Ludmilla pede 'L' de Lula em show da Virada Cultural. Crédito: Thenews2/Folhapress
Ludmilla enfrentou falhas técnicas que a levaram a interromper sua apresentação duas vezes neste domingo de Virada Cultural em São Paulo.
A primeira, logo depois de ter subido ao palco da Freguesia do Ó com meia hora de atraso, arruinou a entrada triunfal ao som de "Cheguei", mas não tirou o charme da apresentação, que Ludmilla encerrou com a música "Onda Diferente", cantando que "a favela chegou", e pedindo à plateia para fazer o "L".
Bem que este "L" poderia ser uma referência ao próprio nome, mas a cantora saiu de cena com o telão do palco se alternando entre as cores vermelho e branco, as mesmas do Partido dos Trabalhadores, o PT.
A própria cantora, porém, não fez o "L". Ela tampouco citou o nome do candidato do PT à presidência da República. Não mencionar o ex-presidente tem sido uma tônica da Virada Cultural. Seja por escolha, seja por medo de serem acusados de fazer propaganda eleitoral antecipada, como ocorreu com Pabllo Vittar no Lollapalooza, a maioria dos artistas evitaram declarar apoio explícito a Lula.
A legislação não proíbe manifestação política de nenhum cidadão. A lei impede a realização de showmícios, que são eventos que fazem parte da campanha de um candidato, mas eles podem se manifestar nas redes sociais, durante entrevistas, em apresentações individuais ou em festivais como a Virada Cultural.
Política à parte, Ludmilla soube dar a volta por cima depois de o microfone ter parado de funcionar. Primeiro, tentou ignorar a falha técnica e dar continuidade ao ato de abertura da apresentação com "Cheguei", mas o som, além de estar repleto de ruídos, não chegava a quem assistia à apresentação do fundo da praça Dollmann, o que correspondia à maior parte do público.
A plateia, que tinha ensaiado um coro de "Bolsonaro, vai tomar no cu", deixou o presidente de lado e, tão indignada quanto diziam estar com o presidente, começou a protestar contra a produção do festival, questionando "cadê o som" e pedindo aos gritos que aumentassem o volume.
Ludmilla então saiu de cena e, dez minutos depois, voltou empilhando hits, uma estratégia esperta para reconquistar o público. A sequência de "Bom", um de seus primeiros sucessos, "Favela Chegou", sua parceira com Anitta, e "Verdinha", sua ode à maconha, fizeram o público cantar e dançar até mesmo do alto das árvores.
Com "Socadona", a cantora deixou o funk de lado para dedicar o segundo ato da apresentação ao samba e ao pagode. É verdade que a animação do público diminuiu, mas ninguém a deixou cantando sozinha.
Sucesso, afinal, não falta a Ludmilla. O que lhe fez faltou, como para boa parte dos cantores que se apresentaram nos palcos mais distantes do Centro, como ocorreu com Glória Groove na zona leste, foi estrutura.
Parte de seu atraso para dar início à apresentação, aliás, foi por conta disso. Alguns espectadores se empurravam em frente ao palco enquanto outros subiam em cima de muros e árvores, correndo risco de se acidentarem. A apresentadora precisou ameaçar que Ludmilla não começaria o show enquanto o empurra-empurra não parasse e todos estivessem com os pés bem firmes no chão.
É compreensível, no entanto, por que os jovens com força suficiente estivessem escalando as paredes. É que a maior parte do público não tinha vislumbre algum da cantora ou até mesmo do palco, já que uma estrutura metálica com caixas de som impedia por completo a visão.
Ludmilla bem que tentou, mas esta era uma falha que ela não tinha como driblar. Sorte que apenas sua potência vocal foi o suficiente para levar a plateia ao êxtase e comprovar a importância do funk para a Virada Cultural.
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