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Publicado em 8 de julho de 2022 às 08:18
Rodrigo Santoro não ficou completamente entediado nos primeiros meses da pandemia, quando os sets de filmagem estavam fechados. Ao longo de nove meses, ele teve a companhia de alguém morto há 500 anos, o navegador português Fernão de Magalhães, para se distrair.
Pouco antes de a quarentena começar, no finzinho das filmagens de seu último longa, "7 Prisioneiros", Santoro havia sido convidado para participar de "Sem Limites". Com a interrupção da indústria por causa da doença, as filmagens da série foram sendo adiadas incessantemente, o que deu ao ator a possibilidade de fazer um mergulho completo na biografia do personagem.
É com certa paixão que ele fala de Fernão de Magalhães --não em tom de admiração, mas como um amigo que sente uma conexão íntima com o outro. "Eu fiquei literalmente confinado com ele durante a quarentena", conta Santoro.
"Antes, só lembrava que ele havia sido um navegador. Mas aí decidi explorar a intimidade de quem foi esse homem e li até demais. Li tudo o que existe na internet, de discussões de filósofos a reconstituições de expedições, assim como duas biografias e muito sobre o contexto da época. Eu queria entrar na cabeça de um homem de 1500."
Santoro pesquisou tanto que descobriu até detalhes da infância do português, por meio de documentos não digitalizados e conversas com uma historiadora que prepara um livro sobre Fernão de Magalhães, um homem que se sentia negligenciado pelo rei.
"Ele vem do ressentimento, do orgulho ferido, e cresce se sentindo abandonado, precisando provar para o mundo e para si próprio que tem valor."
Uma produção espanhola, "Sem Limites" conta a história da primeira circum-navegação do globo, em 1519, a serviço dos espanhóis. Liderada por Fernão de Magalhães, que não havia conseguido patrocínio do rei português, e por Juan Sebastián Elcano --Álvaro Morte, de "La Casa de Papel"--, a empreitada descobriu uma nova rota para o comércio de especiarias e provou que a Terra é redonda.
Por ser brasileiro, Santoro tomou cuidado para não romantizar a época das grandes navegações, já que delas saiu a exploração das Américas e incontáveis horrores. Para o ator, foi interessante trabalhar em "Sem Limites" porque pôde notar como pouco mudou na estrutura da sociedade brasileira de lá para cá.
"A colonização não acaba quando os portugueses partem. A mentalidade implantada aqui é tão forte que eles partem e nós continuamos colonizando uns aos outros."
"Infelizmente, nós ainda vivemos o fruto dessa violência colonial. É uma das questões que nos ajudam a entender o momento atual do país. A gente acabou de ver uma tragédia, com a morte do Bruno Pereira e do Dom Phillips. Olhar para isso é desesperador. É preciso ter esperança, mas está difícil, muito difícil", continua, na conversa que aconteceu dias após a confirmação do assassinato do indigenista brasileiro e do jornalista britânico.
Mas Santoro parece ansioso para voltar a falar da série, trabalho que ele compara a grandes produções de Hollywood, com suas cenas marítimas grandiosas, ação inquietante e uma direção de arte atenta aos detalhes. A direção é de um britânico, Simon West, de "Tomb Raider".
Com ele e os produtores, Santoro encampou uma briga ferrenha, na qual defendeu que seu Fernão de Magalhães deveria falar português em alguns momentos. Eles não queriam, por padronização, mas foram convencidos.
O ator, então, precisou sair da zona de conforto em dose dupla --não apenas teve de aprender a falar o português europeu, como também o castelhano, já que o espanhol que sabia era carregado de sotaque latino-americano. "Puxaram meu tapete, mas era preciso respeitar a história", diz.
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