Fernanda Montenegro e Gilberto Gil. Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress
Recém-empossados e símbolos de "um novo tempo" na vetusta Academia Brasileira de Letras, Fernanda Montenegro e Gilberto Gil já chegaram à Casa de Machado de Assis rompendo com um antigo padrão. Eles optaram por não encomendar seus fardões ao alfaiate oficial da ABL, Diógenes Cardoso, que desde 2005 confecciona os trajes para os novos imortais.
Com ramos de café bordados em fio de ouro sobre cambraia verde-oliva, a vestimenta-fetiche custa R$ 80 mil nas mãos de Diógenes, e não há quem regateie. Faz parte dos muitos ritos aceitar o preço sem chiar.
Montenegro entrou oficialmente para a Academia no dia 25 de março, e Gil, na última sexta (8 de abril). Ambos trajavam modelitos feitos pelo premiado figurinista niteroiense Marcelo Pies, de 59 anos. Com óperas, peças, filmes e shows de estrelas da MPB no currículo, Pies, além do prestigio, da amizade com os novos imortais e da representatividade embutida na escalação de uma pessoa "das artes" no lugar de um costureiro profissional, também ofereceu ao cantor e à atriz algo importante: preço.
Seu fardão segue todos os padrões que a Academia impõe (não há espaço para invencionices), e custou R$ 30 mil aos bolsos dos artistas - até na hora pagar a conta, eles quebraram o protocolo. Apesar de o prefeito do Rio, Eduardo Paes, declarar publicamente que teria "o maior prazer" em bancar o traje para os dois, nada feito. "Não faz sentido onerar o poder público numa época de pandemia", alegaram.
Sobre o preço praticado, Diógenes tem uma teoria que explicaria, pelo menos em parte, o valor quase três vezes menor cobrado por Pies. "O meu fardão tem fios de ouro. O dele, eu não sei", insinua, aproveitando a deixa para informar que "Paulo Niemeyer recebe o dele amanhã".
O figurinista que vestiu Fernanda Montenegro e Gilberto Gil na ABL não é exatamente um outsider no mundo dos acadêmicos. Em 2018, ele costurou o fardão com que seu marido, o poeta e ensaísta Antonio Cicero, compareceu à cerimônia de posse da cadeira 27, sucedendo Eduardo Portella.
Possíveis candidatos a novas vagas já o procuraram, interessados em usar um traje seu, mas Pies não tem interesse em investir neste nicho. "Fiz para pessoas próximas e para os meus amigos", afirma. "O alfaiate indicado pela Academia é o Diógenes e ele faz um ótimo trabalho", contemporiza.
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