Algumas raças podem ter predisposição a certos comportamentos. Crédito: Pixabay
Nos últimos anos, muitas são as notícias de ataques de cães contra crianças, muitas vezes, infelizmente, com óbitos. Quando os ataques vêm supostamente de raças consideradas geneticamente mais propensas à agressividade, a dúvida é sempre a mesma: “Essas raças não deveriam existir ou a questão está na maneira como o animal é criado?”.
Para o médico-veterinário comportamentalista, Paulo Deslandes, a genética influencia no temperamento do cão, mas não determina por si só o comportamento agressivo. “Algumas raças podem ter predisposição a certos comportamentos, mas a socialização adequada e o treinamento baseados na motivação podem ajudar a controlar esses impulsos. Por meio dela, o animal aprende a lidar com situações desafiadoras de forma mais calma e assertiva”, ressalta.
A socialização deve ser realizada entre 2 a 5 meses de vida, período crucial para o desenvolvimento social do cão, quando o cérebro do filhote está mais receptivo a novas experiências e a formação de associações. Sem essa socialização, o filhote pode desenvolver medos, fobias, agressividades e ansiedades na vida adulta.
“É durante essa fase que o cãozinho aprende a interagir com pessoas, outros animais, o meio urbano e os diferentes ambientes. A socialização expõe o filhote a uma variedade de estímulos de forma segura, positiva, gradual e equilibrada"
Paulo Deslandes, médico-veterinário
"Embora esse período coincida com a fase de imunização do filhote, o que pode ser delicado já que o sistema imunológico ainda está se desenvolvendo e o animal está mais suscetível a doenças, ela não pode ser completamente adiada, pois as primeiras semanas de vida são cruciais para a formação do caráter do cão."
Em cães adultos, a socialização pode não ter o sucesso desejado, dependendo do nível de insegurança que esse animal apresenta com algum estímulo. O processo será mais desafiador. O ideal é recorrer sempre a um profissional capacitado em comportamento animal, que fará uso de técnicas de modificação de comportamento baseadas em motivação e, em alguns casos, pareados com uso de medicações psicotrópicas para auxiliar o processo.
Deslandes destaca que mesmo nos casos de animais que convivem há muitos anos com a família, a segurança das crianças sempre deve ser priorizada e monitorada. As maiores vítimas de acidentes por mordeduras são elas, e qualquer cão tem potencial de causar acidentes independente de raças e até de porte.
“É bom lembrar que os cães avisam quando estão desconfortáveis, e alguns sinais são muito comuns nessa hora, como o rosnado e os pelos eriçados. Porém a maioria deles ainda são desconhecidos até pelos médicos-veterinários. Um bom profissional da área comportamental pode ensinar ao tutor esses sinais não tradicionais que os cães emitem, garantindo a segurança de todos com a melhora da comunicação entre o animal e o humano”.
Dicas para quem tem cachorros e crianças em casa para evitar contratempos
- Nunca deixar crianças sozinhas com animais
- Ensiná-las a respeitar os animais e seus limites e não puxar a cauda, os pelos ou as orelhas
- Mostrar como acariciá-los de forma suave e respeitosa
- A família deve ser um modelo de comportamento positivo ao interagir com os animais
Quais fatores podem desencadear comportamentos agressivos em cães
- Situações que o cão considera ameaçadoras podem desencadear reações defensivas
- Doenças, lesões ou desconforto podem deixá-lo mais irritado e propenso a reações agressivas
- Quando se sentem ameaçados quanto à comida, aos brinquedos, às pessoas ou ao seu território
- Quando eventos traumáticos do passado deixam sequelas emocionais, principalmente nos casos de educação baseada na punição física e, consequentemente, algumas técnicas do adestramento tradicional que se utilizam dessas ferramentas retrógradas
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