Britney Spears. Crédito: Reprodução/Instagram/@britneyspears
No ano passado, descobrimos o fazendeiro Caio na casa do BBB, muito provavelmente vocês, leitores, e eu que Britney Spears, uma das maiores estrelas do pop, vivia desde 2008 sob a tutela abusiva de seu pai.
Em seu depoimento à Justiça em junho de 2021, a cantora deixou claros os contornos dessa relação de exploração e de pilhagem de direitos. Forçada a trabalhar mesmo quando estava doente, medicada contra a sua vontade, ela também era impedida de remover um implante contraceptivo, embora desejasse engravidar.
Britney, dona de uma fortuna estimada em US$ 60 milhões, tinha ainda suas conversas vigiadas e controladas, suas vontades de comida ou outras compras negadas e câmeras escondidas em sua casa.
Desde que se libertou da tutela, que durou mais de 13 anos, no fim do ano passado, Britney engravidou perdeu o bebê em maio, um mês após ter anunciado a gravidez, casou e gravou com Elton John uma nova versão de "Tiny Dancer", que deve sair este mês.
Ela também passou a publicar em suas redes sociais um sem-fim de fotos em que aparece nua ou seminua, em sua casa na Califórnia ou em praias paradisíacas em viagens. As fotos são, como pedem as regras estritas dessa rede que censura qualquer mamilo feminino, em parte cobertas por pequenos desenhos ou pelas mãos da cantora.
Mas não são apenas os quase nudes que quebram a rotina de uma perfil que, do contrário, poderia ser a de qualquer tia brasileira, com imagens de flores e de cachorros, vídeos fofos de crianças, fotos em sépia e muitas frases motivacionais.
A conta na rede social que ajudou a tirar Britney da tutela foi a partir de um podcast que buscava entender as publicações da cantora que começou o movimento #FreeBritney agora também é um meio de a estrela finalmente falar sobre os 13 anos em que foi mantida calada.
"É difícil ser mulher. Você deve pensar como um homem, agir como uma dama, parecer uma jovenzinha e trabalhar como um cavalo", diz uma publicação de março. Essa é apenas uma entre as muitas em que critica a tutela.
Em outras, ela conta que pegou as chaves do seu carro ou que bebeu uma taça de vinho pela primeira vez em 13 anos. Na semana passada, em um story do Instagram, ela mostrava que estava num bar e criticava o fato de ter sido impedida de tomar bebidas alcoólicas ao longo da tutela.
Chega a ser comovente quando, em janeiro, ela conta que era impedida até de tomar café e, em outra publicação, descreve uma ida a um restaurante com enorme deslumbramento.
As críticas da cantora são "alegações incendiárias", segundo o advogado de seu ex-tutor e pai, que as refuta e que queria que Britney falasse diante de um juiz sobre suas publicações como parte do processo em que a estrela o acusa de abuso e de enriquecer indevidamente. A juíza do caso liberou a cantora do depoimento já que, segundo seu advogado, sua presença serviria apenas para chantageá-la e reviver seus traumas.
Traumas que não são poucos. O que aconteceu com uma das mulheres mais famosas do mundo, e que acontece com outras tantas mulheres ao redor desse mesmo mundo sem que se precise de uma tutela legal, foi um grave ataque aos direitos humanos. Britney teve seus direitos à saúde sexual e reprodutiva surrupiados ao não poder escolher quando e com quem se casar e ao ser impedida de ter outros filhos.
Britney teve dois filhos, com seu segundo marido, antes da tutela. Após a separação do casal, houve uma disputa pela guarda das crianças, ainda bebês.
Foi em meio à briga e ao assédio constante dos paparazzi dos quais a cantora reclama com frequência atualmente e dos quais diz ter medo que surgiu o retrato de Britney como louca que permitiu que uma mulher na casa dos 20 anos em condições de trabalhar fosse colocada sob tutela legal. Quem melhor para ser acusada de louca do que uma mãe?
Além de ter cada passo seu fotografado e cada quilo de seu corpo comentado em revistas desde a adolescência, a cantora passava a ser o epítome da má mãe. Os fiscais da maternidade questionavam Britney saindo da balada com amigas ou dirigindo com um dos filhos no colo.
A mídia sensacionalista foi ao delírio com uma Britney careca atacando o carro de um paparazzo com um guarda-chuva num dia em que tentava ver seus filhos. Um tabloide a chamou de monstro de cabeça raspada. Bela imagem para o ex mostrar ao juiz e obter a guarda total dos filhos. Em 2008, a cantora aceitou a tutela, que inicialmente duraria 11 meses, porque assim teria direito de visitar os filhos.
Hoje com 40 anos, Britney abandonou as fotos do Projeto Rosa, em que encarava a câmera com expressão angelical usando uma coroa de flores e blusinhas do tipo popularmente conhecido no Brasil como ciganinha. Abandonou também as longas sessões cheias de sorrisos em encontros com fãs, organizadas pelo pai após os infinitos shows em Las Vegas.
Agora, ela nada nua na piscina, rola na areia, abre a porta sem roupas, e, nas legendas, distribui muitos "kiss my ass" (vá se danar) aos que não estiverem satisfeitos.
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