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No Pará, Belém é destino imperdível para quem ama chocolate

Cidade não se resume ao Mercado Ver-o-Peso e a iguarias como açaí e tacacá. Lá também são feitos alguns dos chocolates mais famosos do Brasil

Publicado em 9 de outubro de 2022 às 08:00

Bolo de cacau com doce de cupuaçu
Bolo de cacau com doce de cupuaçu produzido por dona Nena, na Ilha do Combu Crédito: Reprodução @filhadocombu

Belém, no Pará, ganhou fama nacional por iguarias como açaí salgado e tacacá na cuia. Mas, há algum tempo, o turista que visita a cidade já acrescenta o chocolate nessa lista.

É que na capital paraense tem sido produzidos alguns dos chocolates artesanais mais comentados do país. Pudera, já que a região no coração da Amazônia lidera a produção nacional de cacau. É o "ouro negro" da floresta, que está espalhado por vários pontos.

A 15 minutos de barco de Belém, navegando pelo Rio Guamá, chega-se à Ilha do Combu. É lá que Izete Costa, a dona Nena, produz e vende barrinhas de chocolate enroladas na folha de cacaueiro, além de cacau em pó, brigadeiros e nibs de cacau.

Dona Nena começou sua história tentando transformar a receita de chocolate rústico da família em cobertura para seus bombons. A verdade é que muita gente não acreditava que a ribeirinha saberia fazer chocolate.

Cacau
A região no coração da Amazônia lidera produção nacional de cacau Crédito: Shutterstock

No início, ela montava a mesinha de chocolate na sala de casa e vendia para os poucos turistas que chegavam até a localidade. Ou comercializava na feirinha de artesanato que acontecia em Belém.

Até que o chef Thiago Castanho - um dos principais nomes da culinária nacional, responsável pelo restaurante Remanso do Peixe, em Belém - conheceu o chocolate e a vida dela mudou.

Nena foi para Gramado, fez curso de chocolateira e aprendeu a transformar a barra rústica em chocolate refinado. Também chamado de “pão de cacau” (prática de pilar o cacau com açúcar até transformá-lo em uma pasta e moldar em uma folha da própria árvore), o chocolate rústico da Dona Nena faz sucesso há mais de uma década. 

No terreno de sete hectares e meio cheio de cacaueiros, dona Nena e as funcionárias da Filha do Combu colhem, fermentam, torram e moem todo o cacau colhido.

"O processo se inicia na floresta, desde o manejo da árvore até a colheita. E as amêndoas são secas ao sol. Todo o processo é artesanal até chegar ao chocolate fino", conta a guia de turismo Ana Paula Magalhães. No dia em que HZ visitou a Ilha do Combu, dona Nena estava indisposta e não estava na propriedade. 

Dona Nena por Reprodução @filhadocombu

Após ser descoberta por Thiago Castanho, Nena também forneceu seu chocolate para o D.O.M, restaurante de Alex Atala em São Paulo, e também para a chef carioca Roberta Sudbrack. Agora, os visitantes podem, inclusive, viver a experiência de como é produzido o chocolate, por meio de visitas guiadas. 

CACAU DE ALTO NÍVEL

Todo o estado tem bons produtores - seja da amêndoa ou do chocolate. O município de Medicilândia, por exemplo, ostenta desde 2021 o título de Capital Nacional do Cacau, o que ajuda na fama do Pará quando o assunto é a fabricação da iguaria.

Uma prova disso foi a realização do Chocolat Amazônia, maior evento de chocolate e cacau da América Latina, no final de setembro. Semanas antes, o Chocolat Festival teve pela primeira vez uma edição capixaba, em Linhares.  

“A realização do festival aqui é fundamental, pela importância histórica de Belém e econômica do Pará na produção de cacau no Brasil, além da gastronomia e da cultura”, diz Marco Lessa, idealizador do projeto. 

Em 2022, o festival passou também por Salvador (BA), Altamira (PA) e Ilhéus (BA). Neste ano, ainda estão previstos eventos em São Paulo, em dezembro, e no Porto, em Portugal. 

VITRINE PARA PRODUTORES

Em quatro dias, o Chocolat Amazônia reuniu 160 expositores e 74 marcas. Uma delas foi a Gaudens, de Fábio Sicilia, que produz chocolate com ingredientes da Amazônia brasileira, como o bacuri, o cupuaçu e a farinha de tapioca. As linhas têm no mínimo 50% de cacau, sem adição de leite.

Já a Ascurra Chocolate, que já recebeu o prêmio de melhor blend de cacau no Concurso Nacional de Qualidade de Cacau Especial do Brasil, produz mensalmente 200 quilos de chocolate. "Começamos em 2019, por curiosidade, porque já trabalhávamos com cacau e sabemos que temos uma boa amêndoa. Atualmente, produzimos chocolates de dez tipos de porcentagens e vendemos para o Sul do país e São Paulo", diz Sarah Lorena.

Chocolate com açaí por Reprodução @gaudenschocolate

Flávio Cruz, da Da Cruz Chocolates, plantou cacau há muitos anos e tornou-se chocolateiro, fazendo a produção bean to bar, que significa o processo da amêndoa à barra.

Suas amêndoas são plantadas no Moju, às margens do Rio Ubá, e no Tomé-Açu. "A torra é em temperatura mediana, preservando as características naturais. E a moagem é em moinho de pedra, bem à moda antiga", diz o chocolateiro.

São cinco linhas que vão de 50% a 80% de cacau, com bombons (de pimenta, castanha, cupuaçu, café e bacuri), cacau em pó, gotas de chocolate com grão de café arábica e chocolate com flor de sal. 

Safra de cacau na Ascurra Chocolate por Reprodução @ascurrachocolate

A região de Tomé-Açu, há cerca de quatro horas da Capital, é também uma grande produtora de cacau.

Lá está localizada a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), cujos cooperados investem no desenvolvimento do cultivo sustentável da amêndoa de cacau e atendem aos mais exigentes mercados das indústrias de chocolate do mundo, com reconhecimento na Premiação do Cacau de Excelência do International Cocoa Awards Paris, em 2010.

* O jornalista viajou a convite do Chocolat Amazônia

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