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Publicado em 26 de outubro de 2021 às 14:32
"Esse filme não é só sobre os que resistiram à ditadura militar nos anos 1960 e 1970. Esse filme é sobre os que estão resistindo agora no Brasil", disse o diretor Wagner Moura no palco do Teatro Castro Alves, em Salvador, pouco antes da exibição de "Marighella" na pré-estreia nacional do filme realizada na noite de segunda-feira (25).
"Esse filme foi filmado em 2017, estreou em 2019 no Festival de Berlim, passou por vários festivais no mundo todo, representou o cinema brasileiro, foi aplaudido por onde passou, mas para mim nada daquilo fazia sentido enquanto não estreasse no Brasil", prosseguiu Moura, emocionado.
"E para mim é absolutamente significativo que a estreia nacional de 'Marighella' aconteça aqui em Salvador, na minha terra, onde está meu axé. Esse é um dia importantíssimo na minha vida", completou Moura, que teve a companhia no palco de parte da equipe do filme, como os atores Bruno Gagliasso, Bella Camero, Ana Paula Bouzas e Maria Marighella e o roteirista Felipe Braga.
Além deles, estavam lá ainda Carlinhos Marighella -filho único do ativista que dá nome ao longa-, do grupo Coalizão Negra Por Direitos e da Brigada Marighella. A última é a torcida organizada do Vitória, time do coração tanto de Wagner Moura quanto do próprio Carlos Marighella.
Depois de dois anos lutando para entrar em cartaz no país, o filme inspirado na biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães estreará no circuito dos cinemas brasileiros no próximo dia 4, data em que Carlos Marighella foi assassinado por agentes da repressão da ditadura militar em 1969.
"É inacreditável que um produto cultural receba tantos ataques violentos e sofra tanta resistência por parte do governo federal. Isso diz muito mais sobre o estado das coisas no Brasil hoje do que sobre o filme", afirmou Moura.
Com duas horas e 35 minutos de duração e Seu Jorge no papel principal, a estreia de Wagner Moura como diretor se concentra nos anos finais da vida do político, escritor e revolucionário baiano Carlos Marighella, quando ele liderava a ALN -Ação Libertadora Nacional, a maior organização de luta armada contra a ditadura militar. O regime passou então a considerá-lo seu inimigo público número um.
As cenas de ação armada são o ponto forte do filme. Em bate-papo com a Folha de S.Paulo, no foyer do Teatro Castro Alves, Moura disse que filmou essas cenas da mesma forma que o restante do filme.
"Nunca quis que as cenas de ação do filme fossem como as que os americanos fazem. Eu as filmei como o filme inteiro, perto dos atores, entendendo o que estava acontecendo com eles, e talvez isso faça com que essas cenas fiquem ainda mais violentas do que se a câmera estivesse com a postura de observador. A gente está sempre dentro da cena, respirando junto com os personagens", afirma o diretor
Foi a atriz Maria Marighella, neta de Carlos Marighella, quem sugeriu ao amigo Wagner Moura que fizesse um filme sobre a luta do avô, em 2012. No filme, ela faz o papel da própria avó, Elza Sento Sé. "Nasci no ano de Wagner, nós crescemos entendendo que devíamos ser guardiões da memória num Brasil que tem muitas dificuldades nos seus marcos de memória. O livro de Mário demorou nove anos para ser realizado, o filme mais nove anos", disse a atriz, que atualmente é vereadora de Salvador pelo PT.
"Marighella é um filme sobre amor. Nós fizemos um filme de amor", disse Moura no palco. Na tela, na cena em que vê a foto de Marighella morto, a personagem de Maria Marighella grita a frase "Esse homem amou o Brasil".
"Antes de agradecer eu quero dizer o seguinte: essa é a minha terra, mas essa é sobretudo a terra de Carlos Marighella", disse Wagner Moura no palco do TCA.
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