A cantora Gal Costa se apresentou no ginásio Dom Bosco, em Vitória, em 1982. Crédito: Josemar Gonçalves
Uma perda imensurável para a música brasileira. Gal Costa morreu, aos 77 anos, nesta quarta-feira (9), em São Paulo. A triste notícia, confirmada pela assessoria da cantora, deixou diversos fãs, artistas e admiradores com muita saudade. Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia prestaram homenagens à amiga nas redes sociais. A causa da morte ainda não foi revelada.
Durante sua trajetória, Maria da Graça Costa Penna Burgos, conhecida como Gal Costa, esteve no Espírito Santo algumas vezes. Uma de suas passagens emblemáticas foi em 1982, quando a cantora baiana lotou o ginásio Dom Bosco - que voltou a receber shows neste ano -, em Vitória. O show, que se chamava “Festa no Interior”, teve os sete mil ingressos esgotados e foi marcado por clássicos de sua carreira, como “Meu nome é Gal”, “Canta Brasil”, “Meu Bem” e “Vassourinha Elétrica”.
Gal Costa em apresentação no Ginásio Dom Bosco, em 1982. Crédito: Josemar Gonçalves
A apresentação em terras capixabas, no início da década de 1980, ainda teve homenagens à cantora Elis Regina, que faleceu dez dias antes do show de Gal. A artista cantou as músicas “Força Estranha” e “Amor”, emocionando o público presente no ginásio.
"Participei da produção daquele show. Me lembro que, em momentos de folga dos bastidores, pude ir para frente do palco. Achei que ela olhava para mim no meio da plateia. Fiquei intrigado com aquele olhar e perguntei para outras pessoas que tiveram a mesma impressão. Enfim, um olhar de Monalisa. Depois, experimentei o mesmo procedimento nos meus shows e sempre deu certo. Aprendi com ela", relata o músico Carlos Papel.
Em entrevista ao jornal A Gazeta, a cantora falou sobre a perda da amiga. “Fiquei muito triste, muito chocada com a morte de Elis. Acho que foi um buraco muito grande na música brasileira”, lamentou.
A cantora Gal Costa esteve no Espírito Santo em 1982. Crédito: J A Magnago
Alguns anos antes, mais precisamente em 1976, Gal fez uma apresentação memorável cantando músicas de Dorival Caymmi. "'Gal Canta Caymmi', no nosso Teatro Carlos Gomes, em 1976, quando o velho baiano se mostrou impressionado com a afinação do público capixaba, cantando todo o seu repertório", relembra o pesquisador musical Tarcísio Faustini, que, entre outras ações voltadas à cultura, apresenta o programa "Domingo Brasil" na Rádio Universitária FM.
Gal também fez outros shows dignos de serem lembrados em nosso Estado. Avançando um pouco no tempo, ela realizou algumas apresentações no início dos anos 2000 no Espírito Santo. Em 2004, por exemplo, a dona do sucesso “Baby" agitou o Teatro Glória, no Centro de Vitória.
O repertório do show contou com canções do álbum “Todas as Coisas e Eu (Indie Records), recém lançado na época, e outros clássicos da trajetória da baiana, como “Só Louco”, “Alguém Me Disse”,“Dindi” e “Paula e Bebeto”. Em entrevista ao jornal A Gazeta, a artista abriu o coração sobre a importância da bossa nova para a música brasileira.
“Na minha opinião, a bossa nova foi o movimento revolucionário mais importante na música brasileira. João Gilberto é meu mestre, assim como Tom Jobim. Sou uma cantora moderna por causa da bossa nova. Aprendi tudo com João e Tom”, disse Gal.
Gal Costa soube estar à frente das transformações musicais. Crédito: Zanone Fraissat/Folhapress
A cantora também revelou um sonho na época. “Gostaria de descobrir um novo compositor. Quero gravar boa música, seja ela inédita ou uma velha canção”, frisou em 2004. Quem diria que 14 anos depois, ela encontraria os jovens Silva e Marília Mendonça para trabalhar em canções inéditas no disco "A Pele do Futuro".
Voltando às apresentações, a baiana retornou ao Espírito Santo, em 2008, para realizar um show exclusivo para convidados durante o lançamento de um empreendimento imobiliário, na Serra, Grande Vitória. "Mamãe era fã de Gal Costa. Tinha vários LPs (me lembro com clareza da capa de 'O sorriso do gato de Alice', lá nos anos 90). Em meados de 2008, fui a um show da Gal na Serra. Sabia várias músicas, admirava aquele vozeirão. Era uma lembrança da minha infância. Fará falta", relembra o gerente de Comunicação Institucional da Rede Gazeta, Eduardo Facheti.
Em 2015, os capixabas tiveram mais uma oportunidade de assistir a eterna Gal Costa, com o show Espelho d'água. Esta foi a última apresentação de Gal Costa no Espírito Santo. A artista se apresentou no palco do Teatro Sesc Glória, em Vitória, acompanhada apenas pelo violonista e guitarrista carioca Guilherme Monteiro.
"Ela tinha uma voz absolutamente afinada. Para quem conhece a técnica, soa como um cristal, com timbre impecável. Abri o show dela aqui no Glória (em 2015), com Cecitônio Coelho e participação de especial de minha filha, Julia Nali. Depois, fiquei para ver o show, como sempre maravilhoso. Uma lição de vida e obra inesquecível. Gal é para sempre!", exalta Carlos Papel.
Gal Costa nasceu em Salvador, na Bahia, em 1945, e foi um dos grandes destaques da Música Popular Brasileira. Ao longo de seus 57 anos de carreira, a artista lançou mais de 40 álbuns e marcou a música com sucessos como "Baby", "Meu nome é Gal", "Chuva de Prata", "Meu bem, meu mal", "Pérola Negra" e "Barato total". Nesta quarta-feira, dia 9 de novembro de 2022, ficam as memórias e os momentos vividos no coração de milhares de brasileiros - e também dos capixabas. Descanse em paz, nossa diva da MPB.
*Com informações do Cedoc de A Gazeta e Gustavo Cheluje
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