Quem está pretendendo ter um shih-tzu, pug ou buldogue pode ficar sem a possibilidade de adquiri-los se um dos Projetos de Lei (PLs) em tramitação na Câmara dos Deputados solicitando a proibição da reprodução dessas raças for aprovado e sancionado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Segundo a proposta, o objetivo de proibir a criação e a venda de animais braquicefálicos (de focinho curto) é por conta das dificuldades vividas por esses pets para respirar. A questão mais polêmica em discussão é que a violação da medida deverá ser punida conforme a Lei de Crimes Ambientais, estipulando pena de prisão de três meses a um ano, além de multa. O PL dispõe, também, que os tutores atuais de cães dessas raças não seriam impactados pela lei, caso seja aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Executivo.
Os animais de focinho curto têm dificuldade para respirar. Crédito: Shutterstock
O médico-veterinário cirurgião ortopedista, Diogo Garnica, explica que as pessoas precisam, primeiramente, entender o que são raças braquicefálicas. “Temos três tipos de conformação craniana em cães, de acordo com o comprimento do focinho: dolicocefálicos (focinho comprido), mesocefálicos (focinhos de comprimento médio) e braquicefálicos (focinhos curtos). Essas características costumam vir acompanhadas de problemas respiratórios denominada síndrome braquicefálica. O principal sinal clínico é justamente a dificuldade da passagem de ar pelas vias aéreas superiores”, alerta.
Segundo ele, nos últimos anos houve um aumento significativo no comércio de raças braquicefálicas, devido ao conjunto de características físicas e comportamentais que agradam bastante os tutores.
“Diversas raças se enquadram nesse contexto anatômico, cada qual com sua origem distinta. O pug é uma das mais antigas, tendo suas primeiras aparições a cerca de 1.700 a.C. proveniente do cruzamento de diversas raças. O shih-tzu veio do cruzamento do lhasa apso com o pequinês, sendo considerado um amuleto da sorte nas caravanas que percorriam a China antiga. Já o buldogue francês tem sua origem na França”, explica.
Diogo Garnica ressalta que as alterações anatômicas desses indivíduos consistem em narinas estenosadas (com seu orifício diminuído), prolongamento e espessamento de palato mole (parte do céu da boca que sucede o osso palatino) e hipoplasia de traqueia (deformidade da traqueia que é um tubo pelo qual percorre o ar das narinas para os pulmões).
"Todas essas características ou algumas delas levam essas raças a um processo ventilatório dificultoso. Muitas vezes, inclusive, com eventos que podem culminar no óbito do animal"
Diogo Garnica
Na opinião de Garnica, proibir a criação não é o melhor caminho. “É importante lembrar que o aumento de cães com essas características se dá devido à seleção genética pelos criadores em busca de características físicas que agradam aos tutores, como, por exemplo, animais com focinhos cada vez mais curtos, característica que leva à síndrome braquicefálica”, frisa.
E completa: “É justamente o contrário do que recomendamos. O ideal seria exigir que os criadores adotem as medidas de seleção genética padrão para que os focinhos não fiquem tão curtos, evitando, assim, esses problemas, além da exigência de um médico-veterinário nos locais de criação destas raças. Lembrando que raças não braquicefálicas também podem apresentar esses problemas de obstrução de vias aéreas superiores”, ressalta.
Além disso, explica Diogo Garnica, a síndrome braquicefálica é tratada com eficácia através de técnicas cirúrgicas para corrigir essas deformidades. Que o diga a e empresária Eulália Chieppe, tutora de três pugs.
Bob, Lolla e Tina, três pugs de Eulália Chieppe. Crédito: Arquivo Pessoal
“Em 2008, o primeiro pug chegou a minha vida, o Bob. Meu filho estudava em São Paulo e como ele morava sozinho, adquirimos um pet para fazer companhia a ele. Foi amor à primeira vista. Depois veio a Tina e, por último, a Lolla”, conta.
A empresária conta que Lolla tinha bastante problema respiratório, pois seu nariz era extremamente achatado. “A médica-veterinária recomendou fazer uma rinoplastia, além de uma cirurgia para retirar o excesso de rugas em cima do nariz. Relutei bastante, pois achava que não iria resolver o problema. Até que resolvi fazer e confesso que fiquei surpreendida com a rapidez na sua recuperação e no quanto isso ajudou na sua respiração, Hoje, ela está com nove anos e tem qualidade de vida”, garante.
Cão Lolla antes e depois da cirurgia para a síndrome braquicefálica. Crédito: Acervo pessoal
Confira medidas que amenizam o problema respiratório em animais braquicefálicos:
- Seleção genética do plantel, dando preferência a padreadores com focinhos menos curtos
- A exigência de um médico-veterinário nos canis orientando a seleção genética
- Orientações mais precisas aos tutores sobre o possível surgimento da síndrome braquicefálica
- Busca precoce de atendimento médico especializado por parte dos tutores que já tem indivíduos com essas características, para poder tratar com maior eficácia e evitar danos irreversíveis. Toda doença tem uma maior chance de sucesso em seu tratamento sempre que diagnosticada e tratada precocemente
- Exigir a obrigatoriedade em contrato da esterilização desses animais pelos tutores, garantindo que a reprodução da raça seja realizada somente por canis fiscalizados e evitando a reprodução indiscriminada
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