Péricles transformou em música feita especialmente para o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Crédito: Divulgação Rodolfo Magalhães
‘Olho espelho/E não me vejo/Não sou eu/Quem lá está’. Esses são os primeiros versos do poema “Eclipse”, de Carlos de Assumpção, que Péricles transformou em música feita especialmente para o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
Comparado por críticos e estudiosos a grandes nomes da poesia, como Castro Alves e Carlos Drummond de Andrade, Carlos de Assumpção é ícone da representatividade da cultura e da luta da população negra brasileira contra o racismo e todas as suas formas de preconceito e opressão.
Considerado um dos pioneiros da literatura afro-brasileira o poeta, um dos últimos elos vivos entre a escravidão e os dias atuais, cresceu ouvindo histórias do tempo da escravidão contadas pelo seu avô, beneficiário da lei do ventre livre. Sua obra transcende tempo e espaço e expõe em versos e prosas a dura realidade dos negros no país. Mesmo com a grandeza da sua obra, Carlos é considerado o ‘poeta invisível’, uma vez que seu trabalho não é conhecido e reconhecido como deveria.
“A história de um homem extraordinário como a do Carlos de Assumpção era para ser conhecida por todos nós brasileiros. Era para ser ensinada nas escolas, assim como é feito com outros autores igualmente importantes para a história do nosso país. Espero que através dessa homenagem, seus poemas ecoem pelos quatro cantos do Brasil e as pessoas descubram essa joia, essa raridade chamada Carlos de Assumpção. Foi emocionante ter a oportunidade de musicar um dos seus poemas”, declara Péricles.
No início de novembro Péricles viajou até Franca para conhecê-lo pessoalmente. O poeta o recebeu na Casa de Cultura de Franca e o bate-papo entre eles transformou-se em um Mini Doc. A música, o Lyric Vídeo e o Mini Doc estarão disponíveis em todas as plataformas de streaming e no YouTube a partir do dia 18 de novembro.
O POETA INVISÍVEL
Carlos Assumpção nasceu em 1927 em Tietê (SP) e radicou-se em Franca, adotando a cidade como ponto de resistência e produção para sua vasta obra literária. Entendedor da força da palavra, o poeta é um ícone na obra de resistência negra no Brasil. Ele
Ele é neto de Cirilo Carroceiro, que deixou de ser escravizado pela Lei do Ventre Livre (1871). O avô, analfabeto, era quem contava histórias testemunhais sobre a escravidão, as marcas desse período e servia de contraponto para o garoto que lia uma história diferente nos livros didáticos. O pai de Carlos Assumpção também era analfabeto, mas tinha habilidade na palavra contada. A mãe dele era alfabetizada, amante da poesia e trabalhou como cozinheira e ainda lavava roupa para fora.
Carlos de Assumpção é ícone da representatividade da cultura e da luta da população negra brasileira. Crédito: Divulgação Eduardo Galeno
Sua formação foi construída com pilares para entender o mundo a sua volta e o que familiares e tantos outros negros sofreram no passado e ainda vivem hoje. Na idade adulta, conseguiu formar-se em Direito e Letras e ainda trabalhou como professor para crianças ao estudar o então chamado curso Normal. Críticos, estudiosos e outros poetas igualam Carlos Assumpção a nomes como Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gular. O poeta já é parte da história da literatura e protagonista na atual construção da poesia no século XXI.
Mesmo com a grandeza da sua obra, Carlos é considerado “poeta invisível”, uma vez que seu trabalho não é conhecido como deveria. Com 95 anos, ele usa os meios digitais para ajudar espalhar suas palavras e poesias. Com seu número de WhatsApp, dispara seus poemas para a lista de contatos e enche o dia com uma mensagem verdadeira, comprometida e autoral de quem sabe atuar a favor da resistência para a vida.
OBRAS
Apesar de ser um decano da literatura afro-brasileira, Carlos de Assumpção estreou em publicação individual somente em 1982, aos 55 anos, com o livro “Protesto”.
Nas décadas seguintes lançou mais quatro volumes de poemas (“Quilombo”, 2000; “Tambores da Noite”, 2009; “Protesto e Outros Poemas”, 2015; “Poemas Escolhidos”, 2017).
Já a obra “Não Pararei de Gritar” reúne sua poesia completa: os cinco livros mais outros nove poemas inéditos, escritos entre 2018 e 2019.
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