João Côrtes comemora o sucesso das séries "O Hóspede Americano" e "O Passaporte para a Liberdade". Crédito: Marcos Duarte
Ele é uma máquina de "empreender", se assim podemos defini-lo. No final do ano passado, João Côrtes conversou com A Gazeta para falar sobre novos projetos, incluindo a estreia na direção de cinema, com o sensível e elogiado drama "Nas Mãos de Quem Me Leva", disponível em VOD nas plataformas digitais.
Não é que o ator, diretor e roteirista engatou nos "220 Volts" e traz mais novidades, tanto que topou dar outra entrevista só para falar de projetos em andamento, como a série cômica "Encantados", da Rede Globo, e mais duas produções em que atua em inglês: "Rio Connection", parceria da emissora carioca com a Sony, e "The Journey", coprodução Brasil/EUA, gravada para uma plataforma de streaming. Espere vê-lo muito nas telinhas em 2023.
Fluente no idioma britânico, o ator já havia interpretado em lingua estrangeira nas séries "Passaporte para Liberdade", disponível na Globoplay, e "O Hóspede Americano" (veja o trailer abaixo), superprodução em cartaz na HBO Max.
Pensa que acabou? Côrtes também é um dos roteiristas de um filme gravado para a Netflix, "Depois do Universo", e marca presença na série "Sala dos Professores", do Cine Brasil TV. Haja fôlego!
Com tantos projetos gringos, fomos logo perguntando se ele não tinha interesse em trabalhar em Hollywood. "Estava em meus planos até antes de surgirem os projetos em língua estrangeira. Hollywood sempre foi um sonho. Estou há quase dez anos construindo uma carreira como ator aqui no Brasil, e, nos últimos anos, trabalhos com coproduções internacionais tem sido cada vez mais comuns. E a ideia é estabelecer uma base em Los Angeles ainda esse ano", afirma, ambicioso.
Abaixo, veja trechos do bate-papo. Vem com a gente!
Como está sendo a repercussão de "Passaporte Para Liberdade", série do Globoplay em que você atua em inglês, interpretando Wilfried Schwartz, um militar nazista? Como se preparar para atuar em outro idioma?
Tem sido uma repercussão maravilhosa. Esse é um trabalho que me dá um orgulho danado. As pessoas me escrevem no Instagram para compartilhar o quanto se sentiram tocadas e o quanto o personagem mexeu com eles. Outro dia encontrei um amigo ator nos estúdios Globo, que fez questão de me elogiar (por "Passaporte para Liberdade"), dizendo que passou a me enxergar em "outro lugar" como ator depois disso. Fez meu dia. No aspecto do idioma, esse trabalho me trouxe dois desafios bem interessantes: o inglês e o sotaque alemão nativo. Isso transformou totalmente a minha maneira de enxergar a língua inglesa, foi quase como reaprender a falar. Cada sílaba e cada palavra são pronunciadas de forma diferente. Estudei bastante, durante meses, até me sentir seguro. Quando o texto se naturalizou em mim, o sotaque só potencializou minha performance.
Com tantos projetos em língua estrangeira, não está em seus planos tentar uma carreira fora do país? Hollywood é um sonho possível?
Estava nos meus planos até antes de surgirem os projetos em língua estrangeira. Hollywood sempre foi um sonho. Estou há quase dez anos construindo uma carreira como ator aqui no Brasil, e, nos últimos anos, trabalhos com coproduções internacionais têm sido cada vez mais comuns:. Desde "O Hóspede Americano", "The Journey", "Passaporte para Liberdade" até, mais recentemente, "Rio Connection", sinto que cada trabalho me fortalece para dar continuidade a minha carreira lá fora. A ideia é estabelecer uma base em Los Angeles ainda esse ano.
Por falar em “Rio Connection”, você interpreta Alberto, um diplomata brasileiro que se alia à máfia italiana, tornando-se peça chave no tráfico de drogas no Rio de Janeiro dos anos 1970. Foi um personagem complexo, não?
Alberto Martim foi um "presentaço" de 2021. Talvez o personagem mais saboroso, em termos de personalidade e de oportunidade, para mostrar outros lados meus como ator. Foi um salto enorme, mas em um projeto muito bem cuidado, cercado de artistas talentosos. Alberto é um diplomata que se envolve com a máfia e vira um elemento essencial para o escoamento de heroína que acontecia no Brasil dos anos 1970. É um personagem irreverente, caótico, mas também muito confiante e carismático. É um bon-vivant, um Don Juan e um Coringa, tudo ao mesmo tempo. Alberto é um prato cheio pra um ator, ainda mais em um roteiro tão bem escrito quanto esse.
João Côrtes emocionou em "Passaporte para a Liberdade" ao viver um militar nazista. Crédito: Rede Globo
Como é voltar à Rede Globo com "Encantados", uma comédia tipicamente carioca?
Nós ainda estamos no processo de filmagem e faltam três semanas para finalizar. Está sendo uma jornada linda, de muita troca e aprendizado. E muitas risadas! É uma série de comédia com um humor mega inteligente, sarcástico, perspicaz... Um texto extremamente bem escrito de Thais Pontes, Renata Andrade, Chico Mattoso e Antonio Prata, com uma direção ultrassensível de Henrique Sauer e um elenco de "super-heróis". Sou fã absoluto de todos ali. E isso faz toda a diferença. Meu personagem é o Celso Tadeu, uma figura carismática que - durante o dia - trabalha no supermercado Encantados como anunciante dos produtos, sempre usando uma voz de locutor empostada. Como se já não fosse divertido o suficiente, ele ainda usa patins pra se locomover pelo mercado. E, de noite, quando o mercado vira escola de samba, Celso é o coreógrafo da comissão de frente. Ele tem o sonho de ser artista da Broadway, de performar pelos palcos do mundo. Celso tem sido um processo de muita cura para mim, em muitas camadas, mas principalmente por ser o único personagem da comunidade LGBTQIAP+ da série... Por enquanto.
Você também está envolvido em um projeto da Netflix, "Depois do Universo", em que colabora no roteiro. O filme marca a estreia de Giulia Be na carreira de atriz e também conta com o brasileiro Henry Zaga, de "Os Novos Mutantes". A expectativa está grande, não?
A história é tocante! No longa, a talentosa pianista Nina (Giulia Be) precisa superar os desafios de lidar com o lúpus, uma doença autoimune que pode atacar qualquer parte do corpo - o rim, no caso dela. Ela é surpreendida por uma forte conexão com Gabriel (Henry Zaga), um dos médicos da equipe que a atende, que irá ajudá-la a superar suas inseguranças na luta para tocar nos palcos. Tudo aconteceu em 2020, no auge da pandemia da Covid-19, em que Diego Freitas, diretor e roteirista do filme, grande amigo meu, me convidou pra colaborar no roteiro. E eu, com muito prazer, aceitei. Acho a história linda, muito emocionante, e muito bem escrita. Em breve, o filme estreia na Netflix. Ele ainda conta com uma trilha sonora belíssima composta pelo meu pai, Ed Côrtes.
O que você pode adiantar sobre "The Journey", coprodução Brasil-EUA, gravada para uma plataforma de streaming, e "Sala dos Professores", do Cine Brasil TV?
Foram dois projetos que filmei em 2019, um após o outro. "The Journey" foi filmado quase inteiramente no Sul do Brasil, em inglês e português. Foi a primeira vez que fiz um projeto assim. Meu personagem é o Joel, um youtuber/influencer famoso, que, por conta do sucesso, se torna arrogante e acaba tendo que rever seus conceitos. Em "Sala dos Professores", dou vida a Daniel, um jovem professor de literatura que acaba de entrar para o colégio e se envolve com outra professora, interpretada pela Carol Borelli. O que me atraiu para esse projeto foi a linguagem, a maneira como foi idealizada. Existe uma quebra da quarta parede, uma câmera documental, bem inspirado em shows como "The Office", "Brooklyn Nine-Nine" e "Parks and Recreation". Isso dá uma nova perspectiva para a performance, um novo universo de possibilidades.
Você esperava o sucesso da série "O Hóspede Americano", uma das produções brasileiras mais assistidas da HBO Max?
Filmar "O Hóspede Americano" foi uma montanha russa de emoções. Ficamos 50 dias na Amazônia e depois mais uns 15 na Chapada dos Guimarães, em uma produção gigantesca, com uma equipe fantástica e um elenco brilhante. A série foi muito elogiada e adoro rever para lembrar de tudo que vivemos. Tive a honra de estar em uma história baseada em uma expedição verdadeira de 1914, interpretando o primeiro documentarista brasileiro da história, braço direito do Marechal Rondon. Além disso, ganhei de presente essa troca riquíssima com atores do mundo todo. Contracenar com Aidan Quinn (que interpretou Theodore Roosevelt) foi um aprendizado incrível. Assistir o processo dele, a técnica, a profundidade do estudo do personagem e a seriedade com que encara o trabalho. É inspiração "na veia". Nunca me esqueço de um momento especial. Estávamos em um dia de folga, muito cansados da maratona de filmagens intensas, bebendo um vinho na piscina do hotel. E, em um momento de descontração, eu me viro pra ele e pergunto: "Aidan, qual é o segredo da felicidade?" Ele se virou, abriu um sorriso caloroso, e respondeu: "Meditação".
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