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Publicado em 25 de junho de 2023 às 12:00
A Emília-Romanha é simplesmente cinematográfica no outono. Nesta estação do ano, o solo de suas cidades e vilarejos se tinge de múltiplos tons de dourado, castanho, laranja e verde – folhas que caem de centenárias árvores nativas. E, mesmo com os dias sendo bem mais curtos e frios, as paisagens que se revezam diante do olhar são de uma beleza surreal.
A noite chega por volta das 17 horas. Luzes amareladas abraçam monumentos históricos erguidos pelo Império Romano antes mesmo do nascimento de Jesus Cristo. Nas ruas, pessoas misturam-se às antigas construções e procuram o aconchego da calefação de pubs, restaurantes e casas noturnas. Sim, embora sejam milenares, os jovens colorem as cidades, imprimindo-lhes um ritmo vibrante.
A Emília-Romanha tem na pulsante Bolonha a sua capital. Emblemática e cosmopolita, a cidade se traduz em arte, história e aromas. Transborda cultura e beleza. Percorrer as calçadas de seu centro histórico é entrar num caleidoscópio de cores e sabores, viajando pelos tesouros herdados pelos séculos que se passaram desde a sua fundação, estimada no século 3 a.C., quando ainda era uma das colônias romanas onde viviam os etruscos.
Imponentes arcos sob ruas estreitas e graciosas vielas são parte inalienável da paisagem urbana de Bolonha, também conhecida como Città Rossa (cidade vermelha). O nome não é à toa. Foi dado em função dos diferentes tons de coral exibidos no visual da maioria das casas, dos prédios, dos palácios e dos monumentos históricos da cidade – nela, dificilmente a gente encontra uma construção de cor diferente.
Não pense, contudo, que as tonalidades alaranjadas colorem a cidade de monotonia. Ao contrário. Basta subir à Torre Asinelli. Lá, de cima, admirar os incontáveis tons de tijolo alinhados na planície e cercadas por colinas, tendo no topo de uma delas o complexo San Stefano. Com origem nos séculos IV e V, dizem que foi construído sobre um antigo templo pagão dedicado à deusa Ísis. A panorâmica é cênica.
Em alguns lugares de Bolonha, como na elegantíssima Galeria Cavour, onde funciona a moderna loja de design de móveis Rochebobois, é possível admirar trechos originais da Via Emilia (é preciso pedir). A experiência é única. A via começou a ser construída na época do Império Romano e foi finalizada pelo cônsul Marco Emilio Lepido em 187 a.C. Tinha como objetivo consolidar a hegemonia do imperador sobre as tribos conquistadas e garantir a segurança das colônias fundadas pelos romanos ao longo de sua extensão.
Sobreviveu às intempéries e aos caprichos humanos. Testemunhou romances. Também presenciou os horrores de diferentes guerras, incluindo a destruição causada pela Segunda Guerra Mundial, quando as cidades italianas foram duramente bombardeadas. Ao longo dos séculos foi sendo modificada e ampliada. Hoje, com mais de 2.200 anos de existência, é a moderna estrada estatal 9, chamada oficialmente de Via Emília.
A autopista segue o traçado da antiga estrada romana na maior parte do caminho e atravessa Bolonha e diversas cidades situadas nesta lindíssima região italiana, onde trechos e pontes originais da milenar avenida consular estão preservados e ainda podem ser vistos. Pela Via Emília passavam imperadores, nobres, cavaleiros, soldados do exército romano e também os simples mortais. Percorriam a extensa estrada com os seus cavalos.
Esse traço da história da humanidade é visível na Via dell’Indipendenza, a principal do centro de Bolonha, e em suas imediações. Lugar mágico repleto de ruas estreitas com elevados arcos. Pórticos abaixo dos quais hoje funcionam lojas, butiques de grife, joalherias, galerias de arte, hotéis, bares e osterias… Acredita-se que os arcos tenham sido edificados com 2,70 de altura para facilitar a passagem de cavaleiros montados em seus cavalos.
Os 38 quilômetros de pórticos são uma atração do centro de Bolonha, mas não a única. Majestosa, a área é uma passarela a ser percorrida por quem pretende desvendar capítulos de um precioso livro chamado Império Romano e Idades Média e Moderna, saboreando-os até os dias atuais. Em suas ruas estão guardados resquícios das portas construídas quando a cidade era um burgo (a de Ravegnana é uma delas) e das muralhas que a cercavam nos tempos medievais.
Ali também ficam as torres Asinelli e Garisenda, dois emblemáticos ícones erguidos na Idade Média, quando a cidade chegou a ter mais de cem torres (hoje restam 20). Com 97,2 m de altura, o equivalente a um edifício de 33 andares, a primeira pode ser visitada – o bilhete de ingresso é pago. São 498 degraus de subida por uma escada de madeira íngreme erguida nos primeiros anos do século XII. Mais outros 498 degraus de descida. Mas, vale a pena: Bolonha vista lá do alto é ainda mais bonita.
Já a Garisenda (1351/1360) não é aberta à visitação. Tem 48,16 metros e foi erguida a pedido da família que a ela empresta o sobrenome. Era para ter 60 metros de altura. Porém, o solo cedeu e os “construtores” da Idade Medieval, temendo uma catástrofe, decidiram mantê-la com o tamanho atual. Como a famosa Torre de Pizza, as duas torres bolonhesas também estão pendendo com o passar dos anos. E essas inclinações são visíveis.
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