação antirrábica uma vez por ano, na zona rural e na área urbana. Neste ano, a campanha tem previsão de ser realizada de junho a setembro, com o Dia D previsto para 30/09. No ano passado, foram vacinados 25.749 cães e 5.768 gatos. E em 2023, por enquanto, 47 cães e 40 gatos receberam a dose de antirrábica. Fora do período de campanha, os munícipes podem agendar a vacinação dos animais na UVZ por meio do telefone (27) 3354-7032. Durante as campanhas, os agentes realizam a vacinação de animais de rua. A Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Meio Ambiente (Semdec), por meio da Gerência de Bem-Estar Animal, informa que está elaborando um plano para realizar um levantamento estimado do quantitativo de animais abandonados no município. Além disso, a Semus informa que mantém diálogo constante com a comunidade sobre a importância de realizar a vacinação anual dos animais.

  • PREFEITURA MUNICIPAL DA SERRA
  • A Vigilância Ambiental em Saúde (VAS) informa que não foram registrados casos de raiva no município nos anos de 2022 e 2023, até o momento. Através do seu setor de Educação em Saúde, a prefeitura realiza a distribuição de material educativo sobre a prevenção da raiva em escolas, comércio e unidades de saúde do município, mostrando a importância da prevenção através da vacinação dos cães e gatos, que é realizada durante todo o ano, mediante agendamento e em um posto fixo no Centro de Vigilância Ambiental. Anualmente, porém, também são realizadas campanhas de vacinação, obedecendo o calendário preconizado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesa). Durante o período de campanha, em 2022, foram vacinados cerca de 58,5 mil cães e gatos no município. Para agendar atendimento, o tutor deve primeiro entrar em contato pelo telefone ou whatsapp (27) 98166-1711. Em seguida, o animal deve ser levado, acompanhado de sua caderneta de vacinação, até a sede da VAS, que fica no quilômetro 2,5 da rodovia ES 010 (sentido Jardim Limoeiro).

  • PREFEITURA MUNICIPAL DE VIANA
  • Informa que, em 2022, não foi detectado nenhum caso de raiva humana ou animal no município. A vacina está disponível na vigilância epidemiológica durante o ano inteiro, onde qualquer tutor pode agendar e levar o animal para ser vacinado. Além disso, uma vez ao ano é realizada a campanha de vacinação antirrábica rural e urbana para cães e gatos, no último quadrimestre do ano. Em relação aos animais de rua, são vacinados apenas os comunitários (que não têm um tutor fixo, mas que cuidam e têm acesso a eles). No ano passado, o município vacinou 7.563 cães e 1.421 gatos, acima da meta de 80% de cobertura. Neste ano, até o momento, foram 48 cães e seis gatos.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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