Violão de Marília Mendonça e demais pertences das vítimas de tragédia em MG são retirados de aeronave. Crédito: Folhapress
Pouco depois das 15h de sexta-feira (5), o Corpo de Bombeiros de Caratinga (MG) atendeu a uma ligação. Do outro lado, uma mulher relatava a queda de uma aeronave em uma cachoeira nas proximidades do aeroporto da cidade, localizada a 294 km de Belo Horizonte.
Em um procedimento padrão, os bombeiros começaram a definir como seria o atendimento, complexo por causa da gravidade e do local onde ocorreu, na zona rural e em meio a pedras de uma cachoeira.
Entre os bombeiros a caminho da grave ocorrência estava John Leno, fã de Marília Mendonça por influência da mulher, Michelly Dias, que gosta da cantora desde o início da carreira musical.
Leno e Michelly iriam para o show daquela noite, às 21h, na Arena Eventos, dentro do Parque de Exposições de Caratinga. Estava tudo pronto para a apresentação da rainha da sofrência.
A expectativa era grande - os dois assistiram à primeira apresentação de Mendonça na cidade, em 2016, e a noite havia sido inesquecível.
"Gostei muito da pessoa que ela era, da levada da música, do vozeirão que tinha", diz Leno sobre o show de cinco anos atrás.
"Esperava uma sexta-feira de alegria, de comemoração com os amigos".
Ao ser informado sobre o acidente, o bombeiro imaginou que perderia a oportunidade de rever a cantora. As dificuldades da ocorrência, pensou, o impediriam de terminar o expediente de trabalho a tempo de ir para o Parque de Exposições.
Até então, ele não imaginava que a própria artista estava entre as vítimas da queda da aeronave.
Nas redes sociais, ao comentar a presença de um fã na ocorrência, o Corpo de Bombeiros de Caratinga destacou que os militares estão sempre prontos "para a missão, independente da hora do dia ou da noite, independente de suas programações".
E assim Leno foi para o atendimento.
No caminho para o local do acidente, ele e os outros bombeiros foram informados sobre a possibilidade de Mendonça ser uma das passageiras do avião bimotor.
"Aquilo já deu uma abalada no coração", contou o soldado ao Super Canal, de Caratinga.
Os militares encontraram a aeronave em relativo bom estado e, segundo Leno, acreditaram que as vítimas haviam sobrevivido e que o trabalho seria o de retirá-las dali e encaminhar para o socorro hospitalar.
A primeira tarefa foi providenciar a segurança do local, com a estabilização da aeronave e a "ancoragem" dos bombeiros, amarrados em cordas com a técnica de rapel para não serem levados pela correnteza.
Segundo Leno, a equipe de atendimento, que incluiu policiais militares e médicos do Samu, fez tentativas de contato verbal e aferição dos sinais de todas as vítimas.
As mortes das cinco pessoas que estavam na aeronave foram constatadas por um dos médicos. Marília Mendonça era uma delas. A cantora morreu aos 26 anos como uma das vozes mais ouvidas do país.
"O choque foi bem grande", lembra o bombeiro e fã. "Nem consigo expressar o que a gente sente. Mas a gente não pode se abalar".
Leno perdeu o sono e o apetite nas horas seguintes. "Aquele dia se tornou trágico e inesquecível. Ela teve uma passagem meteórica, fez história".
Na noite de sexta, fãs ocuparam as ruas de Caratinga e cantaram músicas de Mendonça, em uma homenagem póstuma. A estrutura para o show da cantora - palco e tendas que a artista usaria como camarim - foi desmontada na segunda-feira (8), em meio ao luto pela morte.
O ACIDENTE
Além da cantora, morreram no acidente o tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, o produtor Henrique Ribeiro, o piloto Geraldo Martins de Medeiros e o copiloto Tarcísio Pessoa Viana.
Antes de cair, o aparelho se chocou contra o fio de uma linha de transmissão da Cemig, a empresa de energia mineira, conforme informado pela companhia. As causas do acidente são investigadas pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Testemunhas viram a aeronave voando em altitude e velocidade mais baixas do que o normal, ouviram o barulho da queda e acompanharam os primeiros socorros. A Polícia Civil encontrou um cabo enrolado em uma das hélices do bimotor.
A morte da cantora e dos demais ocupantes do avião foi confirmada por volta das 18h de sexta. Mendonça deixou Leo, seu único filho, da união com o também cantor e compositor Murilo Huff. Ela foi enterrada em Goiânia no sábado (6), após velório que reuniu uma multidão.
Léo, filho de Mendonça, vai ter a guarda compartilhada entre o pai, Murilo Huff, e a avó, Ruth Moreira, mãe da cantora. O menino completa 2 anos em dezembro.
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