• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Imaturidade emocional: o motivo por trás do abandono de animais

Publicado em 12/12/2023 às 11h00
Nas férias aumenta o número de abandono de animais.

Nas férias aumenta o número de abandono de animais. Crédito: Freepik

As férias estão chegando e nesta época muitos animais de estimação são abandonados nas ruas. Mas você sabia que uma pessoa que tem uma atitude como essa apresenta algo mais profundo do ponto de vista psicológico? Angelita Corrêa Scardua, doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), especializada em desenvolvimento adulto e felicidade, explica que muitos fatores levam uma pessoa a abandonar um animal de estimação (o que obviamente sempre é algo injustificável).

“Por exemplo, ela pode não avaliar previamente quais seriam as demandas de ter um pet em casa. E na medida em que convive com esse pet e vivencia todas as necessidades inerentes a um ser vivo, se depara com a incapacidade, a impossibilidade ou o desinteresse em satisfazê-las. Outro fator, é a pessoa adquirir esse animal de estimação por impulso, dentro de um determinado contexto vivencial, e depois perceber que essa escolha não representa necessariamente os seus interesses, o seu estilo de vida e, enfim, não se encaixa em sua rotina. E daí, resolve abandoná-lo”, garante.

O fato, segundo Angelita Scardua, é que quando a pessoa abandona um vínculo afetivo, seja um animal ou um ser humano, sem ter motivos claros, isso representa, sem dúvida, imaturidade emocional. A psicóloga explica que a pessoa que abandona um animal de estimação tem dificuldade de estabelecer vínculos afetivo.

Provavelmente, trata-se de alguém que faz as coisas de maneira inconsequente. Porque se é um indivíduo maduro, ele vai construindo um vínculo emocional com esse animal de estimação, levando-o a ter empatia, perceber as necessidades do pet, se compadecer da situação e, claro, buscar o próprio aprimoramento”

Processo de amadurecimento

Para Angelita Scardua, uma pessoa em processo de amadurecimento emocional se responsabiliza pelas escolhas que faz e assume as consequências. “Escolher ter um animal de estimação por impulso, isso pode acontecer com qualquer um. Mas se é uma pessoa em processo de amadurecimento, mas que acaba percebendo que o pet não está cabendo na sua rotina, no seu estilo de vida, ela não vai abandoná-lo, ao contrário, vai repensar e criar mecanismos para que essa dinâmica possa funcionar da melhor forma possível para ela e para o animal, porque trata- se de um ser vivo, que precisa de amor e cuidado. Isso é uma característica de maturidade emocional”, frisa.

Ela ressalta que o abandono de um animal de estimação revela, principalmente, a dificuldade que a pessoa tem em estabelecer vínculos afetivos. E vai além. Destaca o perigo que uma atitude de abandono de um animal de estimação pode ter no contexto familiar, principalmente em relação às crianças.

“Se eu sou essa pessoa imatura emocionalmente e tenho uma criança na minha casa e um animal e eu simplesmente o abandono nas ruas, o que essa criança está aprendendo comigo? Justamente, que é tolerável ou justificável a irresponsabilidade emocional e afetiva. Muito provavelmente, essa pessoa que está praticando o ato já tem dificuldade de vínculo afetivo com a criança. Dificilmente, uma pessoa que tem facilidade de desvincular afetivamente de um animal de estimação vai ter facilidade de vincular afetivamente com os seres humanos”, ressalta.

A psicóloga Angelita Corrêa Scardua explica que a pessoa que abandona um animal de estimação tem dificuldade de estabelecer vínculos afetivo

A psicóloga Angelita Scardua explica que quando a pessoa abandona um animal, isso representa imaturidade emocional. Crédito: Divulgação

Dependência emocional

Angelita Scardua lembra que o comportamento dos adultos é um modelo para as crianças. É um exemplo. “A criança não aprende pelo discurso. O que eu falo para uma criança dificilmente terá um impacto tal que vai afetar o seu comportamento. Mas o que eu faço, isso sim é essencial para ilustrar e delinear para ela o que é aceitável ou não, o que é desejável ou não, o que é admirável ou não. O comportamento de abandono mostra para quem observa, um amor instável”, destaca.

Além disso, a psicóloga finaliza dizendo que se uma criança está vinculada afetivamente a um animal de estimação e esse é abandonado, ela vai ter que vivenciar um processo de luto, que é sempre muito doloroso, muito difícil para qualquer pessoa, adulto, criança, não importa. Ela vai experimentar aquela sensação de vazio e de tristeza que a perda provoca, o que vai reforçar a insegurança emocional.

Crianças que vivenciam o abandono de animais de estimação por seus pais, pode com essa experiência negativa, ter dificuldades no futuro de estabelecer vínculos afetivos

Crianças que vivenciam o abandono de animais de estimação podem ter dificuldades de estabelecer vínculos afetivos. Crédito: Freepik

“Até os nove anos, mais ou menos, é muito difícil para a criança elaborar de uma forma mais lógica a perda afetiva. Ela não consegue entender, por exemplo, a morte. Ela se pergunta: ‘Por que aquele animal não está mais presente?’. E vem um vazio, uma ausência de uma perda que não consegue ser justificada e nem emocionalmente elaborada. Mas na medida em que ela vai entendendo o que aconteceu, que foi um abandono, isso pode reforçar novamente o sentimento de insegurança afetiva, relembrando essa experiência traumática, contribuindo para que evite qualquer possibilidade de estabelecer vínculos afetivos”, conclui.

Fique atento

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022 existiam cerca de 30 milhões de animais abandonados nas ruas do Brasil, dos quais 10 milhões são gatos e 20 milhões de cães.

No Brasil, o abandono de animais é crime desde 1998 e em 2020, com a aprovação da Lei Federal 14.064/20 aumentou a pena de maus-tratos com reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição da guarda, quando se tratar de cão ou gato.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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