• Rachel Martins

    Uma jornalista que ama os animais, assim é Rachel Martins. Não é a toa que ela adotou duas gatinhas, a Frida e a Chloé, que são as verdadeiras donas da casa. Escreve semanalmente sobre os benefícios que uma relação como essa é capaz de proporcionar

Saiba quais são as diferenças entre um animal Sem Raça Definida e um de raça pura

Publicado em 05/07/2022 às 02h00
No Brasil, em sua grande maioria, os gatos são SRD. No país são raríssimos os felinos de raça pura, que são chamados de exóticos

No Brasil, em sua grande maioria, os gatos são SRD. No país são raríssimos os felinos de raça pura, que são chamados de exóticos. Crédito: Pexels

Segundo o PetCenso da DogHero (2021), os animais Sem Raça Definida (SRD) estão presentes em 40% dos lares brasileiros, em seguida vem os de raça pura, nesta ordem, o Shit-tzu (12%), o Yorkshire Terrier (5%), o Poodle e o Spitz Alemão (4%), o Pinscher, o Buldogue Francês, o Lhasa Apso e o Golden Retriever (3%) e o Dachshund (2%).

Mas segundo o médico-veterinário, cirurgião ortopédico e neurocirurgião, pós-graduado em Biotecnologia e Engenharia Genética, Fabricio Pagani, apesar de a pesquisa indicar que os SRD são os primeiros do ranking nos lares brasileiros, infelizmente não quer dizer que são os preferidos.

“Tenho experiência, desde 1999, com adoção de animais abandonados e os de raça pura ou mestiços dessas raças são mais facilmente adotados, ficando os SRD, de fato, em último plano. Essa afirmação é corroborada pelo abandono de animais que em quase sua totalidade é composta por SRD. Inclusive, quando animais de raça são encontrados nas ruas e resgatados para adoção, são rapidamente adotados”, garante.

“Eu entendo da seguinte forma os números dessa pesquisa, que apontam os SRD como os animais mais presentes nos lares brasileiros: em primeiro lugar pela cultura de adoção de animais abandonados nas ruas, que aumenta com a maior conscientização da população. E em segundo, porque um animal de raça pura tem um custo de aquisição, às vezes bem alto, e a maioria das pessoas que querem ter em casa um animal de estimação, não podem comprar um de raça pura. O que deixa claro que esses 40% não significam, necessariamente, que os SRD são os mais populares ou preferidos dos brasileiros. Quem dera, realmente fossem, daí o número de adoções seria, certamente, muito maior”, explica o médico-veterinário.

O popular vira-lata

Fabricio Pagani explica que existe uma confusão entre animais SRD e vira-latas. Segundo ele, o antônimo de raça pura é Sem Raça Definida (SRD). Já o vira-lata é um animal abandonado na rua e que vira latas de lixo à procura de alimentos.

"Ele é sinônimo de animal abandonado e não necessariamente de um SRD. Como os animais de raça pura normalmente não são abandonados, ou quando são, rapidamente são adotados, passou-se a associar esses animais que viram as latas aos SRD"

"Ele é sinônimo de animal abandonado e não necessariamente de um SRD. Como os animais de raça pura normalmente não são abandonados, ou quando são, rapidamente são adotados, passou-se a associar esses animais que viram as latas aos SRD"

Fabricio Pagani

Pedigree é o que define

Fabricio Pagani ressalta que de acordo com a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), os cães de raça pura são aqueles que possuem pedigree, o seu documento de registro genealógico. Ele é atribuído aos filhotes de cães que já possuem pedigree pelo canil filiado onde nasceram. No documento, consta o nome do cão, sua raça, do criador, do canil, dos pais, data de nascimento e os dados de sua árvore genealógica até a terceira geração.

O abandono de animais em quase sua totalidade é composta por SRD

O abandono de animais em quase sua totalidade é composta por SRD . Crédito: Pexels

“Já os cães não possuidores de pedigree, não podem serem tecnicamente considerados de raça pura, mesmo que fisicamente aparentam ser. Popularmente, a existência ou não de pedigree não é considerada e os cães têm suas raças definidas por suas características físicas principais e empiricamente considerando-os assim como sendo de uma raça específica. Quando não é possível essa qualificação, os cães são, automaticamente, SRD”.

Em relação aos gatos, explica, é diferente, pois os felinos de raça pura são raros no Brasil, e muitas vezes são chamados até de exóticos. “Por isso, os bichanos são muito mais abandonados nas ruas e sua adoção é muito mais difícil que a dos cães”, garante.

Responsabilidade é o que vale

Na opinião dele, é primordial que as pessoas entendam que ao adotar um animal SRD, este vai precisar dos mesmos cuidados de um pet de raça pura, principalmente de amor. “Portanto, a responsabilidade é a mesma, e é ela que faz toda a diferença. Abandonar um animal é o que há de pior, e isso, infelizmente, acontece tanto com os SRD quanto em relação aos animais de raça pura. A única diferença é que o último ao ser resgatado terá muito mais possibilidades de uma nova adoção, é triste, mas é a realidade”, alerta.

E esta história de que é difícil os SRD ficarem doentes, é uma meia verdade, ressalta Fabricio Pagani. “O que acontece é que os SRD são bem mais resistentes a doenças específicas em relação aos animais de raças puras, mas ficam enfermos igualmente para outras patologias que às vezes os de raça pura são até mais resistentes”.

Isso significa, explica, que os animais SRD possuem maior variabilidade genética pela menor pressão de seleção estética consanguínea realizada pelos humanos. E possuem, também, uma maior pressão de seleção natural, o que permite que sejam mais resistentes de forma geral.

“Mas não quer dizer que não possuam patologias ou não fiquem doentes. A principal diferença dos SRD para os animais de raça pura, nesse sentido, é a caracterização de patologias específicas, mas isso não os impede de possuir predisposição genética oriunda de seus antepassados de raças puras”, afirma.

Outro fator, segundo o médico-veterinário, é o cultural. “Os cães, de fato, são considerados como membros da família e, assim, para eles, nós humanos somos sua matilha. Já com os felinos é diferente, eles fazem muito bem a distinção de espécies. São praticamente uma espécie ‘inventada’ pelos humanos no seio do lar, não são considerados absolutamente domesticados e, portanto, mantêm muito de seu comportamento primitivo, o que os torna extremamente independentes dos humanos”.

E Fabricio Pagani faz um alerta: “É justamente pelo fato de esperar que os felinos tenham comportamento canino, que os humanos se decepcionam e passam a não gostar dos bichanos, e, consequentemente, eles acabam sendo muito mais abandonados por seus tutores”.

Membros da família

Segundo Fabricio Pagani, animais abandonados que não são criados num convívio bem próximo a um lar não “contam suas dores” para os seres humanos, sejam eles SRD ou de raça pura.

“Vão contar para quê? Por que expor suas fraquezas para alguém que pode usá-las contra eles próprios? Mas quando esses animais passam a ser criados nos lares humanos, convivendo como membros da família, principalmente desde filhote, eles sentem-se seguros e amados para ‘se abrirem e contarem’ a sua família qualquer sofrimento. Somado a isso, nós também estamos mais atentos e receptivos a qualquer mudança na rotina de nossos pets, buscando os cuidados médico-veterinários necessários”, alerta.

Comportamentos desejados

É bom lembrar, ressalta ele, retornando ao raciocínio da formação de uma raça pura, que todos os cães são obras do ser humano, onde uns mais e outros menos sofreram pressão de seleção genética. “Não existia uma matilha de Spitz Alemão correndo na savana africana, capturados e domesticados pelos seres humanos. Evolutivamente, na verdade, os humanos empiricamente foram cruzando esses animais com características genéticas fenotípicas preferidas e assim formando as raças”.

Ele explica que a formação das raças com a pressão reprodutiva baseada em cruzamentos, pensando apenas em características físicas exteriores, muitas vezes consanguíneas, trouxe consigo a seleção de várias doenças.

“E dessa forma, pelo mesmo motivo de um Buldogue Francês possuir um rosto expressivo redondo, com focinho muito curto, semelhante a um rosto humano, também por esta característica possui diversas doenças consequentes desse esqueleto modificado. Enfim, as raças puras não foram selecionadas com preocupação em oferecer saúde, mas, sim, em ter uma característica ou comportamento desejado. Atualmente, evolutivamente, criadores criteriosos e associações de raças como, por exemplo, a do Pastor Alemão e dos Collies possuem seleção genética preocupadas na ausência de doenças, além das características raciais externas”, explica.

Fabricio Pagani ressalta que já a seleção genética de animais mestiços (SRD) não possui essa intensa pressão estética e, assim, somente os mais saudáveis acabam se reproduzindo e consequentemente seus descendentes tendem a serem mais saudáveis”.

Pressão genética de seleção

A grande verdade, conclui, é que em relação aos cuidados, seja de um animal SRD ou de raça pura, tudo depende da pressão genética de seleção daquela raça, pois doenças podem ter sido selecionadas com as características externas desejadas. “E mais ainda é necessário saber se o tutor cuida desse pet como um ente familiar. Isso é o mais importante”.

Mas o essencial, sem sombra de dúvidas, é o amor imenso que os cães desprendem ao ser humano, e isso independe se é de raça pura ou SRD.

“Sempre digo que os cães têm a missão divina de serem felizes e, de quebra, trazer essa alegria aos humanos também. Diversos adotantes relatam que ao adotar um cão, ganharam um amor adicional e novo membro na família, e os animais, por sua vez, retribuem se mostrando, além de felizes, gratos e fiéis à sua nova matilha”.

Os felinos também trazem essa felicidade aos tutores, mas quando e como querem. “Obviamente, os gatos, seguindo a sua característica independente, também são gratos ao serem adotados, mas nunca serão subservientes como os cães. E os tutores que conseguem compreender isso, sentem-se tão amados quanto os donos de cachorros e percebem que é necessário, apenas, respeitar o tempo de amar dos bichanos”, conclui Fabricio Pagani.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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