O soldado Dalapicola, o sargento Mauro Domingos Pereira e o capitão Vitor Nunes Lima, Subcomandante com Visada, o vira-lata que transformou o dia a dia da 12 Cia . Crédito: Rachel Martins
Há dez meses, um cachorro caramelo vira-lata chegou de mansinho na 12ª Companhia Independente de Polícia Militar, em Jardim Camburi. Era uma manhã de domingo e o Sargento Mauro Domingos Pereira, do Policiamento Comunitário do Bairro, iria cumprir a sua escala das 7 às 20 horas.
“Fui fazer uma ronda no pátio externo da Companhia e visualizei ele deitado embaixo de um veículo da força tática. Logo me senti compadecido pela situação, porque sempre falo que do mesmo jeito que a gente atende a população, por que não prestar socorro a um animal que está precisando de ajuda? Ele estava bem magro e tinha cavado um buraco, provavelmente para se refrescar porque o sol fervia de tão quente. Notei que estava com coleira e não tinha um olho. Imaginei que tivesse fugido de algum lugar, então, rapidamente, fiz uma foto e como temos vários grupos de Whatsapp do bairro, postei em um deles, e um colega foi replicando pensando no tutor que deveria estar preocupado com o sumiço de seu animal de estimação”, lembra.
O sargento Mauro Domingos Pereira sabia que não encontraria o tutor tão imediatamente. Mas, segundo ele, a partir desse primeiro contato, o cachorro não saiu mais das imediações da Companhia. “E diante dessa situação, de imediato resolvemos abraçar a causa, principalmente os soldados femininos que no início começaram a alimentá-lo, a dar água, levar ao médico-veterinário e ao pet shop, mas ele ficava diariamente ali fora, passeava, mas sempre voltava. Hoje, na verdade, é o nosso mascote, ele que nos acolheu e conquistou todo o nosso efetivo”, lembra.
O capitão Vitor Nunes Lima, Subcomandante da 12ª Companhia Independente de Polícia Militar, conta que no começo ele realmente ficava só na parte externa, mas com o tempo foi adentrando o recinto e ganhando o espaço que provavelmente já se achava no direito de conquistar. “E a gente foi aceitando e gostando de receber e dar carinho ao Visada (@visada12cia), o nome que demos a ele”.
O capitão explica que a alcunha desse caramelo surgiu porque a visada é o nome de uma ação muito frequente realizada durante uma operação. “No linguajar comum seria como mirar, fazer a visada. E é um erro fechar um olho quando se está fazendo a visada. A gente sempre fala: ‘Dois olhos abertos, dois olhos abertos’”.
Vitor Nunes Lima ressalta, ainda, que a partir do momento que Visada invadiu de vez a parte interna da 12ª Companhia foi criado um grupo de whatsapp com alguns policiais da corporação que voluntariamente se colocaram à disposição para dividir os seus gastos, além, claro, da comunidade que está sempre contribuindo de alguma forma para o bem-estar do animal.
“Ele é um cachorro muito calmo, mas como recebemos também a comunidade aqui no local, a frente da mesa logo na entrada foi tampada e colocamos a caminha do Visada atrás. Então, quando alguém chega não consegue vê-lo de imediato, fizemos isso apenas como uma medida de proteção, até porque muitas pessoas têm medo de animais, é uma questão de respeito. De dia ficam muitos policiais na 12ª Companhia, mas no plantão da madrugada ele acaba virando o cãopanheiro do policial e Visada ajuda muito no silêncio da noite”, garante.
O capitão conta também uma curiosidade: “É incrível, parece que o Visada já reconhece a farda, qualquer um que chegue aqui fardado ele entende que aquela pessoa pertence a esse local. “Com a comunidade, ele fica mais ressabiado, na dele. Mas depois logo se acostuma”, ressalta.
Plantão da madrugada
A Soldado Dalapicola, do Policiamento Comunitário do Bairro Jardim Camburi, conta que no começo quando ela fazia o plantão da noite, ele sempre ficava na porta “pedindo” para entrar. “E eu acabava deixando ele ficar um pouquinho lá dentro para fazer carinho e, claro, receber. Mas como não tinha permissão de deixá-lo o tempo todo ali, o colocava depois na parte externa e ele partia para o seu longo passeio noturno pelo bairro, mas sempre voltava, nunca sumiu”, explica.
Ela explica um fato interessante: “Todas as vezes nesses passeios, quando ele via a viatura pelo bairro vinha correndo atrás. Ele é um cachorro mais da noite, de dia prefere dormir o tempo todo, e quando quer sair um pouquinho, para na porta e já sabemos que é para abri-la. Mas quando demora muito, além do normal, a gente sai procurando, o que é muito raro. O Visada tem uma plaquinha na coleira, mas tanto fez que quebrou, já providenciamos outra”.
A Soldado Dalapicola explica que quando o levaram no médico-veterinário, ele salientou que Visada é um cachorro idoso, não dava para saber porque perdeu o olho, onde já havia sido realizada uma cirurgia, provavelmente não foi por conta de maus-tratos. Disse, ainda, que ele era castrado e que o exame de sangue estava bom, embora estivesse bem magro, talvez por estar há muito tempo na rua.
“Visada não é muito chegado à ração, prefere comida mesmo, já deve ter adquirido esse hábito com os antigos tutores. Por ser idoso, ele não tem mais os dentes, então a gente vai variando a alimentação, incluindo o sachê que é nutriente, úmido e mole. Hoje, ele está bem mais gordinho”, garante.
Ajuda emocional
A Soldado Bonifácio, também, do Policiamento Comunitário do Bairro Jardim Camburi, sempre diz que acredita que foi o Visada que adotou a corporação e não o contrário. “Quando qualquer um de nós, do efetivo, somos em 150 aqui na 12ª Companhia, chega aqui, Visada vem logo nos receber dando as boas-vindas e bate a patinha para lembrar que está esperando um carinho. A gente toma muito cuidado com ele, principalmente porque as viaturas ficam do outro lado da rua e a gente tem medo de que ele saia correndo, atravesse, e acabe sendo atropelado. Mas ele é obediente, quando a gente fala “fica aí”, ele fica quietinho. Ele é tão querido pela comunidade, que muitas pessoas já quiseram adotá-lo”, comenta.
O capitão Vitor Nunes Lima conclui dizendo que Visada é um “cãopanheirão”. Principalmente no plantão da madrugada, nos ajudando a ficar alertas sempre”. E o sargento Mauro Domingos Pereira, completa: “A grande verdade é que ele tem feito muito, muito bem mesmo, para a tropa, nos ajudando a equilibrar o estresse no dia a dia. Quando a gente chega de uma ação, às vezes bem difícil, ele vem e quebra o gelo, até os mais resistentes acabam aceitando o gesto de solidariedade e carinho do nosso mascote. E ele acompanha todas as reuniões, sempre de orelhas em pé. E se tem alguém disperso, o chefe chama a atenção dizendo: “Até o Visada está mais alerta que você. Atenção!”, termina, sorrindo.
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