Cães e gatos costumam apresentar problemas articulares de formas diferentes. Crédito: Freepik
Com o passar dos anos são inevitáveis as dores articulares. Mas se engana quem pensa que essa doença só acomete nós, os humanos. Elas também são muito comuns nos animais de estimação, e não apenas em cães e gatos, mas nos exóticos e selvagens.
O médico-veterinário, especializado em cirurgia com ênfase em ortopedia e neurologia, Carlos Christo Coutinho da Silva, explica que os termos artrite e displasia, quando citados de forma isolada, são apenas técnicos e designam alguma inflamação e incongruência articular, respectivamente, e representam alguns dos sinais clínicos dessas doenças.
“O aparecimento dessas enfermidades depende do histórico de vida de cada pet, já que existem doenças articulares que aparecem também em animais de estimação jovens e de meia-idade. No entanto, a frequência maior ocorre com o avançar da idade e nos idosos, porque elas acompanham esses pacientes ao longo da vida e com o tempo acabam por resultar em danos mais graves e com sintomas mais evidentes”.
Ele explica que a displasia e as artroses são termos atribuídos a problemas ortopédicos, mas tecnicamente são distintos. Displasia á a ausência ou pouca congruência entre duas superfícies articulares, quando o encaixe de dois ou mais ossos que formam uma articulação não é perfeito, podendo gerar instabilidade articular, inflamação e, consequentemente, artrose, também conhecida como osteoartrose, o desgaste das cartilagens gerando inflamação, degeneração das articulações e limitações funcionais.
"Os cães e gatos costumam apresentar problemas articulares de formas diferentes. Os felinos apresentam características anatômicas que permitem a eles uma maior flexibilidade e mobilidade articular que, aliado a alguns dos seus hábitos domiciliares restritos, reduz a incidência dessas enfermidades quando comparada aos cães. Nesses, temos um número de casos bastante significativos e atrelados a raças, idade, sobrepeso, tipo de piso que transitam e nível de atividade física desempenhada"
Carlos Christo Coutinho da Silva
Portanto, frisa Carlos Christo, todos os animais de estimação (inclusive os silvestres) podem apresentar doenças articulares em diferentes fases da vida. “Só através de consulta com um médico-veterinário especializado é possível identificar precocemente, tratar efetivamente e controlar o avanço dessas enfermidades que acometem os pets”.
Ele lembra, também, que algumas doenças ortopédicas têm componentes genéticos envolvidos. Por isso, para esses animais, é contra-indicado a sua procriação comercial. “Recomendamos, nesse caso, a castração após a maturidade esquelética, depois de um ano de idade”.
Porém, além do componente genético e até mesmo racial, muito marcantes em alguns animais, o médico-veterinário ressalta que a interação deles com o meio ambiente onde vivem também pode ser decisiva, não apenas no aparecimento, mas também na intensidade das manifestações clínicas apresentadas.
“Uma alimentação balanceada e completa, aliada a atividades físicas regulares, são essenciais para a qualidade de vida dos animais de estimação. O papel da nutrição é imperativo para a funcionalidade correta de todo o organismo e para o controle do peso corporal, que é um importante aliado na saúde articular. A alimentação de boa qualidade e quantidade correta faz sim muita diferença e hoje contamos com suplementos e dietas específicas embasadas cientificamente a favor dos pets”, ressalta.
Carlos Christo lembra, ainda, que a prática de atividades, onde os tutores se exercitam em companhia de seus animais, é muito frequente hoje em dia.
“O nosso Estado, com os calçadões, os parques, as praças, as praias e até as montanhas, é muito propício a isso. No entanto, precisamos ter muito cuidado com essa prática, lembrando, primeiro que nossos pets nos amam e por isso nos acompanharão até o seu limite, e segundo, que para nos acompanhar o desgaste deles será imensamente maior e sem o mesmo preparo”.
Ele dá dois exemplos; o cão ama o tutor e ama bolinha, se o tutor jogar a mesma bolinha mil vezes, ele vai pegar e trazer mil e uma, mas isso não significa necessariamente um bem para ele, pois pode levá-lo à exaustão. Ou o tutor faz uma corrida de dois quilômetros, mas enquanto ele dá mil passos, o seu cão realiza o mesmo trajeto, mas dando pelo menos quatro vezes essa quantidade.
“Em ambos os casos, o desgaste articular do cão pode ser grande e com o tempo trazer sérias consequências. Precisamos refletir sobre o assunto”, enfatiza.
Entre os sinais mais comuns às doenças osteoarticulares, o médico-veterinário ressalta intolerância ao exercício, manifestada por um comportamento diferente do habitual onde o animal comumente deixa de fazer algumas atividades que ele normalmente fazia, como demorar para se levantar ou fazer esse movimento com muita dificuldade, deixar de subir em lugares como sofá, escada e cama, brincar menos com seus brinquedos ou até mesmo com outros animais ou seu próprio tutor, claudicação (o animal pode não apoiar adequadamente uma de suas patas), fica mais quieto a maior parte do dia e até pode deixar de se alimentar em função da dor instalada.
Quanto ao tratamento, ele explica que depende de muitos fatores. “Mas essencialmente o melhor tratamento é aquele onde o diagnóstico é feito precocemente e de forma correta”.
Segundo ele, a maioria dos casos articulares em animais de estimação são trabalhados com terapias associadas, onde é possível fazer um acompanhamento multiespecializado, onde os profissionais se comunicam e interagem permitindo associações com medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos, fisioterapia, acupuntura, cirurgias diversas, terapias complementares, como células tronco, anticorpos monoclonais, medicamentos imunomoduladores, rações e suplementos terapêuticos.
Ele também faz um alerta: “A incidência de casos de doenças articulares tem aumentado de forma significativa e na minha opinião isso se dá em função de diversos fatores: aumento da expectativa de vida de cães e gatos, maior aprofundamento e aprimoramento por parte dos médicos-veterinários que atuam nesta área, aumento, melhoria e evolução dos recursos técnicos de diagnósticos por imagem na medicina veterinária, melhoria na divulgação de informações úteis que justifiquem o tutor a procurar um atendimento cada vez mais precoce, maior encaminhamento e conscientização da população na busca por profissionais especializados”.
Para evitar, ou minimizar, o aparecimento dessas enfermidades em pets, confira algumas orientações que devem ser seguidas desde a fase pediátrica, onde ocorre o desenvolvimento das estruturas osteoarticulares.
- Alimentação balanceada e completa, em quantidade e qualidade.
- Evitar sobrepeso e obesidade.
- Manter atividades físicas, regulares e moderadas para os animais.
- Utilizar preferencialmente piso antiderrapante onde o animal de estimação costuma ficar mais tempo.
- Evitar que os animais façam subidas e descidas bruscas em escadas, sofás e camas.
- Realizar castração do animal somente após um ano de vida.
- Realizar visitas periódicas aos médicos-veterinários.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.
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