Publicado em 25 de março de 2024 às 09:46
A temperatura subiu um pouco e a insistente chuva que transformou o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, em um lamaçal nos últimos dois dias de Lollapalooza deu uma trégua. >
O clima ameno foi perfeito para que artistas como Gilberto Gil, SZA e Sam Smith entrassem em cena com shows arrebatadores para um público que finalmente pôde tirar as capas de chuva.>
Houve ainda o show do funkeiro Livinho, que sofreu com um atraso de 20 minutos -do qual responsabilizou a organização do festival- que reduziu bem o tempo de sua apresentação. Nela, o cantor fez um tributo ao rei do pop Michael Jackson, reproduzindo seu figurino e sua coreografia.>
SZA expurgou coletivamente a dor de cotovelo -dela e de uma multidão de dezenas de milhares de pessoas. Última headliner a cantar no festival este ano, a artista fez ressoar pelo Autódromo de Interlagos, em São Paulo, sua abordagem única das canções de sofrimento por amor.>
Tocando no palco Budwiser, o principal, com uma plateia bem menos cheia que o Blink-182, na sexta, mas maior que a do Kings of Leon, no sábado, SZA subiu ao palco vestindo uma camiseta verde e amarela do Brasil. Foi recebida e saudada aos gritos e, depois de cantar umas três músicas, gritou de volta o nome do país.>
Mais à frente, dançou no palco com bandeiras do Brasil, e soltou uma gravação saudando o público em português. Ela agradeceu aos brasileiros e aos povos indígenas do país por recebê-la.>
Aos 34 anos, a cantora chegou ao país cheia de credenciais. Apesar de ter mais de dez anos de carreira, Solána Imani Rowe, seu nome de batismo, despontou mesmo na música em 2017, com o álbum "Ctrl". Depois, em 2022, emplacou o hit "Kill Bill" e virou sucesso mundial com o disco "SOS".>
Ela começou com um trecho de "Open Arms", passou por "Seek & Destroy" e fez o Autódromo explodir com "Love Galore". A participação de Travis Scott no hit surgiu nos alto-falantes, de onde também vieram as backing tracks faixas vocais pré-gravadas que servem como backing vocals.>
SZA é a rainha da sofrência do pop americano, quem melhor consegue traduzir atualmente o sofrimento por amor em música. O repertório, majoritariamente romântico, também ditou o clima do show.>
O festival, ainda lamacento, terminou com os agudos estridentes e as guitarras pesadas da banda Greta van Fleet. >
Algumas centenas de pessoas, as que migraram para o show do grupo após ouvir a sofrência da headliner SZA, continuaram sofrendo, mas para tentar atravessar a lama do chão sem escorregar e alcançar o palco onde tocava o Greta.>
O jeito foi andar devagarzinho, a passos curtos, torcendo para não cair de cara no barro. Os que conseguiram foram recebidos pela performance de "Safari Song".>
O grupo roqueiro, formado por três irmãos e um amigo, alternaram poucas canções a momentos dedicados só a solos de instrumentos. O baterista Danny Wagner arrancou aplausos da plateia várias vezes.>
Quem também impressionou foi o vocalista Josh Kiszka, dono de um alcance vocal raro de se ouvir. Com jeito de estrela do rock dos anos 1970, o artista fez bonito na tentativa de energizar o público cansado após um dia inteiro de shows.>
Um tanto mudou na vida de Sam Smith do momento em que tocou no Lollapalooza Brasil da última vez, em 2019, até a apresentação deste domingo, 24, no mesmo palco e horário daquele ano.>
Na época, Smith já tinha a maior parte dos prêmios Grammy de sua carreira na prateleira e as canções românticas lançadas em seu primeiro álbum, "In the Lonely Hour", de 2014, acomodadas no repertório do público do país.>
Meses depois da apresentação no Lolla, no entanto, Smith declarou que era uma pessoa não-binária que gostaria de responder por pronomes neutros -ou seja, nada de "ele" ou "ela".>
No palco, essas mudanças se traduzem em performance, cenário, aparência e discurso. Smith cantou em um palco Samsung com um enorme corpo deitado de bruços de ponta a ponta, de onde sua banda tocava e por onde seus dançarinos circulavam. Na estrutura, apareciam escritas mensagens como "protejam as crianças trans" e "libertação".>
"Nem acredito que cinco anos desde que estivemos aqui. Queria agradecer por continuarem comigo. Muito aconteceu na minha vida e saber que vocês estão aqui é incrível", disse na parte inicial da apresentação. "Esse show é sobre a liberdade de usar o que você quiser usar, cantar qualquer música que quiser cantar e ser o que você quiser ser.">
Smith começou o show com a sequência melódica "Stay With Me", "I'm Not the Only One", "Like I Can", todas de seu celebrado primeiro álbum e que deram bastante espaço para mostrar logo de cara sua capacidade vocal, que fez o público vibrar a cada canção e acompanhar como em um grande karaokê.>
O artista baiano fez uma apresentação que esta edição precisava ter no seu último dia, considerando que o evento sofreu como nunca com cancelamentos de artistas, substituições às pressas e um line-up muito criticado.>
No palco, hoje acompanhado de poucos familiares, ao contrário da turnê recente "Nós, A Gente", Gil teve efeito parecido com o show dos Titãs, que fechou o sábado.>
"Vocês tomaram conta da música mundial, hein, molecada? Aficionados, devotados. Viva a juventude brasileira", disse Gil, em resposta ao calor do público do palco Samsung Galaxy, que cantou todas as músicas do baiano.>
Foi um começo de noite alegre e otimista no autódromo, com o público celebrando momentos em que Preta Gil aparecia no telão, que o patriarca pedia um tempo para arrumar o seu cinto e também quando mais um dos muitos sucessos do artista, como "Realce", "Vamos Fugir", "Andar com Fé" e "Palco", começava.>
É como se Gil esticasse sua família para além dos laços sanguíneos do palco e incluísse na conta a plateia, que o trata com familiaridade e reverência ao mesmo tempo.>
Com quase 20 minutos de atraso, MC Livinho surgiu no palco do Lollapalooza vestindo chapéu com brilho, uma única luva prateada e paletó preto. Foi parte da sua homenagem ao cantor Michael Jackson, a quem ele vinha prometendo dedicar este show nas últimas semanas.>
O funkeiro usou os primeiros minutos da apresentação para dançar passos conhecidíssimos do artista americano, ao som de um remix de clássicos como "Beat It".>
A homenagem a Michael pareceu um tanto apressada. Conhecido pelo seu bom alcance vocal, Livinho arriscou cantar uma música do astro. Fãs na plateia se perguntaram se o tributo, sobre o qual Livinho vinha divulgando tanto, se resumiria apenas àquilo. Depois trocou de roupa e cantou músicas do seu próprio catálogo.>
Quando se aproximava das 17h45, o cantor anunciou que teria de terminar a apresentação antes do que pretendia. "Vou ter que encerrar agora. Queria fazer o show inteiro, mas atrasaram", disse ele, sugerindo que a culpa do atraso não era sua, mas do festival. "Vejo vocês no meu show ou no próximo Lolla".>
Apesar do tempo curto, Livinho mostrou que tem cacife. Animou a plateia com "Pilantragem" e depois com "Cheia de Marra" ambas ganharam arranjos diferentes dos tradicionais, mais sofisticados, que surpreenderam os fãs.>
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