Pabllo Vittar durante show na Parada do Orgulho LGBTQIA+ de 2022, em São Paulo. Crédito: Eduardo Knapp/Folhapress
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foi entre uma Pabllo Vittar e uma Daniela Mercury que a Parada do Orgulho LGBTQIA+ fez ecoar pela avenida Paulista o discurso político deste ano.
Sob o mote "Queremos políticas sociais para LGBT+ por inteiro e não pela metade", o desfile anual chegou à 27ª edição com um respiro depois da transição de governo recente -de uma cúpula chefiada por Jair Bolsonaro, afeito a discursos homofóbicos, para uma que criou um conselho nacional de assuntos LGBTQIA+.
Era o que se ouvia nas ruas e também de cima dos trios, entre os militantes as figuras icônicas da comunidade que comandavam o trajeto da Paulista e a rua da Consolação.
"Esse ano temos ainda mais motivos para celebrar e nos orgulharmos. Vai ser uma Parada diferente, mais leve", disse a cantora Urias na véspera de seu show no evento.
"Com a mudança do governo, quem vai na Parada hoje se sente mais seguro para se expressar."
Grag Queen, brasileira que desbancou uma seleção de drags estrangeiras para vencer o reality Queen of the Universe, concorda.
"Depois de anos de retrocesso, em termos de governo, a gente vai ter um respiro e mais coisas para comemorar", afirmou.
Do chão, o ator Bruno Fagundes, que foi acompanhado do elenco da peça queer "A Herança", que ele apresenta em São Paulo, também disse que o medo agora era menor, com a ressalva de que o Brasil ainda é um país hostil para os LGBTQIA+.
"Precisamos celebrar nossa vida e lutar por direitos. Eu lutei até me sentir confortável sendo eu mesmo e, assim, eu espero incentivar, estimular, inspirar pessoas a fazer o mesmo", acrescentou.
Por isso o mote deste ano aparecia de forma recorrente nos alto falantes dos 19 trios do evento. A normalização de corpos trans, o apoio a refugiados LGBTQIA+ e empregabilidade eram alguns dos temas nos discursos dos anfitriões de cada carro.
Aqueles pertencentes à APOLGBT, associação que organiza o desfile, eram os mais comprometidos com as demandas, enquanto os trios patrocinados, que carregam as grandes atrações musicais, suavizavam o embate com coros musicais alegres.
Não houve, nesses carros, recados políticos muito contundentes ou que passassem do lugar-comum da aceitação e do respeito.
Pabllo, atração mais aguardada da avenida, enfileirou hits e levou o público ao delírio, embora não tenha buscado fôlego entre uma canção e outra para bradar politicagem, como fez com frequência nas últimas eleições.
O público não ligou, e se juntou à sua coreografia frenética do começo ao fim. Quem também levou os manifestantes a uma espécie de êxtase foi Daniela Mercury, outro destaque da programação.
A cantora chamou a mulher ao trio e a beijou, como que para consagrar seu casamento diante dos milhares ali presentes.
"Hoje a gente luta por direitos nessa Parada importantíssima. Que o nosso amor inspire as pessoas a lutarem. Vamos acolher todos até que as famílias entendam que ninguém é melhor que ninguém. E quem é ruim é o opressor", afirmou.
Divas do passado também se fizeram presentes em homenagens. Luis Maurício, fundador do grupo Palco dos Bonecos, atraiu flashes incessantemente com sua fantasia de Rita Lee, com direito a cobra no ombro e cordão de Nossa Senhora Aparecida.
Já o chefe de cozinha Rey Perez preferiu homenagear Gal Costa, que recebia aplausos e gritos fortes sempre que ele abria a cartolina preenchida com fotos da cantora.
Luta, diversão e sexo convergiram no mix de festa e ato político que é a Parada. Os looks dos presentes faziam uma boa síntese do que é o evento.
Brincos em formato de pênis e vulva se mesclavam às bandeiras de cada letra da sigla LGBTQIA+, usadas como kimomos, bandanas, abadás, capas, cintos ou saias. Looks translúcidos e com motivos fetichistas se alternavam com camisetas que demandavam direitos e, com bastante frequência, era possível ver o rosto da vereadora Marielle Franco numa peça ou outra.
Libertação sexual, afinal, está no cerne da luta LGBTQIA+, e modelitos, danças e beijos faziam do sexo instrumento político, como todo ano, a despeito do conservadorismo que prega que uma coisa é incompatível com a outra.
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