Anitta fecha o Rock in Rio Lisboa com sertanejo. Crédito: Zimel Press/Folhapress
O céu ainda estava claro quando Anitta, tirando onda ao som do hit "Vai Malandra" e de carona em uma moto, repetiu em mais um show a entrada que conquistou a plateia norte-americana no festival Coachella, em abril. Neste domingo, 26, o público ainda era de outro país, mas dessa vez falava o mesmo idioma da cantora.
A apresentação feita no último dia do Rock in Rio Lisboa só veio antes da do rapper Post Malone, responsável por fechar a primeira edição do evento desde que a pandemia começou, mas foi a única a arrancar coros altos da plateia europeia, bem mais comedida do que a brasileira.
Os hits e colaborações que a cantora fez em sua empreitada por outros territórios da América Latina, Estados Unidos e Europa nos últimos anos caíram bem na apresentação, mas o que decolou mesmo na noite de Anitta foram as canções que a fizeram crescer no país onde nasceu.
Sertanejo, brega e as várias batidas de funk exploradas por ela ao longo da carreira regeram o show que fez do Rock in Rio um cantinho brasileiro na Europa por pouco mais de uma hora.
Mas a presença do Brasil no festival extrapolou as músicas de Anitta --e também as de outros brasileiros convocados para a edição, como Ney Matogrosso, Rebecca, Johnny Hooker e Francisco, el Hombre.
Temas como as eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL), o desmatamento da Amazônia e os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips na região também pipocaram com frequência na Cidade do Rock no último final de semana de apresentações, embora Roberta Medina, responsável pela edição portuguesa do evento, diga não acreditar que a política seja feita desta forma.
"Eu acho que política se faz com conversa e não em cima do palco", disse, em entrevista no sábado, 25. "No Rock in Rio vemos os artistas explorando a oportunidade de dar cara para uma multidão, de reverberar para um país inteiro. É mais pela arte do que pela posição política, ninguém consegue fazer uma defesa política no palco". Ela, no entanto, disse que a única orientação que o festival deu para as bandas foi a de que elas fizessem um bom show.
Mas mesmo no palco de Anitta o tema apareceu quando seu balé repetiu o grito de "Fora, Bolsonaro" feito no Coachella. Em entrevista dada a jornalistas brasileiros e portugueses antes do show, a cantora ainda falou sobre a Amazônia. "A Amazônia é o grande tesouro do nosso país, e as pessoas a tratam como nada. É inaceitável que esse lugar seja perigoso para as pessoas visitarem", disse.
Mais cedo do mesmo dia, o pernambucano Johnny Hooker também pediu a saída do presente do poder e o acusou de ter propositalmente atrasado a entrega das vacinas contra a Covid-19 no país, além de sacudir uma toalha com o rosto de Lula --um repeteco do que fez Pabllo Vittar no Lollapalooza Brasil deste ano.
Ainda no sábado, Ney Matogrosso fez um show sem manifestações verbais, mas com uma reverência a vídeos de indígenas que passavam em seu telão. Assim como Hooker, o grupo Francisco, el Hombre foi mais explícito ao cantar suas músicas "Bolso Nada" e "Arranca a Cabeça do Rei", que pede a cabeça de Bolsonaro a partir do voto.
Fora do palco, pessoas na plateia também puxaram gritos contrários ao presidente em todas as apresentações de artistas do Brasil no último fim de semana de evento --mesmo movimento visto na última edição do Lollapalooza, mas dessa vez extrapolando as fronteiras brasileiras.
A repórter viajou a convite do Rock in Rio Lisboa
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