• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Espírito Santo terá Programa de Bem-estar Animal; entenda

Publicado em 25/04/2023 às 08h00
Cada vez mais aumenta o número de animais em situação de rua no ES, e o programa do governo tem como objetivo fazer um Censo quantitativo e qualitativo para saber o tamanho da situação no Estado

Cada vez mais aumenta o número de animais em situação de rua no ES, e o programa do governo tem como objetivo fazer um Censo quantitativo e qualitativo para saber o tamanho da situação no Estado. Crédito: Pexels

O Governo do Espírito Santo, através da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, vai lançar no final de maio o Programa Estadual de Bem-Estar Animal. A coluna É o bicho entrevistou o secretário Felipe Rigoni para entender porque agora o Estado resolveu entrar na questão da causa animal e o que a nova ação traz para ajudar tanto os animais em situação de rua, quanto os tutores em vulnerabilidade, as ONGs e os protetores.

Segundo o secretário, a responsabilidade quanto ao bem-estar dos animais, de acordo com a legislação, continuará sendo dos municípios. “Nosso objetivo é possibilitar a eles a aplicação de uma política pública direcionada pelo Estado, com conhecimento, informação, estrutura e investimentos, por meio de uma gestão descentralizada que é a melhor forma de realizar um programa de qualidade, respeitando o contexto local de cada cidade capixaba”, explica.

Nesta entrevista com o secretário Felipe Rigoni você fica sabendo o que envolve essa ação que contará com a contribuição do Estado para o enfrentamento, principalmente do abandono de animais, que vem a cada dia aumentando mais em todos os municípios do Espírito Santo.

O bem-estar animal sempre ficou sob a responsabilidade dos municípios. O que levou o senhor a elaborar, agora, um plano pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente direcionado a essa causa?

De acordo com a legislação brasileira, a responsabilidade pelos animais é compartilhada entre cidadãos e municípios. Embora não possamos alterar essa responsabilidade, entendemos que existe uma dificuldade em criar uma política pública adequada para o bem-estar animal nos municípios capixabas, devido à falta de recursos, estrutura e, principalmente, especialistas. Por isso, percebendo como a demanda está alta e os desafios dos municípios em operar essa questão, e de fato promover o direito animal de forma adequada, resolvemos lançar o Programa Estadual de Bem-Estar Animal. E não estamos fazendo isso só para ajudá-los, mas para alavancar essa pauta tão importante no Espírito Santo.

Como o programa vai funcionar e quando será lançado?

Pretendemos lançá-lo até o fim de maio. É uma das prioridades de nosso governador. O objetivo é promover as cinco liberdades dos animais, um conceito, inclusive, muito importante para todo mundo. São eles: estar livre de fome e sede; estar livre de desconforto; estar livre de dor e doença; ter liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie; e estar livre de medo e estresse. Vamos começar com a parte da saúde, pagando os procedimentos em três eixos. O primeiro, com o objetivo de controlar o crescimento populacional desordenado desses animais, ou seja, a castração e tudo que a envolve, o pré-operatório e o pós-operatório. O segundo eixo, será a urgência e emergência, fazendo atendimento em animais, por exemplo, atropelados, espancados, ou que estão sofrendo maus-tratos, e o terceiro eixo, a vacinação, como uma forma de evitar o proliferamento de algumas doenças que podem ser evitadas, além da observação em relação às zoonoses. A ideia é credenciar clínicas no Estado inteiro, de forma regionalizada, criando uma tabela de procedimentos. 

"Os municípios continuarão arcando com esses custos das tabelas de procedimentos. Já ao governo do Estado caberá transferir para os municípios fundo a fundo valores a serem destinados a esse fim. O nosso objetivo é possibilitar aos municípios a aplicação de uma política pública direcionada pelo Estado, com conhecimento, informação, estrutura e investimentos, por meio de uma gestão descentralizada que é a melhor forma de realizar um programa de qualidade, respeitando o contexto local de cada cidade capixaba"

"Os municípios continuarão arcando com esses custos das tabelas de procedimentos. Já ao governo do Estado caberá transferir para os municípios fundo a fundo valores a serem destinados a esse fim. O nosso objetivo é possibilitar aos municípios a aplicação de uma política pública direcionada pelo Estado, com conhecimento, informação, estrutura e investimentos, por meio de uma gestão descentralizada que é a melhor forma de realizar um programa de qualidade, respeitando o contexto local de cada cidade capixaba"

Felipe Rigoni

Como será feita essa parceria entre municípios e Estado? E qual será a responsabilidade de cada um? O Estado será uma espécie de “agregador” dessas ações?

Exatamente, uma espécie de “agregador”, de custeador e naturalmente fiscalizador financeiro do Programa. Nós vamos elencar todos os dados e fazer essa ação andar bem rapidamente. Vamos fazer um convênio, um termo de cooperação entre o Estado e os municípios. É basicamente um convênio que vai permitir aos municípios receber esse recurso através do fundo de meio ambiente ou do fundo de bem-estar animal, se tiver. E esses recursos só poderão ser utilizados para pagar os procedimentos, valores e técnicas já padronizados previamente nas clínicas veterinárias credenciadas pelo governo do Estado. O governo vai ser o operador disso, além de enviar um pedágio para que seja contratado um médico-veterinário que ficará responsável pela fiscalização desses procedimentos, visando, sempre, obviamente, o bem-estar animal e, claro, a transparência.

O abandono de animais (cães e gatos) tem aumentado em todo Brasil. Com a entrada do Estado na causa, o que vai mudar para as pessoas que lutam diariamente para resgatar cães e gatos em vulnerabilidade?

Nossa ideia é que quando o animal fizer os procedimentos nas clínicas veterinárias, ele precisará de um tempo de recuperação. O objetivo é criar parceria com as ONGs e protetores de animais, que serão credenciados, para recebê-los e cuidar deles até o seu restabelecimento, tendo em contrapartida um valor simbólico para custear esse “lar temporário” que estão oferecendo. Além disso, o objetivo é elaborar um censo quantitativo e qualitativo sobre o bem-estar animal, e conscientizar a população quanto à importância do respeito aos animais em vulnerabilidade. É importante ressaltar que a base de dados será estabelecida em âmbito estadual e terá caráter permanente. E qualquer cidadão terá acesso a ela.

Existe uma cobrança muito grande para a construção de um hospital veterinário público. Isso obviamente seria caro ao Estado. Teremos ou não um hospital veterinário público?

Essa não é a ideia. O hospital veterinário público parece extraordinário quando a gente ouve a expressão, na teoria. No entanto, por causa do alto gasto, ele primeiramente só atenderia a Grande Vitória, onde, claro, está a maior parcela da população de animais em situação de rua. Mas nós precisamos atender esses animais também em todo o Estado. Então, é muito melhor você usar de clínicas especializadas espalhadas por todo o Espírito Santo, dando acesso a um número muito maior de animais em vulnerabilidade, do que ter um hospital em um único local que vai atender só uma parcela, embora grande, desse contingente.

Já foi cogitado também, já que um hospital veterinário teria um custo muito alto para o Estado, a possibilidade de se estudar, em um futuro próximo, alguma ação onde, através da confirmação da renda familiar, tutores de pets poderiam ter acesso a tratamento quando necessário aos seus pets, sendo que uma parte do custo ficaria para o tutor e a outra para o Estado/Município, conforme, logicamente, o valor dessa renda familiar, também através de parceria com clínicas veterinárias. Acha isso viável em algum momento?

No primeiro momento, o projeto será apenas para animais em estado de vulnerabilidade, com tutor ou abandonado na rua. Sobre essa viabilidade, é algo que precisa ser estudado mais profundamente em um futuro próximo.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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